sexta-feira, 26 de novembro de 2010

02- OS MELHORES MOMENTOS XXXIIIADPJ2010-PARTE 2

PJ SHOW A DESPEDIDA DE EDY DA ASSESSORIA DA PJ DA DIOCESE DE ILHÉUS NO DIA 20/11/2010





A DESPEDIDA DE EDY DA ASSESSORIA DA PJ DA DIOCESE DE ILHÉUS NO DIA 20/11/2010 NA
XXXIII ADPJ- EM UBAITABA-BA

QUERO AGRADECER A TODOS(AS) PJOTEIROS (AS) QUE FIZERAM E FAZEM ESCREVER ESTA LINDA HISTÓRIA DE AMOR PELA PASTORAL DA JUVENTUDE AO LONGO DESTE 19 ANOS DE VIDA, LUTA, EVANGELIZAÇÃO E MISSÃO PELO PROTAGONISMO JUVENIL E PELA OPÇÃO DOS JOVEM.




OBRIGADO POR TUDO QUE DEUS ILUMINE OS PASSOS DESTE PJOTEIROS QUE CAMINHAM EM BUSCA DE NOVA VIDA.



EDY
ASSESSOR DA PJ DE IOS
18/05/1991 A 20/11/2010

terça-feira, 23 de novembro de 2010

JUVENTUDE ANTENADA- AGENDA DIOCESANA DA PASTORAL DA JUVENTUDE DA DIOCESE DE ILHÉUS 2011



JUVENTUDE ANTENADA
AGENDA DIOCESANA DA PASTORAL DA JUVENTUDE DA DIOCESE DE ILHÉUS 2011

1. 22 a 23/01/2011-REUNIÃO DE COORDENAÇÃO DIOCESANA- CAMAMÚ
2. 25 a 27/03/2011- I AMPLIADA- WG
3. 13 a 15/05/2011- SEMINARIO DIOCESANO- ITAPITANGA
4. 15 a 17/07/2011- II AMPLIADA-ZONAL CENTRO NORTE
5. 09 a 11/09/2011- ENCONTRO COM ASSESSORES- CAMAMÚ
6. 18 a 20/11/2011- ASSEMBLEIA DIOCESANA DA PJ-MARAÚ/BARRA GRANDE OU ITACARÉ

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

JUVENTUDE ANTENADA- Assembléia Diocesana DA PJ DA DIOCESE DE ILHÉUS- UBAITABA-BA 19 a 21 de novembro de 2010






HOJE 19 DE NOVEMBRO, NA CIDADE DE UBAITABA-BA, ESTA SENDO REALIZADO A XXXIII ASSEMBLÉIA DIOCESANA DA PASTORAL DA JUVENTUDE DA DIOCESE DE ILHÉUS, COM ABERTURA DA MÍSTICA DOS DISCÍPULOS EMAÚS, ONDE JOVENS BUSCA O VERDADEIRO CAMINHO FAZENDO SUA HISTÓRIA AINDA MAIS REAL E AUTENTICA NA DIOCESE, NO SUB, NO REGIONAL E NO BRASIL.
MINHA PJ, MINHA VIDA, VENHA... CONHEÇA E AME!!!

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

JUVENTUDE ANTENADA- Assembléia Diocesana DA PJ DA DIOCESE DE ILHÉUS- UBAITABA-BA 19 a 21 de novembro de 2010




ALÔ! Amados Pjoteiros e Pjoteiras!! É com muita alegria que convidamos nossas lideranças para a nossa Assembléia Diocesana.

Data: 19 a 21 de novembro de 2010

Inicio: 18:00h do dia 19/11/2010 (sexta-feira)

Local: Paróquia Santo Antônio/ Ubaitaba.

Como Chegar no local do encontro: Praça Santo Antônio, s/n – Centro, Ubaitaba.

• Quem participa – Coordenação zonal, paroquial e de grupos, assessores paroquiais, zonais, diocesanos e membros de grupos.

• Taxa: R$ 15,00 (QUINZE REAIS).

• Contribuição Confraternização: 5,00 (cinco reais)

• O que levar: Bandeiras da PJ, camisas da PJ, Oficio Divino da Juventude, Bíblia, colchão, roupa de cama, material de higiene pessoal.


“A vida só pode ser entendida olhando-se para trás. Mas só pode ser vivida olhando-se para frente” S. Kierkegaard

Contatos para a Assembléia Diocesana:
Kássio: 073/88195090 ; 073/81565324 ; 073/99555662 , Gilvando: 073/99964822 e Ivan: 073/88530146


“Conheço a boa-vontade de vocês e por causa dela me orgulho” (2 Cor9,2)

JUVENTUDE ANTENADA- o que é ser PJ? NO GRUPO DE JOVENS




O QUE É SER PJ?
Kassio Soares da Pastoral da Juventude da Diocese de Ilhéus
Será que tem como definir o que é ser PJ?
PJ, não é só um nome, um grupo de jovens, ser pjoteiro(a) vai muito alem disso, é assumir uma identidade, um modo de vida diferente, é lutar por ideais, é se dedicar com algo que nem sempre é pra você, discutir, insistir naquilo que você não acha certo, é lutar por igualdade, contra injustiças, é ir em busca do reino de DEUS, é evangelizar outros jovens, é crer nos mártires que morreram por ideais, e buscar a construção da civilização do amor e ver que no nosso JEITO DE SER, CRER E VIVER A JUVENTUDE FAZ A VIDA ACONTECER.
O evangelho de São Lucas diz “O Espírito do Senhor está sobre nós, consagrou-nos com a missão de levar a Boa Nova aos pobres, proclamar a libertação aos presos e aos cegos a recuperação das vistas, libertando os oprimidos e proclamando o ano de Graça do Senhor.” (Lucas 4, 18-19), por nosso povo machucado meus irmãos e irmãs da Pastoral da Juventude que nos acreditamos num evangelho libertador assim PJ “Comece fazendo o que é necessário, depois o que é possível, e de repente você estará fazendo o impossível.” (São Francisco de Assis), porque como disse PAULO VI “ o jovem é o melhor apóstolo do próprio jovem”, então vamos construir esta civilização do amor e anunciar o evangelho libertador de JESUS CRISTO por “felizes os que promovem a paz: eles serão chamados filhos de DEUS” (Mt 5,9).
Um grande abraço a todos os pjoteiros e pjoteiras de toda à DIOCESE DE ILHÉUS.
“PUSEMOS A NOSSA ESPERANÇA EM DEUS VIVO” (1Tm 4,10)
“CREMOS POR ISSO LUTAMOS”
Na ultima postagem esqueci de referenciar a citação o nome do autor. Kassio Soares da Pastoral da Juventude da Diocese de Ilhéus

terça-feira, 16 de novembro de 2010

JUVENTUDE ANTENADA- Assembléia do Sub IV,Diocese de Teixeira de Freitas/ Caravelas (cidade de Teixeira de Freitas/BA.)10 a 12 de Dezembro de 2010






Assembléia do Sub IV, será realizado nos dias: 10 a 12 de Dezembro de 2010, na Diocese de Teixeira de Freitas/ Caravelas (cidade de Teixeira de Freitas/BA.), com Tema: “Juventude: Metodologia Pastoral, Vivendo e Revendo nossa História”. Assessoria de Cláudia - Assessora Regional da PJMP. Taxa de inscrição: R$ 20,00
IMPORTANTE: Participantes: 3 coordenadores e 2 assessores por diocese, quais dioceses articuladas: Diocese de Teixeira de Freitas, Diocese de Ilhéus e Diocese de Eunápolis, mais teve as presenças de convidados: 2 Diocese de Amargosa e 2 Diocese de Itabuna.
RESPONSABILIDADES: Divisão dos Comes e bebes/ Materiais da Assembléia:
*Diocese de Teixeira
Salgados;
Queijo c/ presunto;
Folhas de canto e ornamentação.
*Diocese de Eunápolis
Doces em geral, em compota também;
Pastas e Bloco de anotações.
*Diocese de Ilhéus
Refrigerantes e vinho;
Crachás.
*Jair:
Canetas.
NOITE DE SOCIALIZAÇÃO: Festa a Fantasia com Amigo Secreto.

JUVENTUDE ANTENADA- CATOLICIDADE: comunhão dos diferentes seguidores do Cristo



Hildete, Secretária Nacional da PJ
Estou no Rio de Janeiro vivenciando momentos de muita graça de Deus e esperança na Igreja e na Juventude!
Coordenadores estaduais do Ministério Jovem da Renovação Carismática Católica estão reunidos esta semana refletindo, rezando e planejando a Evangelização da Juventude brasileira para os próximos anos.
Neste espaço, no meio desta tribo católica, acolhemos ontem a jovem Hildete, secretária nacional da Pastoral da Juventude! Uma baiana bem "arretada", hehehe!!!
Vejam só o que aconteceu: UMA JOVEM LÍDER DA PJ FALANDO PARA JOVENS LÍDERES DA RCC.


Isto é Histórico: Márcio Zolin (Coordenador Nacional do ministério Jovem da RCC) e Hildete Emanuelle (Secretária Nacional da PJ) de MÃOS DADAS! Faz-me crer na possibilidade de uma Igreja realmente aberta, plural, acolhedora e realmente afirmadora de sua CATOLICIDADE.


Márcio Zolin (MJ RCC) e
Hildete Emanuelle (PJ)

Ser católico é ser universal... A universalidade da Igreja implica que ela esteja em todos os ambientes e falando a partir de todas as culturas e sub-culturas. Ora... Num mundo pluri-cultural, no qual emergem diversas manifestações tribais juvenis, uma Igreja que apresente um único modelo eclesial não dá mais conta de toda a realidade..



Final da Ciranda, dançada pelos
jovens da RCC

Ao mesmo tempo, tribos católicas em guerra JAMAIS serão expressão do Evangelho de Jesus Cristo.


Parabéns aos jovens do Brasil por este passo dado rumo à unidade sem uniformizações, reconhecendo a beleza de expressões tão diversas e que, por décadas, estiveram em guerra em nossas comunidades. Foi lindo ver o que ocorreu neste encontro! Vi a Igreja verdadeiramente Católica se expressar na ciranda pela vida!

domingo, 14 de novembro de 2010

MURAL DO PJOTEIRO- VIDA E SONHOS- AGUSTO CURY





SEM SONHOS, A VIDA NÃO TEM BRILHO.
SEM METAS, OS SONHOS NÃO TEM ALICERCE.
SEM PRIORIDADES, OS SONHOS NÃO SE TORNAM REAIS, SONHE, TRACE METAS, ESTABELEÇA PRIORIDADE E CORRA RISCO PARA EXECUTAR SEUS SONHOS.
MELHOR É ERRAR POR TENTAR DO QUE ERRAR POR SE OMITIR! NÃO TENHA MEDO DOS TROPEÇOS DA JORNADA. NÃO SE ESQUEÇA DE QUE VOCÊ, AINDA QUE INCOMPLETO, FOI O MAIOR AVENTUREIRO DA SUA PRÓPRIA HISTORIA.
AUGUSTO CURY

JUVENTUDE ANTENADA- COMO ANDA A TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO NO GRUPO DE JOVENS






A Conferência de Medellín é a segunda da América Latina. Antes dela, a primeira, aconteceu – como agora, a de Aparecida – no Brasil, em 1955, na cidade do Rio de Janeiro. É pouco comentada e conhecida, não porque não tenha importância, mas por dois fatores que parecem, se não justificáveis, pelo menos explicáveis: primeiro, porque já está distante no tempo, numa realidade como a nossa que não cultiva a tradição de manter viva a memória e, depois, pelo fato de ter-se realizado antes do Vaticano II e, portanto, sem os horizontes do Concílio que a fizesse marcar época ou posição no Continente, como foi o caso de Medellín. Não obstante, a seu modo e dentro do contexto em que se realiza, a Conferência do Rio de Janeiro, na opinião de especialistas, foi um “divisor de águas” para a Igreja da América Latina e Caribe, na medida em que, a partir dela, já começam a aparecer as preocupações com os grandes desafios que interpelam o Continente; a perspicácia, sobretudo de D. Hélder Câmara, que já está aí presente, estimulando a opção para que a “nossa Igreja” tenha o seu rosto próprio; o trabalho dele e de outros para criar e consolidar o CELAM e as Conferências Episcopais etc. Graças a todos estes esforços foi possível celebrar agora a V Conferência. Um caminho iniciado pela profecia de Pio XII, na sua carta Ad Ecclesiam Christi, lida na abertura da I Conferência, onde, depois de elogiar a América Latina, afirma acreditar que “dentro em pouco”, o continente Latino-Americano “possa achar-se em condições de responder, com vigoroso impulso, à vocação apostólica que a Providência divina” parece ter-lhe “designado”. Vocação essa de ocupar “lugar de destaque na nobilíssima tarefa de comunicar também a outros povos, no futuro, os ansiados dons da salvação e da paz”.[1]

4.1. A herança de Medellín (1968)

A Conferência de Medellín constitui a primeira releitura do Vaticano II para a realidade latino-americana. É de consenso que foi a “recepção criativa” do Concílio para o nosso Continente. Nossos desafios, entretanto, são ainda mais críticos que aqueles que deram origem ao Concílio. Em 1968, no Brasil, por exemplo, está em plena vigência a ditadura militar, que teve início com o golpe de 1964. Ao nosso, somam-se vários outros países da América Latina que, com total apoio dos EUA, vão consolidando seus regimes de força, repressão, tortura e morte. A fome e o empobrecimento das massas, conseqüência da extorsão de grupos estrangeiros ou multinacionais[2] que se espalham pelo Continente, configura um quadro de injustiça social que converge para condenar nossos povos à miséria.

