domingo, 14 de novembro de 2010

PJ SHOW DEUS NEGRO


Eu,
Cheio de preconceitos, racista!
Eu,
Com falsos conceitos, neo-nazistas!
Eu,
Detestando pretos.
Eu,
Sem coração...
Eu,
Perdido num coreto gritando: “Separação!”
Eu,
Você,
Nós... Nós todos,
Cheios de preconceitos,
Fugindo como se eles carregassem lodo
Lodo na cor... E com petulância, Arrogância, afastando a pele irmã
... Mas... Estou pensando agora:
E quando chegar minha hora???
Meu Deus, se eu morresse amanhã,
De manhã???
Numa viagem esquisita,
Entre nuvens feias e bonitas,
Se eu chegasse lá?
E um porteiro manco,
Como os aleijados que eu gozei,
Viesse abrir a porta,
E eu reparasse sua vista torta,
Igual àquele que eu critiquei?
Se sua mão tateasse pelo tronco,
Como as mãos do cego que não ajudei?
Se a porta rangesse,
Chorando os choros que eu provoquei?
Se uma criança me tomasse pela mão,
Criança como aquela que não embalei...?
E me levasse por um corredor florido, colorido,
Como as flores que eu jamais dei?
Se eu sentisse o chão frio,
Como dos presídios que não visitei?
Se eu visse as paredes caindo,
Como das creches e asilos que não ajudei?
... E se a criança tirasse corpos do caminho,
Corpos que eu não levantei
Dando desculpas que eram bêbados, mas eram epilépticos,
Que era vagabundagem, mas era fome!
E se, mas pra frente a criança cobrisse um corpo nu,
Da prostituta que eu usei,
Ou do moribundo que eu não olhei,
Ou da velha que eu não respeitei,
Ou da mãe que eu não amei...?
Corpo de alguém exposto,
Jogado por minha causa,
Porque não estendi a mão,
Porque no amor fiz pausa
E dei, sei lá, só dei desgosto.
E, no fim do corredor, o inicio da decepção!
Que raiva que desespero, se visse o mecânico, o operário,
Aquele vizinho, o maldito funcionário.
E até, até o padeiro,
Todos sorrindo não sei de que...
Ah! Sei sim, riem da minha decepção.
Deus não está vestido de ouro
Mas como???
Está num simples trono.
Simples como não fui,
Humilde como não sou.
Deus decepção!
Deus na cor que eu não queria,
Deus cara-a-cara, face-a-aface
Sem aquela imponente classe
Deus simples!
Deus negro!
Deus negro!
E eu... Racista,
Egoísta, e agora???
Na terra só perseguir os pretos,
Não aluguei casa, não apertei a mão.
Meu Deus você é negro, que desilusão.
Será que vai me dar uma morada?
Será que vai apertar minha mão?
Que nada!
Meu Deus você é negro, que decepção!
Não dei emprego, virei o rosto.
E agora? Será que vai me dar um canto,
Vai me cobrir com seu manto? Ou vai me virar o rosto no embalo da bofetada que dei???
Deus, eu não podia adivinhar,
Porque você se fez assim?
Porque se fez preto,
Preto como o engraxate,
- Aquele que expulsei da frente da casa.
Deus, pregaram você na cruz.
E você me pregou uma peça,
Eu me esforcei a beça
Em tantas coisas, e cheguei até a pensar
Em amor,
Mas nunca,
Nunca pensei em adivinhar sua cor!

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