No plano eclesial já há murmúrios de inconformismo com uma visão de Igreja estruturada mais hierarquicamente, sem levar em consideração o envolvimento e a participação de todo o Povo de Deus. Um bom exemplo aqui é o do Movimento Litúrgico, liderado pelos beneditinos do Rio de Janeiro, anterior, inclusive, ao próprio Concílio, buscando ensaiar passos concretos, revolucionários para a época (presidente da celebração de frente para o povo, missa em língua vernácula etc.), com o objetivo de renovar a liturgia. Entre os nomes que estão na origem deste movimento, sobressaem os de D. Martinho Michler e D. Clemente Isnard, que mais tarde se tornou Bispo de Nova Friburgo-RJ e, durante muito tempo presidiu a Comissão de Liturgia da CNBB, ocupando também sua vice-presidência. No campo litúrgico, eles foram, assim, os profetas, protagonistas dos novos tempos que se anunciavam para a Igreja latino-americana.

4.2. A opção pela justiça e libertação

A liturgia era, no entanto, apenas um dos alvos a ser atingido pelo movimento de transformação proposto pelo Concílio. Relido e atualizado a partir da América Latina oprimida e reprimida, o Vaticano II motivará aquelas que são consideradas as “opções-eixo” de Medellín, entre as quais se destacam: a Opção pelos Pobres; a Opção pela Libertação; a Opção pelas Comunidades Cristãs de Base; a Opção pela Justiça Social; a Opção pelo Profetismo...

Observe-se, logo de início, que a Opção pelos Pobres não traz ainda o adjetivo “preferencial” (acoplado só tardiamente por Puebla). Em Medellín a Opção pelos Pobres é clara, transparente e genuinamente evangélica, como foi a opção de Jesus, conforme vimos acima. Nesta opção, talvez a mais importante no contexto de um Continente marcado pela injustiça e opressão que se exerce precisamente contra os empobrecidos e miseráveis, a Igreja latino-americana propõe um passo qualitativo, a saber, o de retornar às fontes bíblica e em especial do Segundo Testamento, para dar lugar a uma ética de inclusão. Se a identidade do cristão e da cristã é o seguimento do Mestre, repetindo, na história, sua palavra e ação libertadora, então a Opção pelos Pobres se distinguirá, de fato, como marca registrada e critério de salvação (cf. Mt 25,31ss) não só para a América Latina, mas para toda a Igreja, na advertência já consagrada Paulo VI: “Se quiserdes, hoje, conhecer quem foi Jesus Cristo, olhai para o rosto dos pobres. Eles espelham a verdadeira face do Cristo”.

De igual modo, a Opção pelas Comunidades Cristãs de Base não traz a designação “eclesial” que, posteriormente, será inserida, substituindo o “cristãs”. Estas “comunidades cristãs” (cf. Doc. De Medellín) nascem e se desenvolvem com relativa autonomia e em espírito de liberdade frente seja ao Estado, seja à Igreja oficial, conforme nos atesta a pesquisa publicada pela CNBB, em 1974: “...a própria formação de uma CEB[3] significa impreterivelmente uma reação a uma forma antiquada de pastoral, de catequese, de vida espiritual, e também de atividade política, na medida em que a CEB inclua fins sociais gerais. O próprio sentido esperado de que cada CEB tenha uma vida mais ou menos autônoma indica a possibilidade de que realize valores e normas diversas das convencionais. Ela não seria satélite, nem da Igreja oficial, nem do sistema político vigente. Mas, pelo contrário, ambos, Igreja e Estado, são vistos em dimensão crítica, pelo menos no sentido de que os parâmetros convencionais não esgotam as possibilidades de oferta de uma vida mais plena”.[4]

Em qualquer hipótese, convém ressaltar que a interposição de “cristã” por “eclesial” não sugere, como poderia induzir, uma espécie de substituição do seguimento de Cristo (cristãs) pelo da Igreja (eclesial). Ao contrário, parece evidenciar a reformulação teológica (eclesiológica) do conceito “comunidade” que, se cristã (seguidora de Cristo), torna-se, naturalmente, eclesial, se entendemos que a missão da Igreja é congregar o Povo de Deus para ser sinal do seu Reino e “sacramento universal de salvação”, que é o mesmo dizer libertação.[5]

As demais opções – pela Libertação, pela Justiça Social, pela contestação Profética – vinculadas, sobretudo, à Opção pelos Pobres, firmam, todas elas, a orientação da Igreja latino-americana, com o propósito de perfilar sua identidade própria e característica, a saber, a de uma Igreja que, perseguida e martirizada, mas em sintonia e comunhão fiel com a Tradição bíblica e apostólica, trabalhará com renovado ardor e amor pela libertação efetiva da América Latina, a fim de que o ser e o ter, e todos os bens sejam socializados para que todos e todas tenham vida.

4.3. O jardim floresceu

Talvez a imagem que melhor corresponda a este Kairós latino-americano seja a do jardim. O jardim que é usado pelo autor do Gênesis (2,8) para designar toda a felicidade e todo o bem que Deus destina à humanidade (cf. Jr 33,9). O jardim a que se refere igualmente o evangelista João (19,41), onde o corpo do Crucificado é sepultado, e de onde sairá vencedor da morte, glorioso, ressuscitado, restituindo esperança e vida nova aos que, seguindo seus passos, refazem seu caminho, na opção e entrega absoluta pelo seu Reino de amor, de justiça e fraternidade.

Nesta seqüência, Medellín pode ser símbolo do jardim latino-americano e caribenho, onde o peso da cruz e a esperança de vida estarão em permanente conflito. Para que, no entanto, em nosso jardim, a vida possa brotar da morte, a “Igreja de Medellín”, amadurecida à luz do Concílio, propõe e realiza a abertura de novos caminhos para a América Latina e Caribe, em diversos níveis:

a) na luta para que os direitos humanos e dos povos sejam respeitados;
b) na substituição do assistencialismo (ou paternalismo) pela verdadeira promoção humana e social, que já era proposta do Concílio;
c) na consciência e no trabalho para que os países em desenvolvimento tenham o cuidado de não marginalizar os pobres e operários;
d) na articulação fé/vida, fé/política;
e) na superação do autoritarismo e centralismo eclesiástico;
f) na valorização da vida comunitária e social;
g) na construção de sociedades solidárias e democráticas que evidenciem os sinais do Reino de Deus.

4.4. O resgate da credibilidade

Estavam postas, assim, as bases de um projeto sólido que, logo em seguida, resultaria no amadurecimento, inserção e compromisso do laicato que agora, confiante na força jovial e transformadora da Igreja, fiel discípula de Jesus e do Reino, organiza-se em comunidades cristãs de base para ler a realidade (vida) à luz da Palavra de Deus (fé), e responder aos grandes desafios (transformação) lançados pela Pátria Grande. A ação destas comunidades se torna tão expressiva para o Continente e, em especial, para o Brasil, que mais tarde os Bispos brasileiros reconhecerão publicamente sua repercussão e importância para a transformação da sociedade e da própria Igreja:

“O novo que as CEBs trouxeram foi o fato de oferecerem, dentro da Igreja, um espaço para o próprio povo simples participar da evangelização da sociedade através da luta pela justiça”.[6]

Esta consciência de que o campo que desafia o cristão e a cristã é o mundo (trabalho, escola, família, esporte, lazer, sindicato, partido etc.), a descentralização pastoral, a Bíblia nas mãos do Povo, a participação nas liturgias que agora rezam e celebram a realidade do cotidiano, a organização e animação das comunidades, o reconhecimento e a valorização dos Leigos e Leigas, são apenas alguns dos traços que fazem o perfil do jardim que começa a florescer com Medellín. Um tempo que, apesar dos grandes e graves tormentos provocados seja pelos regimes de força, seja pela miséria crescente, a Igreja latino-americana assume sua identidade e recupera sua credibilidade, de tal modo que, mesmo em meio às contradições e conflitos, dela se podia paradoxalmente dizer o mesmo que se dizia da Igreja dos primórdios: “vivia em paz...edificava-se e progredia no temor do Senhor, e crescia em número com a ajuda do Espírito Santo” (At 9,31), conforme era costume cantar nas comunidades:

“Que sabedoria é essa que vem do meu povo? É o Espírito Santo, agindo de novo!”

4.5. Pastores e profetas

O impacto produzido por Medellín foi o que hoje é consciência nas CEBs: uma ação orgânica, bem articulada, integrada, “de baixo pra cima e de dentro pra fora”, que muda o interior e atinge a raiz para converter o todo, o conjunto, e conformá-lo ao projeto do Deus da Vida. Um “novo Pentecostes” que questiona e desinstala (cf. At 2,1-11), e recobra o “entusiasmo do primeiro amor” (cf. Ap 2,4), atualizando o que D. Carlos Alberto Navarro, o Bispo poeta, compunha em uma de suas músicas:

“Somente ao receber teu Santo Espírito, Jesus, os Doze vão levar a boa nova sem temer. É Ele o principal na pregação, é inspirador, dos que lutam pelo Reino até morrer”.

Nesta perspectiva, vimos o florescer de uma geração inigualável de Pastores, que logo se tornaram Profetas na defesa incondicional da vida para os povos oprimidos e reprimidos do Continente, configurando seu ministério ao do Cristo, Bom Pastor, que conhece, ama e dá a vida por suas ovelhas (cf. Jo 10,11.14-15).

No Brasil, nomes como os de D. Hélder Câmara, D. Pedro Casaldáliga, D. Tomás Balduíno, D. José Maria Pires, D. Luciano Mendes de Almeida, D. Ivo Lorscheiter, D. Aloísio Lorscheider, D. Paulo Evaristo Arns, entre tantos outros, entram para o cenário nacional e compartilham do mesmo destino dos que lutam por justiça e paz, sendo igualmente perseguidos, difamados e ameaçados de morte pela ditadura. D. Hélder, por exemplo, cognominado “Bispo Vermelho” pelos militares, responderá com sagacidade:

“Quando dou pão aos pobres, chamam-me de santo, quando pergunto pelas causas da pobreza, me chamam de comunista”.

Fora daqui, na Argentina, Mons. Angelelli; em El Salvador, D. Oscar Romero; na Colômbia, Pe. Camilo Torres; na Nicarágua, Pe. Gaspar García Laviana e, tantos outros, pagaram com a própria vida sua fidelidade ao Reino da Vida e ao Evangelho dos Pobres.

Na década de 70 tive o privilégio de conhecer e conviver com dois desses grandes Bispos que, mergulhados na vida do povo, comungavam de seus sofrimentos na ação evangelicamente solidária: D. Alberto Trevisan, auxiliar do Rio de Janeiro, era, então, coronel do exército! Simplesmente impressionante! Este grande Pastor, que se destacava precisamente por sua simplicidade e humildade, usava do seu posto militar para empreender uma verdadeira atividade “subversiva”, e libertar os prisioneiros políticos. E, D. Clemente Isnard, o mesmo do Movimento Litúrgico a que nos referimos e que, por feliz coincidência, foi quem me ordenou presbítero. D. Isnard tem uma das mais belas páginas de sua história escrita no Livro da Vida, referente também à solidariedade com as vítimas do regime militar. Mantinha, em sua residência, com todos os riscos que a iniciativa comportava um porão reservado aos perseguidos pela ditadura. Aí, recebia, acolhia e abrigava todos/as os/as fugitivos/as que a ele acorriam.

A voz e a ação profética desses Pastores ecoavam afinadas porque fundamentadas na certeza de que “não há maior amor que dar a vida pelo irmão”, e no rico patrimônio da fé legado por Medellín, onde a violência “institucionalizada” que se exerce contra os fracos é condenada por unanimidade. É igualmente denunciada toda forma de injustiça como pecado social – grave! –, e os Bispos, emprestando sua voz às inúmeras vítimas do sistema, gritam profeticamente: “Que sejam derrubadas as barreiras da injustiça e da opressão!”

Dado de grande importância é que entre as conclusões de Medellín está o reconhecimento, a todo o Povo de Deus, do legítimo direito de lutar para defender a vida ameaçada pelos regimes de força (insurreição popular contra a repressão). Ninguém precisa se assustar porque tanto Medellín quanto mais tarde D. Romero só fazem retomar uma velha doutrina já expressa por Santo Tomás de Aquino, e não é mais do que o que é de conhecimento público na justiça comum: o direito à legítima defesa. Este elemento, especialmente relevante em contexto da América Latina oprimida e reprimida por militares e ditadores cruéis e sanguinários, contribuiu para, posteriormente, derrubar a ditadura de Somoza na Nicarágua, uma das mais nefastas da nossa história! O absolutamente novo e original na Revolução Popular Sandinista, cujo triunfo se deu em 1979, foi a participação maciça dos cristãos e cristãs que, tendo assimilado as orientações de Medellín, uniram sua fé à luta pela justiça de maneira tão harmoniosa, que já não podiam separar cristianismo e revolução: “entre cristianismo y revolución no hay contradicción!” À diferença, por exemplo, do que ocorrera em Cuba, cuja data da vitória remonta a 1959 e, portanto, antes, tanto do Concílio quanto de Medellín. Aí, não só os cristãos (pelo menos os católicos) não se comprometem com o processo revolucionário, como até se opõem a ele.

No conjunto, vale lembrar que Medellín registra, em consonância com a mais fina Tradição, o tripé que sustenta a Igreja como obra de Deus através da história: a Igreja latino-americana se impõe, já não pelo autoritarismo, mas:

a) no reconhecimento, valorização e promoção do Povo de Deus;
b) na voz e ação profética dos Pastores; e,
c) no testemunho fiel de seus Mártires.

4.6. Um “casamento feliz”

Por mais extenso que fosse um discurso sobre Medellín, jamais conseguiríamos incorporar nele toda a beleza e riqueza de conteúdo, de forma, de criatividade, de participação, de compromisso, que este evento significou para a Igreja Latino-americana e Caribenha. Mas poderíamos ensaiar uma síntese de sua herança no que temos chamado de “casamento feliz”, e que teve como que seu berço nesta 2ª Conferência do CELAM, articulando correta e concretamente a relação teoria-práxis, na ordem que segue:
a) A Opção pelos Pobres, que é garantia do seguimento de Jesus, que também optou por eles, destinando-lhes seu Reino de Justiça e de Vida;

b) a difusão das CEBs, que lutam para transfigurar o rosto da sociedade e da Igreja, reconhecidas como “grande sinal de esperança para a Igreja universal” (Paulo VI); e,

c) a Teologia da Libertação que, com sua origem no Êxodo (cf. 3,7ss), articula o “grito do oprimido” a partir das práticas libertadoras das comunidades, consagrada “não apenas oportuna, mas útil e necessária” (João Paulo II).

4.7. Puebla (1979): continuidade descontinuada?

Apesar de ser diferente o contexto sócio-econômico e político-religioso em 1979, 11 anos depois de Medellín, o clima continua tenso e os bispos reconhecem que os grandes problemas sociais, em lugar de diminuir, tornaram-se ainda mais graves. Constata-se, também, que a tensão vivida nas sociedades se reproduz no interior da Igreja.

A opção pelos pobres ganha o adjetivo “preferencial”.[7] Além dela, a opção pelos Jovens, pela Comunhão e Participação e pela Dignidade da Pessoa Humana são destaques em Puebla. Para além dos desafios da conjuntura, no entanto, os Pastores continuam denunciando profeticamente os regimes de força espalhados pelo Continente, e a Ideologia de Segurança Nacional, que atentam contra a vida e as liberdades individuais e coletivas. Simultaneamente proclamam a dignidade da pessoa humana como dom maior que deve ser respeitada e defendida, como honra devida ao Criador.

A “Igreja de Puebla”, mesmo nas “negociações” que se viu obrigada a fazer em razão da onda de (neo)conservadorismo interno e externo, mantém e fortalece passos importantes nas pegadas de Medellín:

a) a opção “preferencial” pelos Pobres acabou sendo um tiro que saiu pela culatra, abrindo variadas discussões mundo afora, e mobilizando comunidades, grupos, associações, o Movimento Popular etc. para a organização dos Pobres como tarefa prioritária e opção “incondicional”;

b) a opção pelos Jovens, nos lugares em que foi e é acolhida e assumida, contribuiu e contribui para rejuvenescer o rosto da Igreja, dando-lhe novo vigor missionário;

c) a opção pela Comunhão e Participação incrementou o processo já desencadeado de descentralização, presente de forma mais visível nas CEBs, enriquecido agora pelos “novos ministérios” confiados aos Leigos e Leigas;

d) finalmente, a opção pela Dignidade da Pessoa Humana reforça o compromisso da Igreja com a justiça, com os direitos humanos, com a defesa da vida.

À luz destas opções, poderíamos dizer que Puebla colaborou para fazer evoluir o perfil da Igreja da América Latina no que se refere à realidade de empobrecimento em 4 níveis distintos, mas interativos:

e) a ampliação do conceito de pobre que, até então, era reduzido à mera e simples privação dos bens básicos:

“Na vida real vemos tantos rostos, e neles devemos reconhecer os traços do Cristo sofredor. Rosto de índios, de negros, que vivem colocados de lado pela sociedade. Rosto de camponeses, de operários, quase sempre mal pagos. Rosto de pessoas amontoadas nas periferias das cidades. Rosto de desempregados e subempregados. Rosto de jovens desorientados, sem lugar na sociedade, sem oportunidades. Rosto de crianças, marcadas pela desnutrição, que carregarão as conseqüências disso por toda a vida. Rosto de velhos, cada vez mais, colocados de lado...”;[8]

f) a correção de uma distorção ideológica que perdurou séculos de história, onde o pobre é pobre porque quer, ou porque é vagabundo, ou, ainda, porque Deus quer assim:

“Descobrimos que esta pobreza não é uma etapa casual, mas sim o produto de determinadas situações e estruturas econômicas, sociais e políticas...A situação interna de nossos países encontra, em muitos casos, sua origem e apoio em mecanismos que...produzem, em nível internacional, ricos cada vez mais ricos às custas de pobres cada vez mais pobres”.[9] A pobreza, portanto, não é casual, mas causal, e o pobre não é tão somente pobre, mas empobrecido;[10]

g) a responsabilidade (culpa) de quem compactua com o sistema que empobrece:

“Vemos, à luz da fé, como um escândalo e uma contradição com o ser cristão, a brecha crescente entre ricos e pobres. O luxo de alguns poucos converte-se em insulto contra a miséria das grandes massas. Isto é contrário ao plano do Criador e à honra que lhe é devida”;[11]

h) a conversão de corações e estruturas começa em casa pela pobreza evangélica que

“une a atitude de abertura confiante em Deus com uma vida simples, sóbria e austera, que aparta a tentação da cobiça e do orgulho”, bem como “pela comunicação e participação dos bens materiais e espirituais; não por imposição, mas por amor, para que a abundância de uns remedeie a necessidade dos outros”.[12]

4.8. Santo Domingo (República Dominicana, 1992) : “novo espetáculo, em novo palco”

Contexto: O tempo é de “abertura política”, com a presença de novo ator no cenário mundial: o capitalismo neoliberal, que baseado nas leis do mercado, do consumo e das pequenas, porém, eficazes concessões, busca garantir seu espetáculo. No terreno eclesial, está em curso a “volta à grande disciplina” (Libânio).

Opções: pela Inculturação - pelo protagonismo dos Leigos e Leigas - pela Solidariedade - pela Leitura da realidade a partir dos desafios contemporâneos.

Anúncio-denúncia: Sintomas negativos da ambígua globalização, tais como o egoísmo, individualismo, consumismo etc., podem conduzir fatalmente a humanidade ao fracasso total e à morte. Só o cultivo da solidariedade, no respeito às “minorias” étnicas excluídas, e na defesa da vida humana e ecológica, poderão garantir a felicidade do planeta.

Conseqüências práticas: A “Igreja de Santo Domingo”, apesar de seu contexto extremamente desafiador, oferece pistas importantes para a construção do “outro” mundo e da “outra” Igreja possíveis. As opções aí assumidas vão todas na linha de considerar e responder aos “sinais dos tempos e lugares”. O protagonismo dos Leigos e Leigas, p. ex., aparece como resposta seja ao amadurecimento da teologia laical, seja às experiências positivas de democratização da instituição, desde Medellín, seja ao desenvolvimento e difusão das CEBs, “novo/velho” jeito de ser Igreja, seja ainda à crise por que passa a Igreja, carente de ministros ordenados. A inculturação mantém a vitalidade e força do Evangelho como Boa Nova que é proposta e projeto de libertação, uma vez respeitada a diversidade cultural. A solidariedade, ampla, geral e irrestrita, deve unir a América Latina e o mundo através de alianças e parcerias em favor da vida para todos e todas, e para tudo.
____________________
[1] Cf. Documento sobre a Conferência de Aparecida, publicado por ZENIT, disponível no sítio: http//www.zenit.org/portuguese/archivo_documentos. Ver também a reportagem detalhada publicada pelo Jornal de Opinião. Semanário da Arquidiocese de Belo Horizonte, nº 932, 9 a 15 de abril de 2007, 10-11.
[2] Ou ainda “transnacionais”, conforme posteriormente foram mais adequadamente chamadas.
[3] Aqui já é CEB - Comunidade Eclesial de Base.
[4] CNBB. Coleção Estudos nº 3. Comunidades: Igreja na base, 37.
[5] Cf. Concílio Ecumênico Vaticano II. Ad Gentes 5, na linha do belíssimo trabalho que posteriormente seria elaborado, para o nosso contexto latino-americano, por I. ELLACURIA. La Iglesia de los pobres, sacramento histórico de liberación. Estudios Centroamericanos 32 (1977) 707-722.
[6] CNBB. Comunidades Eclesiais de Base na Igreja do Brasil, doc. 25, 1985, nº 63.
[7] Puebla 1134-1165.
[8] Id. 31-39.
[9] Id. 30; cf. 63-70.
[10] Id. cf. a nota 331 do nº 1135.
[11] Id. 28.
[12] Id. 1149-1150.

PJ SHOW O Anel de Tucum









PJ SHOW DEUS NEGRO


Eu,
Cheio de preconceitos, racista!
Eu,
Com falsos conceitos, neo-nazistas!
Eu,
Detestando pretos.
Eu,
Sem coração...
Eu,
Perdido num coreto gritando: “Separação!”
Eu,
Você,
Nós... Nós todos,
Cheios de preconceitos,
Fugindo como se eles carregassem lodo
Lodo na cor... E com petulância, Arrogância, afastando a pele irmã
... Mas... Estou pensando agora:
E quando chegar minha hora???
Meu Deus, se eu morresse amanhã,
De manhã???
Numa viagem esquisita,
Entre nuvens feias e bonitas,
Se eu chegasse lá?
E um porteiro manco,
Como os aleijados que eu gozei,
Viesse abrir a porta,
E eu reparasse sua vista torta,
Igual àquele que eu critiquei?
Se sua mão tateasse pelo tronco,
Como as mãos do cego que não ajudei?
Se a porta rangesse,
Chorando os choros que eu provoquei?
Se uma criança me tomasse pela mão,
Criança como aquela que não embalei...?
E me levasse por um corredor florido, colorido,
Como as flores que eu jamais dei?
Se eu sentisse o chão frio,
Como dos presídios que não visitei?
Se eu visse as paredes caindo,
Como das creches e asilos que não ajudei?
... E se a criança tirasse corpos do caminho,
Corpos que eu não levantei
Dando desculpas que eram bêbados, mas eram epilépticos,
Que era vagabundagem, mas era fome!
E se, mas pra frente a criança cobrisse um corpo nu,
Da prostituta que eu usei,
Ou do moribundo que eu não olhei,
Ou da velha que eu não respeitei,
Ou da mãe que eu não amei...?
Corpo de alguém exposto,
Jogado por minha causa,
Porque não estendi a mão,
Porque no amor fiz pausa
E dei, sei lá, só dei desgosto.
E, no fim do corredor, o inicio da decepção!
Que raiva que desespero, se visse o mecânico, o operário,
Aquele vizinho, o maldito funcionário.
E até, até o padeiro,
Todos sorrindo não sei de que...
Ah! Sei sim, riem da minha decepção.
Deus não está vestido de ouro
Mas como???
Está num simples trono.
Simples como não fui,
Humilde como não sou.
Deus decepção!
Deus na cor que eu não queria,
Deus cara-a-cara, face-a-aface
Sem aquela imponente classe
Deus simples!
Deus negro!
Deus negro!
E eu... Racista,
Egoísta, e agora???
Na terra só perseguir os pretos,
Não aluguei casa, não apertei a mão.
Meu Deus você é negro, que desilusão.
Será que vai me dar uma morada?
Será que vai apertar minha mão?
Que nada!
Meu Deus você é negro, que decepção!
Não dei emprego, virei o rosto.
E agora? Será que vai me dar um canto,
Vai me cobrir com seu manto? Ou vai me virar o rosto no embalo da bofetada que dei???
Deus, eu não podia adivinhar,
Porque você se fez assim?
Porque se fez preto,
Preto como o engraxate,
- Aquele que expulsei da frente da casa.
Deus, pregaram você na cruz.
E você me pregou uma peça,
Eu me esforcei a beça
Em tantas coisas, e cheguei até a pensar
Em amor,
Mas nunca,
Nunca pensei em adivinhar sua cor!

sábado, 13 de novembro de 2010

JUVENTUDE ANTENADA- COMO ANDA O MARCO REFERENCIAL DA PASTORAL DA JUVENTUDE DO BRASIL NO GRUPO DE JOVENS




COMO ANDA O MARCO REFERENCIAL DA PASTORAL DA JUVENTUDE DO BRASIL NO GRUPO DE JOVENS











MARCO REFERENCIAL DA PASTORAL DA JUVENTUDE DO BRASIL

















































MARCO REFERENCIAL DA PASTORAL DA JUVENTUDE DO BRASIL
















































APRESENTAÇÃO

A PJ do Brasil tem seu Marco Referencial

Não faz muito tempo tive oportunidade de assistir a um documentário televisivo, elaborado pelos participantes da expedição de vistoria e reconhecimento dos MARCOS existentes entre as fronteiras do Brasil e Bolívia.
Após longas viagens feitas de avião, barcas, à cavalo e a pé, encontraram e identificaram os referidos MARCOS. Estavam todos numerados, e eram feitos de cimento, pequenas pirâmides. Pelo porte, dificilmente puderam ser trocados de lugar.
Entre um e outro existe uma linha imaginária, a fronteira. Após terem examinado que não havia nenhuma invasão boliviana, limparam os marcos e voltaram felizes. A soberania das duas nações estava sendo respeitada.
Um trabalho semelhante está sendo feito pelas pastorais. Não é muito raro umas invadirem o campo das outras. Seria muito útil que as pastorais também estabelecessem seus marcos e que de vez em quando organizassem uma “viagem de reconhecimento” para saber de seus limites, conhecer suas fronteiras e poder fazer um melhor trabalho de comunhão e participação.
É o que fez a Pastoral da Juventude do Brasil. Não foi fácil. Centenas de acontecimento e entendimentos precederam a elaboração que agora apresentamos. O último momento significativo foi a apresentação deste material aos membros da Presidência e Comissão Episcopal de Pastoral da CNBB.
Estes MARCOS servem de referência a todos os que oferecem sua contribuição à PJ do Brasil. Não se trata apenas de acordo feito na base do consenso, mas no discernimento da vontade de Deus diante da atual conjuntura e com o horizonte voltado para a chegada do terceiro milênio.
A Pastoral da Juventude assume as Diretrizes da CNBB e é nessa perspectiva que precisamos entender o presente material. Não se opões ao trabalho desenvolvido pelos movimentos, com os quais mantêm permanente diálogo, mas cultiva a sua identidade, a partir das Diretrizes oficiais da CNBB. A Igreja tem o direito e o dever de formar seus futuros e atuais protagonistas em sintonia consigo mesma.
Pedagogicamente o Marco Referencial pretende responder a algumas perguntas que todo pastoralista precisa fazer com seriedade antes de se dedicar ao trabalho prático:
1. Quem são os jovens hoje? Marco Situacional.
2.O que já foi feito? Marco Histórico.
3. Para onde pretendemos caminhar? Marco Doutrinal.
4. Quais são as urgências e estratégias principais? Marco Operativo.
5. Como celebrar tudo isso com alegria e esperança? Marco celebrativo.
Esses são os cinco capítulos do presente documento a que batizamos com o título de MARCO REFERENCIAL DA PASTORAL DA JUVENTUDE DO BRASIL.
Tenhamos presente que sem uma séria e animada Pastoral da Juventude cae por terra toda pretensão de que os leigos se tornem protagonistas da nova evangelização.

D. Irineu Danelon, SDB
Bispo Responsável pela PJ do Brasil
Setor Juventude da CNBB



INTRODUÇÃO
Eu vos anuncio uma boa, bela, nova, atraente e sedutora notícia...
Em 1986 a CNBB publicou o documento de estudos nº 44 sobre a Pastoral da Juventude no Brasil. De lá prá cá muita coisa mudou. Por isso o Setor Juventude da CNBB oferece agora este novo documento de estudo: O MARCO REFERENCIAL DA PASTORAL DA JUVENTUDE DO BRASIL
Você tem em mãos o fruto de 4 anos de trabalho.
No final de 93, ainda na gestão de Pe. Florisvaldo Saurin Orlando, então Assessor Nacional, a Comissão Nacional de Assessores delegou a Pe. Adaílton Altoé a missão de recolher tudo que havia sido escrito sobre juventude e Pastoral da Juventude na Igreja do Brasil e da América Latina. O resultado foi um livro que publicamos em meados de 94, pelo Centro de Capacitação da Juventude, com o título: ELEMENTOS PARA O MARCO REFERENCIAL.
Este texto publicado provisoriamente ficou em estudo até final de 95, e a espera das definições da 11ª Assembléia Nacional da PJB. Então a Comissão Nacional de jovens e assessores da PJB delegaram ao Instituto de Pastoral da Juventude de Porto Alegre a tarefa de dar uma elaboração mais sistemática ao MARCO REFERENCIAL DA PJB.
Em agosto de 96, o IPJ .Porto Alegre entregou ao Setor Juventude da CNBB a 1ª Redação que foi feita pela Equipe Ampliada do Instituto.
- O texto foi multiplicado e enviado à CNPJB, CNAPJB, às Secretarias Regionais e Institutos de PJ, que tiveram até o final de novembro de 96 para enviar suas contribuições. Em dezembro de 96 a Equipe Ampliada do IPJ de Porto Alegre fez a 2ª versão do Marco Referencial.
- O Setor Juventude multiplicou o texto e o enviou à CN, CNA, Regionais e Institutos. Na reunião da CN e CNA de maio de 97 foram recolhidas sugestões e constituída uma equipe que ficou responsável pela redação final do texto, composta pelas seguintes pessoas: Pe. Jorge Boran, Pe. José Cobo Fernandez, Ana Rita de Castro, Pe. Marcelo Maróstica, Vasconcelos Filho e Pe. Vilsom Basso. A equipe se reuniu nos dias 17 e 18 de junho e no dia 04 de agosto.
- Na reunião da Presidência e Comissão Episcopal de Pastoral da CNBB do mês de setembro, D. Irineu Danelon, Bispo Responsável pelo Setor Juventude da CNBB e Pe. Vilsom Basso, Assessor Nacional, apresentaram oficialmente o texto à CNBB. Os bispos responsáveis pela Pastoral e Igreja no Brasil tiveram até o dia 15 de outubro para enviar sugestões.
- Na reunião da CN e CNAPJB de novembro de 97 o texto final foi entregue aos membros da CN e CNA que tiveram ainda até o dia 30 de novembro para enviar sugestões de redação. Foi feita então a redação e correção final do Marco Referencial da PJB, e D. Irineu Danelon fez a apresentação. O texto oficial da CNBB então foi impresso e é o que você tem em mãos.
O Marco Referencial da PJB demorou 4 anos para ser concluído e impresso. Ele tem cinco capítulos:
- Marco Situacional : traz a realidade juvenil e sócio - cultural de nosso país.
- Marco Histórico: que recolhe os principais fatos e elementos do trabalho que a Igreja fez e faz com os jovens a partir de 1920 até os nossos dias.
- Marco Doutrinal: revela, de maneira leve e sintética, a presença de Deus na História, um Deus que ama os pobres e os jovens , é trindade e tem na Igreja o sinal concreto deste amor, em Maria o modelo e na PJB a maneira mais concreta e nova de falar aos jovens.
- O Marco Operativo: apresenta o jeito atual e novo que a PJB tem de se organizar e agir; sua metodologia, pedagogia e etapas de formação.
- O Marco Celebrativo: confirma a Palavra de Deus, a Celebração, a vivência do amor e o Ecumenismo como elementos básicos da mística e espiritualidade da PJB; dando um destaque especial à Leitura Orante da Bíblia e ao Ofício Divino das Comunidades.
Cabe a você descobrir toda a riqueza deste material, complementá-lo e adaptá-lo à sua realidade. No texto há várias perguntas que ajudam a aprofundar os conteúdos.
Este é uma material de pesquisa, de aprofundamento, onde você encontrará os elementos básicos da Pastoral da Juventude do Brasil; por isso, às vezes, são usados termos técnicos também, precisos, “difíceis” até, principalmente no Marco Situacional. Mas, com certeza, você vai gostar.
Esperamos que todos os grupos de jovens deste país, e todos os que amam a causa dos jovens, possam estudar a fundo este material e que ele seja inspirador para um maior e melhor serviço aos jovens.
Não deixe de divulgar esta notícia aos jovens e a todos que amam a causa dos jovens.












É com alegria que, neste Natal de 97, “Vos anuncio uma boa, bela, atraente e sedutora notícia: A PJ do Brasil tem seu novo Marco Referencial.”
Espero que seja útil e anime a caminhada de jovens, militantes e assessores da PJ doBrasil.
Com carinho
Pe. Vilsom Basso - Dehoniano
Assessor Nacional da PJ do Brasil -
Setor Juventude da CNBB -

Brasília, Natal de 1997








CAPÍTULO 1 - MARCO SITUACIONAL
“Um olhar sobre a realidade”

Introdução
1. Um olhar pastoral sobre a realidade
Objetivo deste documento é captar e acolher os “sinais dos tempos”, o que o Espírito diz aos jovens do nosso tempo. Esses “sinais” estão na realidade do mundo e da Igreja. Vamos analisar essas realidades para encontrá-los.
Queremos ver a realidade porque está carregada de vida e esperança. Nos inspira a vida de Jesus, sua Encarnação, Páscoa e Ressurreição. A Encarnação insere Jesus na história concreta de um povo. A sua vida, com seu desfecho trágico, na Páscoa, nos lembra que essa história está carregada de conflitos concretos, e conflitos de morte. A Ressurreição de Jesus é a ação de Deus no mundo. Ele prometeu e vai realizar seu Reino. Por isso, nosso olhar é, sobretudo, um olhar de fé e esperança, que conhece a realidade, com suas luzes e sombras, mas sabe que Deus vai cumprir suas promessas. “Fé é a certeza de que vamos receber as coisas que esperamos” (Hbr 11, 1).
O nosso quer ser um olhar pastoral, evangelizador e missionário, pois pretende intervir nessa realidade conhecida, para transformá-la com a força do evangelho, vivido na comunidade e pregado com palavras e ações, como nos recomendava o Papa Paulo VI:

“Evangelizar, para a Igreja, é levar a Boa-Nova a todas as parcelas da humanidade, em qualquer meio e latitude, e pelo seu influxo transformá-las a partir de dentro e tornar nova a própria humanidade”
(Evangelii Nuntiandi - EN, 18)

O nosso olhar tem que ser, também, científico, não apenas empírico. Todas as pessoas têm uma imagem da realidade, todos analisam a realidade, mas é preciso fazê-lo com os melhores meios de que dispomos. O uso legítimo das ciências humanas nos ajudará a tirar preconceitos e enxergar a realidade com mais objetividade.
Queremos ver a realidade da nossa juventude, no contexto da Pátria Grande, e do nosso mundo. E perceber as tendências que influenciam na vida da juventude.
Optamos também por ver as possibilidades de esperança, os “sinais” positivos do Espírito no meio de nós, não só os aspectos negativos ou mais espetaculares. Queremos fortalecer assim uma utopia realista dos que sabem que o Reino não é deste mundo mas já está presente, rezam pedindo que venha (cfr. Mt 6,10) e percebem que está agindo no meio deles (cfr. Lc 17,21).
Atitudes dos cristãos. “Há cristãos e agentes de pastoral que assumem atitudes passivas e resignadas, olhando com ceticismo para uma realidade que não conseguem compreender. Outros refugiam-se numa atitude imediatista, lutando por valores em que acreditam, mas a partir de uma visão simplificada da sociedade, sem cuidar de compreender sua diversidade e de se abrir ao diálogo com outros grupos. Há também cristãos que, movidos pela fé, buscam a transformação da sociedade, guiados pelos princípios da Doutrina Social da Igreja. Para isso, envolvem-se na luta pela justiça social para que se realize um novo modelo de sociedade fraterna e solidária, segundo o projeto de Deus” (Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora, DGAEv, 113).
“A posição correta do cristão é aquela que une o esforço de compreensão racional dos acontecimentos com a firme esperança no Senhor da história e na presença já atuante do Reino de Deus. É, portanto, uma atitude de vigilância constante, de atenção à emergência do que é novo, sem confiar excessivamente em esquemas de interpretação da realidade social que freqüentemente falham quando pretendem prever o curso da história. A atitude cristã é, necessariamente, empenho perseverante pela transformação da sociedade rumo à realização dos autênticos valores humanos e invocação constante - como na oração de Jesus - da vinda do Reino” (DGAEv, 114).
Tentaremos, pois, que nosso olhar seja assim: alicerçado na fé, carregado de esperança, científico e comprometido. Teremos, com isso, uma grande ajuda para nortear nossa ação de evangelizadores no meio dos jovens do nosso tempo. É claro que a ajuda maior é o Dom do Pai, o Espírito Santo e a sua graça, que nunca nos há de faltar, como nos foi prometido pelo Senhor Jesus.
2. Um olhar provisório
Temos tentado fazer um “ver” amplo. Mas, não pretendemos ter conseguido isso, devido às nossas dificuldades e limitações e à amplidão da realidade. Além disso, são grandes as diferenças nos diversos lugares e nas situações vividas pelos jovens; são muito rápidas as mudanças que estão acontecendo; e as análises ficam rapidamente ultrapassadas. Esta análise é, pois, provisória no tempo e no espaço, e deverá ser revista e adaptada constantemente a cada comunidade e a cada grupo.
Queremos incentivar a criatividade dos jovens e dos grupos para que conheçam de maneira concreta a realidade onde vivem. E sugerimos que isso seja feito inspirando-se nas indicações da Evangelii Nuntiandi (EN, n.º 19) e das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil 1995-1998 (DGAEv, n.º 265) ou outras que achar mais convenientes.

“para a Igreja... se trata... de chegar a atingir e como que a modificar pela força do Evangelho os critérios de julgar, os valores que contam, os centros de interesse, as linhas de pensamento, as fontes inspiradoras e os modelos de vida da humanidade, que se apresentam em contraste com a Palavra de Deus e com o desígnio da salvação” (EN, 19).

Os evangelizadores devem ter “conhecimento adequado da realidade, sem aceitar o puro empirismo ou as falsas certezas. Seria útil que cada evangelizador ou comunidade conhecesse de maneira concreta pessoas e grupos aos quais se dirige: quais inquietações sentem; quais instâncias congregam as pessoas e influenciam suas vidas; como encarnam os valores evangé¬licos (gratuidade, solidariedade, fé, perdão, partilha, entrega da vida, ...); como expressam sua experiência religiosa...”
(Cfr. DGAEv, 265)

3. Várias maneiras de entender a palavra “juventude”
Quando se fala de “juventude”, é preciso saber o que se quer dizer. Há diversas maneiras de entender e, também, de abordar o mundo da juventude. Mais que descrições científicas da realidade ou classificações, preferimos entender que a experiência de vida da grande maioria de jovens tem diversas dimensões (biológica, psicológica, social, ...). Em todo caso, é preciso estar atento ao fato de que há maneiras bem diferentes de viver essas dimensões, e que essas diferenças podem ser enormes.

3.1. A concepção bio-cronológica ou etária, vê a juventude na sua dimensão evolutiva, de crescimento seja biológico, sexual, sociológico, psicológico, etc. É o critério usado pela ONU que data a juventude dos 14 aos 25 anos. Neste período acontece o amadurecimento bio-fisiológico e psico-social, cuja duração e ritmo dependem de muitas circunstâncias, como clima, cultura, condições de trabalho, etc.

3.2. A Concepção Psicológica (identidade) ressalta a dimensão da construção da identidade pessoal. Partindo das experiências da infância, enfrentando uma série de desafios mais ou menos fortes, o jovem vai construindo novas maneiras de relacionamento consigo mesmo, com os outros, com o mundo e com Deus. Nesses relacionamentos se definem os papéis, as exigências de comportamento, os limites e as possibilidades. A “juventude” (14 a 25 anos) é tempo de opções, de valorização do subjetivo, dos sentimentos e da ação. Tempo de afirmação como pessoa. A visão do mundo durante este período costuma estar caracterizada pela busca e a mudança e pela expressão de novas reações psicológicas. O campo mais atingido é o da afetividade e das relações humanas. No final haverá um novo posicionamento do sujeito diante da realidade toda e isto será algo característico da pessoa, possivelmente para toda a vida. Nessa caminhada de reelaboração de relacionamentos, os jovens vão definir, também, a sua maneira de relacionar-se com Deus, com a Igreja e com a religião.

3.3. A Concepção simbólico-cultural. A juventude é uma fase de experimentação e formação de valores. A transmissão de valores às novas gerações é uma das tarefas indispensáveis de toda cultura. Sem tradição, a cultura morre. O período da juventude é caracterizado pela aprendizagem e pela contestação dos valores aprendidos. Entre nós, podemos distinguir várias culturas, ao menos três: a) a cultura popular, onde se podem perceber vários grupos ou subculturas, às vezes muito diferentes, que se caracterizam pelo valor dado à tradição e à autoridade inconteste dos antigos; b) a cultura erudita, que confia bem mais na racionalidade e nos caminhos científicos, baseia-se nas razões, mesmo aceitando “autoridades” reconhecidas como critérios confiáveis; e c) cultura de massas, veiculada pelos MCS.
A juventude anda no meio desses mundos em mudança, assimilando, rejeitando, contestando os valores propostos e elaborando novas sínteses de vida. No Brasil, podemos encontrar jovens inseridos nessas diversas culturas. Não é possível fazer uma divisão simplista por áreas geográficas, mas, certamente, a cultura popular está mais claramente presente em certos ambientes (rural e favelas de migrantes das grandes cidades), a erudita é própria dos meios universitários e classes médias, e a cultura de massas é mais urbana, mesmo que esteja atingindo todas as classes e regiões.

3.4. A Concepção sociológica. Na juventude se torna definitiva e consciente a alocação de cada pessoa numa classe social. As instituições e processos de “formação” do jovem, de qualificação profissional e integração/submissão social, cultural e ideológica são diferenciadas. O jovem começa a pensar, sistematicamente, sua vida a partir do que é na sociedade: trabalhador, estudante, camponês, universitário (pobre ou de classe média, da cidade ou do campo). Aquilo que se é na sociedade e, especialmente, nos meios de produção, torna-se desde cedo um fator determinante na formação da personalidade e no processo de educação na fé.
No trabalho educativo com o jovem, todas as concepções são importantes, mas a sociológica, de fato, é a mais usada entre nós por várias razões: necessidade de adaptação, inculturação incipiente ou implícita, atitude libertadora dos agentes pastorais, o objetivo da transformação da sociedade como tal... Entramos, assim, no campo dos critérios de “classificação” da juventude, visando um trabalho mais consistente de organização.
Faz muito tempo, a Igreja foi sensível às diferentes situações sociais vividas pelos jovens e elaborou pastorais adaptadas a cada uma delas. A Pastoral da Juventude assumiu esta perspectiva abrangente na organização das suas atividades evangelizadoras.

Fazer um pequeno estudo sobre quais dessas dimensões destacam mais nos nossos grupos de influência

I. AS MUDANÇAS NA SOCIEDADE COMO DESAFIOS PASTORAIS
O primeiro dado da realidade é que a nossa é uma sociedade em mudança. A Igreja, chamada a uma nova evangelização, deve esforçar-se para compreender e acolher positivamente, - sem medos, mas também com espírito crítico e profético - as mudanças que marcam nossa sociedade e seu futuro.
1. Mudanças demográficas
Os resultados do Censo de 1991 e de outras pesquisas permitem descrever e quantificar as mais recentes mudanças. Do ponto de vista demográfico, os principais fenômenos são:
- aumento da população no período 1980/1991 de 119 para cerca de 147 milhões de habitantes (+ 23,5%); mas a taxa anual de crescimento é nitidamente inferior à dos períodos anteriores ;
- o marcante fenômeno das migrações, especialmente para as Regiões Norte e Centro-Oeste;
- o processo de urbanização continuou; a população urbana passou de 67,6% (1980) para 75,5% (1991), enquanto a população rural diminuiu;;
- o aumento maior da população se deu nos municípios entre 100.000 e 500.000 habitantes .

E os jovens? Segundo dados do IBGE do Censo de 1991, 49,49% da população são menores de 25 anos. Isto dá em torno de 75 milhões, mas ai estão incluídas também as crianças. Já a juventude brasileira (de 14-25 anos, segundo os padrões da ONU) constitui uma grande porção da população brasileira: 19%. Isto dá algo em torno a 28 milhões.

Fazer um levantamento de dados da população jovem na sua realidade. Servirá de base para trabalhos de estudo e pesquisa

2. Mudanças do ponto de vista econômico, as principais mudanças são:
- à diferença dos anos ’70 (1970-1979) e mesmo do período 1945-70, a economia brasileira pára de crescer rapidamente, entrando numa fase de estagnação e crise; o resultado é que os brasileiros, em 1991, são - em média - mais pobres que em 1980; a renda per capita é cerca de 5% inferior à de dez anos antes; a situação não é pior por diversos motivos, como a queda da natalidade (que já observamos), o aumento do número das pessoas que trabalham, a expansão da “economia informal”, etc.;
- na realidade, se o nível médio dos rendimentos caiu um pouco, a situação melhorou para os ricos e piorou para os pobres, contribuindo para tornar a distribuição de renda no Brasil uma das mais perversas no mundo; o IBGE calcula que 1% dos brasileiros mais ricos em 1990 detinha 13,9% da renda nacional (contra 12,1% em 1981), enquanto os 50% mais pobres só dispunham de 12,1% (contra 14,5% em 1981); isto significa que a renda média brasileira por pessoa era de 2.885 dólares em 1990, mas o 1% mais rico tinha uma renda anual de 40.100 dólares e os 50% mais pobres, uma renda anual inferior a 700 dólares (ou 58 dólares por mês);
- o empobrecimento exerce uma pressão que faz aumentar, nas famílias pobres ou de classe média-baixa, o número das pessoas que trabalham; na década de ‘80, aumenta especialmente a mão-de-obra feminina (entre as mulheres, a porcentagem das que trabalham fora de casa passa de 32,9% para 39,2%); o número de crianças e adolescentes que trabalham não aumenta em termos relativos (também pelo envelhecimento da população), mas é muito expressivo, um dos mais altos da América Latina, com quase 3 milhões de crianças de 10 a 14 anos e 4,4 milhões de adolescentes, de 15 a 17 anos, trabalhando;
- outra mudança importante na economia diz respeito à redução do emprego no setor primário (agricultura) e secundário (indústria) e à expansão da população empregada no setor terciário (comércio, serviços...), que em 1990 absorve 55,2% da população ativa; essa mudança é acompanhada também por modificações no perfil do trabalho: os salários perdem cerca de 15% de seu valor; aumenta o número dos trabalhadores sem carteira assinada e com remuneração baixa (sobretudo mulheres e jovens); aumenta o número dos trabalhadores autônomos, especialmente na chamada “economia informal” (quase duplica o número dos ocupados no comércio ambulante!);
- apesar desse esforço da grande maioria dos trabalhadores de garantir um rendimento mínimo para sobreviver, a pobreza - medida em termos de rendimentos - é extremamente grande; dos 29,5 milhões de pobres de 1980 (24,8% da população) se passa aos 39,2 milhões de 1990 (27% da população) ; a pobreza se concentra especialmente na área rural (onde atinge mais de 50% da população) e nas áreas metropolitanas, onde são evidentes as diferenças regionais ;
- a situação não é pior, porque melhoraram alguns serviços essenciais no período 1981-1990: abastecimento de água por rede geral (de 70% dos domicílios para 82,7%), instalação sanitária com rede de esgoto (de 38% para 50,9% dos domicílios), coleta de lixo (de 65,8% para 80,5%). Tudo isso trouxe uma expressiva diminuição da mortalidade infantil (de 75 por mil para 45 por mil, em média; mas as diferenças regionais e por classe social são muito altas) e um aumento da expectativa de vida que, em 1984, era estimada em 57,5 anos nas famílias com renda até 1 salário mínimo e em 73,4 anos para as famílias com mais de 5 salários mínimos;
- também a situação da educação melhorou, ao menos em alguns aspectos, entre 1981 e 1990: menos analfabetismo (que cai de 22,3% para 17,8% na população de 10 anos ou mais); aumento das pessoas com 8 ou mais anos de estudos (de 18,3% para 25%); duplicação da freqüência ao pré-escolar; aumento da taxa de escolarização entre os 7 e os 9 anos (de 70% para 85%) e na faixa de 10-14 anos (de 78,7% para 84,2%).

Fazer levantamento sobre trabalho e educação entre os jovens do seu redor.

Os jovens e a Educação
- Duas pesquisas -
Belo Horizonte - 93
. A educação é considerada importante pela maioria dos jovens, embora a metade deles, em plena idade escolar, está fora da escola.
. A educação é vista ora como formação para a vida, ora como instrumento para atingir uma profissão, sendo mais valorizada entre os mais jovens e de maior renda familiar.
. Entre os que não estudam, a maioria alega a necessidade de trabalhar para sua manutenção. Há também os que estudam e trabalham.
.Os estudos são considerados teóricos sem levar a uma profissão. Dos que estudam a maioria o faz em estabelecimentos públicos e é custeada pelos responsáveis.
. Quase a totalidade dos estudantes não tem participação ativa nas entidades políticas estudantis.
. A maioria dos estudantes julga importante o ensino religioso, apontado por diversos como principal fonte de conhecimento da sua fé.

RS - 95
. A média geral dos jovens que concluíram o 1º grau é de 36,65%;
. a maioria dos jovens que só concluíram o primário é da roça.
. 48,1% dos participantes de grupos de jovens concluiu o 2º grau.
. Por outro lado, os participantes de grupos são os que têm a menor porcentagem de universitários (2,9%, frente à média geral de 4,6%), perdendo até da média geral dos jovens;
. embora as moças sejam, em geral, menos “escolarizadas” que os rapazes, dão banho nos rapazes na freqüência à Universidade.
. 58,0% dos jovens têm a escola como lugar de partilha de experiências e de conhecimentos. Na escola desejada chocam-se a partilha e a fome de subir na vida, a coerência e o utilitarismo.


Causas das mudanças e perspectivas
A crise da economia brasileira nos anos ‘80 (1980) não é um fato puramente interno, com o esgotamento do modelo até então aplicado de "substituição das importações", mas se inscreve num contexto internacional mais amplo.
. O fator mais próximo da crise é a fuga de capitais e a dificuldade de pagar a dívida externa. A declaração da moratória pelo México (1982) é o sinal de alarme. Nos anos seguintes, a América Latina não somente vê cair a entrada de capital externo, mas assiste a uma elevação do "serviço" (juros) da dívida a níveis insustentáveis e à fuga de capitais que buscam em outras áreas um lucro maior. Assim, paradoxalmente, a América Latina - e nela o Brasil - se torna exportadora de capitais.
O fator fundamental da crise é representado pelas transformações da economia internacional. Desde 1975, aproximadamente, o sistema capitalista mundial se volta para a "acumulação flexível", modificando profundamente o sistema de produção e o comércio internacional. A mudança é possível graças ao emprego de novas tecnologias - que diminuem o emprego do trabalho manual e das matérias-primas - e graças a formas aperfeiçoadas de organização e gestão dos processos produtivo e distributivo, possibilitadas pela informatização crescente. Um dos resultados das mudanças é aumentar as vantagens dos Países que mais geram conhecimento e controlam a informação ("Primeiro Mundo"), em prejuízo dos Países que fornecem matérias-primas ou mão-de-obra barata ("Terceiro Mundo").
Outra mudança na economia, cujas causas são estruturais, mas que é justificada teoricamente por um ressurgimento do liberalismo - é a chamada "desregulação", praticada especialmente por Estados Unidos e Grã-Bretanha nos anos '80 e proposta como "receita" aos Países dependentes da ajuda do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional. A proposta prega a diminuição da intervenção estatal na economia, a privatização das empresas estatais (com poucas exceções), a livre competição, a remoção de barreiras ou proteções alfandegárias, etc. O êxito destas medidas parece ter sido apenas parcialmente benéfico e, geralmente, favorável aos mais fortes, com freqüentes retrocessos dos serviços públicos, dos direitos dos trabalhadores, da qualidade de vida das massas, não apenas no Terceiro Mundo, mas também nos Países hegemônicos.
Estes têm procurado ampliar seus mercados. Não podendo ainda abranger o mundo inteiro, apesar de uma crescente "globalização" ou "mundialização" da economia, têm promovido “blocos” ou áreas de livre comércio e cooperação econômica, como a Comunidade Econômica da Europa, o N.A.F.T.A. entre Estados Unidos, Canadá e México, as relações comerciais do Japão com certos Países do Oceano Pacífico, e o MERCOSUL (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai).
Os “planos de estabilização”, repetidos com algumas variantes nos últimos anos, apenas acentuaram essas tendências.

Desafios econômicos
Constatamos nos últimos anos notáveis avanços tecnológicos, cujos efeitos, porém, são muitas vezes prejudiciais para grande parte da população, que viu diminuir as oportunidades de trabalho e, freqüentemente, o nível de vida, também pela decadência de serviços públicos vitais, como a escola e a assistência sanitária. Na maioria dos Países americanos aumentou a concentração da renda, que já era grande, e surgiu uma “nova pobreza”.
À origem desses fatos está também a mentalidade economicista predominante, que coloca acima de tudo o mercado, que quer a maximização dos lucros. Manifestações extremas e criminosas desse interesse pelo dinheiro são os tráficos ilícitos: de drogas, de armas, até de pessoas ou órgãos humanos. As nações mais poderosas não hesitam em recorrer - contra suas próprias doutrinas ditas “neoliberais” - ao protecionismo e ao boicote econômico, para subjugar as nações menos poderosas. Os preços das matérias-primas tendem a cair em relação aos produtos industrializados. A tecnologia incorpora novas formas de saber, cujo monopólio é detido por um restrito número de Países e de grupos econômicos. As desigualdades entre os Países estimulam a migração de mão-de-obra, em condições precárias, em busca de sobrevivência ou emprego.
As desigualdades internacionais reforçam as desigualdades internas, que também são gritantes e talvez mais graves e prejudiciais à maioria da população. O Continente mais rico do mundo ainda não consegue nutrir dignamente todos os seus filhos e crianças pequenas e desnutridas já lutam para ganhar o pão de cada dia, em trabalhos pesados e mal remunerados, sem receber a educação e a assistência médica que são direitos fundamentais de toda pessoa humana.
Configura enorme desafio para as Igrejas o fenômeno da globalização com sua grande ambigüidade. Outro traço importante do processo econômico atual e repercussão sobre as relações humanas consiste na procura da “qualidade total”.

Quais as respostas da Igreja?
A Igreja, diante destas situações, observa que elas são hoje, sempre mais, conseqüência de ações humanas, deliberadas, e não efeito de causas naturais incontroláveis, como eram até há pouco carestias e epidemias. Por isso, a Igreja, mais que apontar as causas econômicas e as soluções técnicas, denuncia a falta de ética como o principal fator das desigualdades e injustiças econômicas e reafirma a necessidade de uma “conversão” das pessoas e de mudanças no próprio sistema (cf. JOÃO PAULO II, Sollicitudo Rei Socialis, 1987). A Igreja também apela para uma solidariedade ativa e acena para os caminhos de um desenvolvimento sustentável, que elimine a fome e as carências mais gritantes ( cf. Pontifício Conselho “Cor Unum”, A fome no mundo. Um desafio para todos: o desenvolvimento solidário, 1996). Pede um compromisso sem restrições de todos os Países com as conclusões do Conferência Mundial sobre alimentação promovido pela FAO (cf. Declaração de Roma, 13.11.1996). Como medida imediata, a Igreja solicita o cancelamento da dívida externa dos Países pobres, cujos serviços lhes estrangulam as economias e condenam à morte prematura crianças e idosos (cf. JOÃO PAULO II, Tertio Millennio Adveniente, n.º 51). Isto não exclui que também seja exercida maior vigilância, particularmente na América Latina, sobre a recente tendência a um novo e pesado endividamento, sem que os capitais recebidos sejam destinados a fins socialmente úteis. Talvez mais grave ainda que a “dívida externa” seja a “dívida social” que os próprios Estados nacionais e as classes dirigentes têm em relação aos seus próprios cidadãos. Para isso, não se precisa pedir nem esperar a benevolência alheia, mas simplesmente tomar uma “decisão política” séria e responsável para ir saldando-a.

A Igreja pode tornar mais visível seu compromisso de lutar pelo “desenvolvimento solidário” em toda a América, assumindo um compromisso simbólico.
É o caso do que foi proposto para o ano 2000: uma coleta ou “Campanha da Fraternidade” destinada a ajudar os mais pobres de Haiti, Nicarágua, Guatemala, El Salvador...

E os jovens?
- Dentre os 28 milhões de jovens entre 14 e 25 anos, 17,3 milhões são economicamente ativos, 46% trabalham sem carteira assinada, 40% são mulheres. Estes últimos exercem trabalho não remunerado, sendo comum a ausência de contrato, estabilidade e outros direitos sociais. O agravamento das condições de vida dos empobrecidos é um dos motivos que têm levado os jovens (e as mulheres, em geral) a ingressarem, cada vez mais cedo, no mercado de trabalho;
- A re-estruturação produtiva, incentivada por programas de modernização tecnológica e a implantação dos Programas de Qualidade Total, promove a redução de quase 1/3 dos postos de trabalho na indústria, atingindo especialmente a juventude, os que procuram o primeiro emprego, os que não têm qualificação especial;
- Há uma grande migração de jovens, tanto pela falta de Reforma Agrária como pela busca de trabalho e estudo.


Os jovens e o trabalho
- Duas pesquisas -
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. 72,1% trabalham e só 33,15 com carteira (as moças, proporcionalmente, ainda menos);
. 43,5% tem renda própria, 38,35% renda familiar e 16,59% não tem renda nenhuma (frente a 81,8%, que tem renda, em especial o grupo de 20 a 24 anos); 33,9% de 15 a 19 e 13,2% de 20 a 24 ;
. 31,2% ganham até 1 salário mínimo;
. estão contentes com essa situação (71,0%, de satisfatório e bom e 21,25 de muito bom e ótimo; e apenas 6,7% dizem que está ruim).

Belo Horizonte - 93
. Há um ingresso prematuro dos jovens na força de trabalho, apesar do desemprego de muitos e a declaração de alguns de que “preferem” só estudar.
. O grau de satisfação com a ocupação, com os salários e com o tipo de relacionamento no emprego manifesta pouca percepção dos conflitos nas relações de trabalho.
. Esta alienação é reforçada pela baixa taxa de jovens trabalhadores sindicalizados e o número considerável dos que não possuem carteira de trabalho assinada.


Fazer o levantamento de dados sobre a economia dos jovens: trabalho, carteira, salário...

3. Mudança na área política
As mudanças econômicas tiveram importantes repercussões políticas, provocando um enfraquecimento dos Estados nacionais, que nos últimos anos têm encontrado crescentes dificuldades na regulação da economia, sempre mais dependente de decisões que envolvem outros Países e centros financeiros internacionais. A isto se acrescenta a dificuldade técnica de planejar ou dirigir uma economia sempre mais complexa, o que contribuiu para a crise mais ampla das economias socialistas e seu envolvimento - cheio de contradições - com o capitalismo mundial.
A crise política, no final dos anos '80 e início dos anos '90, desembocou na crise dos governos e dos partidos que os sustentavam desde o fim da Segunda Guerra Mundial, em quase todos os Países do Primeiro e do Segundo Mundo. Ela revelou o enfraquecimento do Estado, seja pela perda de poder efetivo na área econômica, seja pela corrupção interna e principalmente, pela dificuldade de satisfazer às exigências de uma sociedade extremamente fragmentada, em que se multiplicam as reivindicações contraditórias por parte dos sempre mais numerosos e diversificados grupos de interesses. A crise desafia também os sindicatos e os movimentos sociais, exigindo deles uma lucidez maior sobre as novas condições da sociedade e os meios de superar o individualismo crescente.
A fragmentação da sociedade civil, de um lado, e a complexidade da administração pública, do outro, dificultam a participação democrática, a não ser que as próprias instituições políticas se renovem e a democratização se estenda a todos os níveis da vida social, inclusive ao controle da informação. O que se tem visto, porém, inclusive no Brasil, é que, ao lado de avanços democráticos relevantes, continua a pesar sobre a vida pública a intervenção de grupos economicamente fortes, com interesses corporativos e restritos, que usam intensamente dos meios de comunicação social de massa para influenciar a opinião pública, aproveitando-se da crise de credibilidade do sistema político tradicional. O cidadão, nestas circunstâncias, tende a virar mero espectador, enquanto os meios de comunicação apresentam sempre mais a vida pública de forma sensacionalista e espetacular, esvaziando ou escondendo as questões de real interesse geral.
O empobrecimento das massas, o crescimento do crime organizado e do tráfico de drogas, o enfraquecimento do Estado, a persistência e até o revigoramento de uma cultura autoritária que despreza os direitos do fraco, o esgarçamento - especialmente na grande metrópole - dos antigos vínculos comunitários têm gerado - no nosso País e em muitos outros - um assustador aumento da violência e da criminalidade, cujas vítimas são, antes de tudo, os jovens trabalhadores da cidade, mas também - em grande medida, principalmente nos casos de violência doméstica - crianças e mulheres. Testemunho disso são, nas cidades, os numerosos “meninos de rua” e a formação de “gangues” de adolescentes.
O resultado mais perverso de todas essas causas da crise social da atualidade é o fenômeno da exclusão (sobre o qual se debruçou a Campanha da Fraternidade de 1995 da Igreja no Brasil). A exclusão significa que o atual sistema econômico-político, que até há pouco era criticado pela exploração das massas de trabalhadores, tende agora a rejeitá-las, porque desnecessárias como mão-de-obra e desinteressantes como consumidores de baixa renda. Antes, chega a vê-las como perigosas para a sociedade e a considerá-las como criminosos em potencial, após tê-las marginalizado.
As reformas econômicas e políticas propostas nestes momentos não dão garantias quanto à superação das principais dificuldades, muito pelo contrário estão acentuando as distorções da má distribuição da renda, da falta de emprego, da brecha entre ricos e pobres, das falhas nos empreendimentos em políticas sociais...
Percebe-se, às vezes, desconfiança nas instituições e há certos apelos ao messianismos dos líderes e, não raro, certas nostalgias de soluções autoritárias.

Desafios políticos
A situação política, apesar dos progressos registrados com a superação dos regimes militares, é caracterizada por novas ameaças à democracia e pela ambigüidade como ela é exercida através de representantes eleitos, desligados dos interesses populares e freqüentemente envolvidos em escândalos de corrupção. O poder econômico, organizado em empresas mais poderosas que muitos Estados nacionais, esvazia o poder político nacional ou o instrumentaliza em favor do interesse de poucos. Por outro lado, a economia corrompe os políticos e aumenta a desconfiança do povo, que se sente impotente face às grandes questões nacionais e se reduz à reivindicação de benefícios imediatos, numa atitude corporativista que tende a sacrificar ainda mais os pequenos e fracos. Em casos extremos, o povo desesperado recorre à violência para defender que acredita serem seus direitos. Grupos organizados recorrem ao terrorismo e a espúrias alianças com os comerciantes da droga.
A falta de um “ethos” democrático enraizado, particularmente nas sociedades latino-americanas de origem colonial e tradicionalmente sujeitas ao autoritarismo político, é ulteriormente reforçada pelo uso inescrupuloso da informação e da comunicação social, à procura da manipulação da opinião pública, particularmente da massa menos instruída da população. O princípio da autodeterminação dos povos, tantas vezes exaltado como patrimônio da tradição americana, é esquecido para impor, com toda forma de pressão, a vontade de um País sobre outro.
As perspectivas para o próximo futuro dependem principalmente das decisões políticas a serem tomadas. Somente uma enérgica retomada do primado da política - e, portanto, da ética na política: do bem comum, da democratização, do interesse público - sobre a economia e os interesses privados ou particulares poderá inverter as atuais tendências de uma sociedade que, abandonada à lei do mais forte, só pode caminhar para um aprofundamento das desigualdades, o acirramento dos conflitos, a difusão do arbítrio e da violência. Esta mudança não é possível sem uma mudança ética e cultural.
É necessário despertar a consciência ética diante dos problemas sociais, percebendo-se que a existência de milhões de empobrecidos é a negação radical da ordem democrática. Exige-se a busca de uma nova articulação entre políticas econômicas e políticas sociais para uma justa distribuição de rendas.

As posições da Igreja face à política
A Igreja, diante dessas situações, esforça-se para defender a ética na política e, portanto, o aprimoramento dos regimes democráticos, contribuindo para a formação de atores sociais, sobretudo entre os jovens, com forte motivação ideal e promovendo a participação e a corresponsabilidade em todos os níveis, embora nem sempre com a intensidade e a coerência necessárias. Mesmo assim, observadores independentes reconhecem que, na história recente da América Latina, a Igreja Católica tem feito mais pelo povo e os direitos humanos que a burguesia ilustrada e os intelectuais (cf. Alain TOURAINE).
A Igreja apoia a participação popular nas comunidades locais, nas escolas, nos organismos de saúde pública e de proteção da infância e adolescência. A participação dos pobres nas decisões a respeito das políticas que lhes dizem respeito e a valorização do seu trabalho, com que corajosa e criativamente enfrentam situações extremamente adversas, são condições necessárias para a defesa da sua dignidade humana e para a própria eficiência das medidas econômicas e sociais postas em ato.
A Igreja apoia também a reforma e a agilização do Estado, para melhor desempenho de sua função, não para reduzi-lo ou eliminá-lo. Aprova também a busca de integração entre os atuais Estados nacionais e a criação de organismos internacionais para a salvaguarda dos direitos e a cooperação.


E os jovens?
As mobilizações das “Diretas, já” ou dos “caras pintadas” contra o governo Collor foram fatos surpreendentes para o País, onde já se decretara que o individualismo político tomara conta dos jovens. Muitas análises já se têm feito a respeito das manifestações daquele ano, relacionando-as, por exemplo, com as mobilizações contra a ditadura militar, nos “Anos Rebeldes”, da década de 1960 e 1970. Há grandes diferenças na conjuntura que mobilizou os jovens, na luta por cidadania, nestes dois episódios. Mas, o que mais chama a atenção são as mudanças na configuração dos jovens manifestantes. Nos anos ’60 havia a hegemonia dos estudantes da classe média alta, integrando o movimento estudantil que lutava contra a ditadura. Na união de operários e estudantes, a liderança estava mais com estes. As manifestações de 1992 mostram uma heterogeneidade bem maior. Jovens de várias origens e classes sociais se encontram numa extensa diversificação de espaços de convivência e com grande variedade de estilos de expressão. Isto se refletia no movimento dos “caras pintadas”, onde a tropa de choque eram, novamente, os estudantes.
Depois das manifestações de ‘92 parece que a juventude deixou as ruas. Será que se acomodaram de novo? Cadê os “caras pintadas”? Será que as forças da apatia e do individualismo tomaram novamente conta dos jovens? O avanço do neoliberalismo não deixa mais rastros de mobilizações juvenis?
Olhando para a diversidade de grupos e movimentos político - juvenis organizados, descobre-se que a participação política da juventude está muito diversificada. Há grupos onde é viva e acontece muito mais do que se imagina, apesar do ceticismo e da manipulação, destacados pelos MCS. Há jovens que sentem-se atraídos pela participação em atividades de cunho social e podem escolher entre vários tipos de atuação, desde os movimentos estudantis, partidos, movimentos de bairros populares até as lutas de negros, mulheres, homossexuais...
As Pastorais da Juventude, nos anos ‘80, foram, muitas vezes, o primeiro passo de consciência crítica para uma geração de militantes. Muitos deles são importantes lideranças na esquerda hoje. O jovem dos anos ‘90, além da preocupação política, com a ética e com a mudança social, preocupa-se com as particularidades da vida pessoal, com as questões da subjetividade e da espiritualidade que dá sentido ao que faz.
Como está a participação política dos jovens com quem você convive?
Pode valer a pena fazer “entrevistas” ou “biografias” .

Juventude e política
- Duas pesquisas -
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. Há um interesse moderado de um grupo pela política que cresce proporcionalmente ao nível de escolaridade e renda dos jovens, embora um outro grupo significativo (40%) se diz desinteressado.
. A metade dos que se interessam não tem preferência por partido e um quarto deste grupo opta pelo PT , mas o grau de militância é ínfimo.
. Quanto ao regime de governo, quase na mesma proporção, são defendidos a democracia e o governo autoritário, aquela pelos de maior renda e escolaridade e este pelos mais pobres e com menos instrução.
. Quanto ao sistema de governo, o preferido pela maioria foi o parlamentarismo. Quanto à ideologia, a opção determinante é pela social-democracia, centro, centro-esquerda e esquerda.
. A pena de morte é defendida pela maioria dos jovens e reconhecem que existem na sociedade dois tipos de preconceitos: étnico-racial e o sócio-econômico.

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Para os jovens gaúchos a instituição mais confiável é a família (68,8%), seguida da Igreja (15,3%).

Movimento Sociais - 52,3% dos jovens crêem que os movimentos sociais são agentes de transformação, mas 41,7% os encaram como agentes de manutenção do status quo. Não há preferência decidida por algum movimento social. Mais ainda: 66,2% não são filiados a partido político nem pensam em tal e 37,1% não participa de nenhuma organização.

Mudança Social - 70,6% acredita que a sociedade justa e igualitária é possível, mas 28,6% não acredita (41,7% entre os não católicos). Isto significa descrença ou pragmatismo acomodado;
. 60,8% dos jovens acham que a mudança social é fruto da ação do governo junto com a participação popular;
. 38,5% dos jovens e 47,8% do povo (na opinião dos jovens) participa da política só votando;
. 59,1% afirma que os direitos do cidadão são conquista da luta social, mas muitos (22%) pensam que é por cumprir os deveres (questão de mérito de alguns e não de direito de todos). Parece existir forte tendência para a acomodação e a submissão (como é que fica a pobreza dos pobres?);
. para superar a opressão e a exploração o melhor é fortalecer as organizações populares (76,7%), mas muitos (22,0%) pensam que é preciso trabalhar mais (isto é, há muitos preguiçosos. Se há preguiçosos, como se pode falar de problemas de desemprego?). Qual o tipo de envolvimento dos jovens na solução dos problemas?

Participação em Partido Político, Movimento Popular, Sindical, Estudantil e Pastoral - Uma pequena minoria de jovens faz “de tudo”; um pouco mais da metade (57,7%) participam de alguma organização e 37,1% não participa em nada. Os que mais participam são os jovens da roça e os homens.

Governo - 70% afirmam que o governo deve atuar com a participação popular e ouvindo o povo, mas há 9,9% que afirma que o poder deve ser exercido por ninguém (anarquismo?) e 19,5% querem que seja exercido só pelos governantes. É muito forte o senso de participação, mas parece esquecer a praticidade (o quem e o como), uma espécie de anarquismo.

4. Mudanças culturais

Pluralismo de culturas e afirmação do indivíduo
Vimos como economia e política se tornaram autônomas e indiferentes face à ética e à religião. De alguma maneira, favoreceu-se a aparição de um pluralismo cultural, que as sociedades não conheciam até recentemente. Mudou o próprio sentido da cultura para o indivíduo. Ela deixou de ser um conjunto de normas obrigatórias para a interpretação e avaliação do mundo e da ação humana, e se tornou um rico e variado conjunto de oportunidades e escolhas acessíveis a todo consumidor. Não é muito exagerado dizer que também o mundo da cultura virou, por muitos aspectos, uma espécie de supermercado.
O processo de mudança cultural que deu origem ao que se costuma chamar de "modernidade" dura há quatro ou cinco séculos nas sociedades ocidentais. Interessa-nos aqui colher seus traços característicos e sua influência atual na sociedade brasileira.
A modernidade se caracteriza, antes de tudo, por um processo de diferenciação da sociedade, que perde a unidade orgânica que a caracterizava no período pré-moderno, interligando profundamente cultura, religião, economia, política e vida quotidiana. Resultado dessa diferenciação, evidente nas últimas décadas, é a tendência dos "subsistemas" econômico e político a tornar-se autônomos, auto-referenciais, sem vinculação com a ética e a religião (neste sentido a sociedade moderna é "secularizada"). Outra conseqüência é que a cultura, entendida aqui como o "mundo vital", onde as pessoas e os grupos formulam seus comportamentos e sua visão da realidade, passa a ser separada nitidamente do "sistema" econômico e político, o que abre o espaço a um conflito entre cultura (vida) e sistema (organização da sociedade). Acrescente-se que, na sua formulação ideológica, este conflito foi pensado por muitos como conflito entre uma conduta dominada pela tradição e uma conduta "moderna", dominada pela razão crítica e pela contínua experimentação do novo.
Na modernidade, ocupa um lugar central e sempre mais decisivo a tecnologia. As sociedades tradicionais também dispunham de tecnologias, criadas a serviço da própria sociedade, para satisfazer suas necessidades. Na sociedade moderna, sobretudo nos últimos anos, assistimos a uma inversão paradoxal: não é mais a tecnologia que está a serviço de um projeto humano, mas ela determina os rumos da sociedade, põe as pessoas humanas ao seu serviço, cria novas necessidades. O resultado é contraditório: de um lado, a tecnologia trouxe indubitáveis vantagens à humanidade. “Tornou a vida mais fácil, mais limpa e mais longa”. Por outro lado, o mau uso da tecnologia aumentou a desigualdade social e as discriminações, oferecendo a alguns muito mais do que necessitam e negando a muitos o mínimo necessário, condenando precocemente à morte milhões de seres humanos . O mais recente Relatório da ONU sobre o desenvolvimento (1994) atesta progressos relevantes: a extrema pobreza atinge ainda 32% da população mundial (contra 70% em 1960), enquanto um nível de vida satisfatório foi alcançado por cerca de 60% da população (contra 25% em 1960). Mas a distância entre pobres e ricos duplicou e 1 bilhão de pessoas gozam de uma renda 60 (sessenta) vezes superior à renda do bilhão de pessoas mais pobres. Junto com a desigualdade cresceram as guerras, a violência, o consumo de drogas, o crime organizado.
Nos últimos anos, no Ocidente e no Brasil, cresceu a consciência da crise da modernidade. Ela se revelou, antes de tudo, na falência das promessas modernas de "liberdade e igualdade" ou de “progresso” em favor de todos, promessas que - nos anos '60 do nosso século - tomaram a forma do "mito do desenvolvimento", prevendo um relativamente rápido acesso de todos os povos aos níveis de bem-estar e consumo dos Países "desenvolvidos". Já no final dos anos '60, a teoria do desenvolvimento foi criticada radicalmente na América Latina pela teoria da "dependência", que acabava propondo um corte nítido das relações econômicas com o Primeiro Mundo e uma libertação dos laços de dependência. No início dos anos '70, difundiu-se a crítica ecológica dos limites do crescimento, apontando a inviabilidade da extensão do nível de consumo dos Países ricos ao mundo inteiro, o que traria o rápido esgotamento dos recursos naturais, e propondo em troca o desenvolvimento "auto-sustentável", que não prejudicaria as gerações futuras.
Há um consenso bastante generalizado quanto à crise da modernidade. Mas há divergências profundas em sua interpretação e nas propostas de superação. Começou-se a falar em pós-modernidade, mas com vários sentidos: esgotamento e superação da modernidade; exasperação dos aspectos negativos da modernidade; primeiros sinais de uma nova época, que realizaria os sonhos ideais da modernidade (liberando-a dos "efeitos perversos" que a acompanharam até agora) ou que começaria uma sociedade diferente.
O consenso se estende ao diagnóstico dos traços característicos da modernidade e de suas tendências atuais. Parece claro que a separação sistema/cultura facilitou a diversificação desta última e a expansão do pluralismo cultural. O fenômeno é evidente também em sociedades modernas, até há pouco tidas por culturalmente homogêneas e que agora assistem ao ressurgimento de antigos particularismos étnicos, regionais, lingüísticos, etc., ao renascimento de nacionalismo e racismo, ou à fragmentação do universo cultural numa multiplicidade de "novas tribos". O Brasil (e outros Países semelhantes), que historicamente nasceu da convergência forçada de etnias, culturas e religiões diversas (índios, africanos, portugueses e outros imigrantes, inclusive do Extremo Oriente), ainda mais vai revelando um mosaico extremamente variado e apenas precariamente unificado de tradições ou núcleos culturais diferentes.
Mais típica ainda da modernidade é a tendência, estruturalmente ligada ao seu dinamismo econômico e político, para o individualismo. Ele não é apenas uma conseqüência do enfraquecimento dos laços comunitários e de solidariedade da sociedade tradicional. Ele é um valor proclamado e justificado pelos autores modernos, desde o século XVIII, época do Iluminismo. Hoje, em medida crescente, é assimilado pelas massas e condiciona o comportamento popular. A mudança cultural traz também uma valorização da subjetividade, da livre escolha pessoal, da liberdade e da consciência dos direitos fundamentais, decisivos para uma autêntica promoção humana. O outro lado dessa tendência seria o subjetivismo exacerbado, que leva ao narcisismo do indivíduo demasiadamente preocupado consigo mesmo, e que exalta o consumismo materialista como grande objetivo de vida, empobrecendo as relações pessoais e sociais. No limite extremo desse horizonte cultural encontramos “uma espécie de atitude prometeica do homem que se ilude de poder apropriar-se da vida e da morte para decidir delas, quando na realidade acaba derrotado e esmagado por uma morte irremediavelmente fechada a qualquer perspectiva de sentido e a qualquer esperança” .
À difusão do individualismo não são estranhos os grandes meios de comunicação social, particularmente a televisão. Ela gera um número crescente de espectadores e consumidores de imagens, que dedicam sempre menos tempo à vida social e comunitária, mesmo dentro de casa. Os espectadores estão expostos a maciços fenômenos de manipulação política, como se viu no Brasil e em outros Países, sobretudo onde os meios de comunicação estão concentrados nas mãos de pouquíssimos e faltam condições para a democratização da informação. A televisão e a informatização da comunicação contribuem também para estimular a difusão e o consumo dos mesmos bens materiais e culturais nos diferentes Países, criando as condições de um cultura global de massa, sem fronteiras, que abafa as culturas locais ou regionais.
Recentemente, no clima cultural que alguns classificam como “pós-modernidade”, o ritmo das mudanças e o caráter efêmero das contínuas novidades se tornaram exasperados. O fenômeno é facilitado pelo novo poder dos meios de informação, que permitem a comunicação instantânea com qualquer parte do mundo e induzem a decisões imediatas e emocionais, não refletidas e amadurecidas. Em conseqüência, as pessoas - especialmente as novas gerações - são induzidas a considerar provisórias e passageiras todas as atitudes e encontram dificuldade para aceitar um compromisso estável e definitivo, inclusive no Matrimônio e na vida consagrada e sacerdotal.
As reações a essas tendências variam, antes de tudo, segundo a condição sócio-cultural de indivíduos e comunidades (onde estas ainda existem!). A resistência à modernidade, sem deixar de assimilar seus avanços técnicos, é mais forte onde melhor se conservam as raízes da cultura tradicional e onde é possível exercer, com espírito crítico, um discernimento. Apesar do seu extraordinário poder, os modernos meios de comunicação de massa conseguem transmitir apenas parcialmente a mentalidade "moderna", alterando concepções e costumes a respeito de família, relacionamento, valores materiais e espirituais, política, religião... A cultura popular evolui, mas nem por isso desaparece ou se submete passivamente à nova cultura de massa.
As resistências à modernidade são menores nas grandes cidades e no meio da juventude. Entre os jovens convivem elementos aparentemente contraditórios, como: o cultivo de relações amorosas passageiras e a valorização da família, o refluxo sobre si mesmos e a busca de grupos de referência, como rapp, funk, gangues. A comunidade eclesial ainda atrai um número significativo de jovens e a prova disso são os 40 mil grupos que formam a Pastoral da Juventude do Brasil. Há muitos sinais de vida surgindo no meio dos jovens, apesar de poucos estarem engajados e preocupados com as grandes questões do País.
As reações às tendências dominantes da cultura atual variam, também, segundo a forma de pensamento ou a ideologia de seus críticos. Há um consenso bastante generalizado sobre a necessidade de uma nova postura ética e cultural, que leve não apenas à crítica dos valores da modernidade, mas também à transformação das estruturas econômicas e políticas (do” sistema").

Tipos de cultura atuantes em nosso meio
1. A cultura de massa: promete liberdade e impõe consumo. Esquematicamente, nos Países das Américas, pode-se constatar a presença de uma cultura de massa, alimentada e difundida pelos grandes meios de comunicação social, muito dinâmica, produzindo sempre novas e efêmeras modas de consumo. Isto acaba impondo ou reforçando uma mentalidade materialista, em que tudo é subordinado ao lucro e que chega às conseqüências extremas como: o uso e o comércio da droga; o recurso fácil à violência, o comércio de armas e o crime organizado; as diversas formas de corrupção, de desprezo da vida (assassinatos, eutanásia, aborto, etc.) e de exploração ou discriminação, inclusive de crianças.
Assim, paradoxalmente, a “cultura de massa” se apresenta como extremamente permissiva e oferece (em teoria) a liberdade de escolha. Na realidade, porém, procura impor a todos, e especialmente aos jovens, os mesmos modelos e até os mesmos vícios de comportamento e de consumo. Obriga a seguir as mesmas “modas” e afasta dos verdadeiros valores.
Muitas vezes, o próprio acúmulo de informações e de imagens, apresentadas em crescente velocidade, impedem o desenvolvimento de qualquer atitude reflexiva e crítica, reduzindo a cultura de massa a “entretenimento”.

2. A cultura científica: a serviço do povo ou do poder? Dela se distingue a cultura científica ou erudita, hoje dinamizada por uma extraordinária multiplicação dos conhecimentos e pelo interesse da economia em aplicar a ciência à tecnologia e à produção. Os produtos da cultura científica e artística são postos muitas vezes a serviço da cultura de massa. Apesar disso, a cultura científica é potencialmente uma reserva crítica. Pode guiar formas de defesa de valores fundamentais, como a verdade, a justiça, a liberdade... De fato, a modernidade é portadora de valores autênticos, que têm uma raiz cristã, embora tenham sido afirmados num contexto secularizado e, por vezes, contra a Igreja.

3. A cultura popular face à escolha: tradição ou modernidade? Face a essas culturas modernas, a de massa e a científica, a cultura popular resiste em nome de seus valores e de suas tradições (que na América são muitas: indígenas, negras, mestiças, de migrantes europeus ou asiáticos, de formação nacional mais recente, etc.). A cultura popular tem quase sempre profunda inspiração religiosa. Ela está, de fato, em conflito com a cultura de massa que pode valorizar aspectos ou produtos da cultura popular (ex.: música), ou pode marginalizá-la ou ignorá-la, substituindo progressivamente a produção local e popular por programas “enlatados” e importados.
A cultura popular, por sua vez, seleciona modelos e produtos da modernidade e da cultura de massa, integrando o progresso técnico, mas procurando preservar - não sem dificuldades e transformações - os valores de sua própria tradição. Infelizmente também deixa-se contaminar por muitos elementos, inicialmente alheios a ela, mas que terminam por serem introjetados, modificando-a negativamente. As previsões dos observadores não são unânimes quanto ao futuro da cultura popular; muitos temem que seja sufocada e, junto com ela, seja atingida a religiosidade do povo.
Todos estes fenômenos estão influenciando no relacionamento pessoal e entre as culturas.

O perigo do racismo. Apesar dos avanços da consciência histórica mundial, ainda interfere o grave preconceito do racismo. Tanto mais grave é este problema, quanto o nosso Continente é verdadeiro caldeirão racial com etnias indígenas, negras, asiáticas, européias. Como o racismo tem voltado com mais força, merece uma atenção especial das Igrejas. Nada ofende tanto o coração de Deus como o tratamento discriminado de seus filhos pela simples razão de nascerem de uma raça ou de pertencerem a uma cultura julgada inferior.

Belo Horizonte - 93
Cultura e Lazer
Quase a totalidade dos jovens são unicamente consumidores de produtos culturais, prevalecendo o gosto pela música, shows, televisão e rádio. Em detalhes: a) a maioria absoluta ouve rádio e TV muitas horas ao dia, optando por música e notícias; b) preferem os gêneros: aventura, romance e ficção; c) raramente lêem livros, quando em vez jornais e revistas e quase sempre quadrinhos; d) quase não praticam esporte diário e quando o fazem preferem futebol e volei nos fins de semana; e) a maioria procura formas de lazer que não impliquem em dispêndio financeiro.

Drogas
Há uma rejeição geral quanto ao uso próprio de drogas do tipo maconha e cocaína, e aceitação de bebidas alcoólicas e fumo, com tolerância decrescente quanto ao relacionamento com usuários, a partir dos mais escolarizados.

Afetividade e Sexualidade
A maioria dos jovens são solteiros, residem com sua família de origem. Quando residem só ou com outras família é porque sua família de origem não mora na cidade. Os relacionamentos com familiares e vizinhos são em geral harmoniosos e os atritos diminuem com a idade. Os jovens são altamente sociáveis e preferem estar em grupos.
A metade dos jovens namora ou são casados e tem relacionamento tranqüilo e harmonioso com o parceiro. Mantém grande intimidade afetiva entre si com envolvimento sexual. A informação e discussão de assuntos sexuais e afetivos é feita entre amigos e a sexualidade é considerada de primordial importância na vida dos jovens. Os jovens valorizam até certo ponto a virgindade e a castidade antes do casamento para as mulheres, mas a maioria é permissivo neste assunto. As relações homossexuais são reprovadas pela maioria; os jovens consideram normal o uso da masturbação e são a favor do uso de preservativos nas relações sexuais. Afirmam não seguir as orientações da Igreja sobre sexualidade, considerando o assunto de âmbito puramente pessoal.
Quase todos pretendem se casar e julgam dois o número ideal de filhos. Muitos jovens são favoráveis ao uso permanente de métodos contraceptivos, admitem o aborto em casos especiais e os que são contra, não admitem que seja um crime. Estão razoavelmente informados sobre AIDS, admitem o uso de preservativos e citam como fonte de informação os meios de comunicação social.

RS - 95
Cultura - A discriminação é algo que precisa ser superado para 86,7%, mas alguns dizem que é uma herança incurável (6,9%) e outros negam que exista (3,2%); a liberdade dos moços é igual que a das moças para 61,3%, mas 32,2% acham que os rapazes têm mais liberdade; 87,1% aprecia a tradição gaúcha, porque a tradição resgata valores importantes (70,1%), mas 11,2 % não a aprecia; para eles, os brasileiros são: lutadores (40,4%); festeiros (27,7%) - uma visão muito positiva do brasileiro, se “festeiro” significa algo positivo;

O grande veículo cultural é a música (53,2%) (especialmente para jovens da roça e muito pouco para as moças!); muito depois vem a literatura (15,2%), o cinema (13,3%) e o teatro (12,8%); os programas preferidos são noticiário (23,5%), esportes (21,3%) e humor (12%) ou entretenimento (11,6%). Parece que o importante é escutar notícias, mais não ler.
O principal valor da vida é: ser consciente e atuar na sociedade (47,7%) e a realização pessoal e profissional (38,3%); e o futuro será melhor, segundo 86,8%, mas alguns pensam que será pior (5%) ou igual (6%). O futuro melhor pode ser real mesmo sem haver justiça e igualdade (como mostram dados anteriores), isto é, o futuro melhor tem maiores ressaibos de individualismo do que de coletividade.

Psicologia e afetividade - 51,1% afirma que o mais importante é a amizade; 21% o companheirismo e 20,3% os laços familiares; o namoro é mútuo conhecimento da construção do projeto comum de vida para 71,6%, mas 20,7% insistem mais na preparação para o casamento. O fundamental é a fidelidade (54,5%), mais importante que a liberdade (13,6%); em 2º lugar está a complementaridade (27,0%). São rejeitados violentamente o namoro que é passatempo e o namoro como status. Para o jovem o namoro não é uma formalidade; é a vivência profunda de um relacionamento.
Na vivência da sexualidade pesa mais o afeto, o prazer e o amor (64,1%) e a convivência (27,9%), do que a satisfação biológica, a “transa” (5,8%). O sexo tem que ser com alguém de confiança (58,1%) e tem muito de experiência e curiosidade (9,8%). Isto parece valorizar o individual e não o relacional. O sujeito olha para si mesmo, procurando a felicidade própria e não ele, sendo feliz, na relação. Não esqueçamos, com isso, o peso que tem a “convivência”. Também transparece a seriedade com que os jovens encaram esta realidade.

Drogas - São fugas dos problemas sociais e familiares (61,0%) e devem ser reprimidas (28,9%). É essa a opinião dos jovens ou uma introjeção da sociedade? Quem usa droga é uma pessoa fraca, sem força de vontade (62,6%). Isto é, os jovens são a favor da repressão às drogas mas contra a repressão das pessoas viciadas.


Revisar
RS - 95 - Eles têm consciência crítica?
+ 56% dizem que os MCS encobrem a verdade;
+ 52,3% dizem que os movimentos sociais são agentes de transformação;
+ 60,8% afirmam que a mudança social é fruto da ação do governo junto com a participação popular;
+ 62,7% dizem que a sociedade é resultado da ação do homem;
+ 59,1% afirmam que os direitos do cidadão são conquista da luta social.

Mas de fato:
= Os principais valores da vida são a realização pessoal e profissional (38,3%) e ser consciente e atuar na sociedade (47,7%), isto é, estão em choque o subjetivo da pessoa e o sujeito como ser social;
= Muitos não confiam na realização de uma sociedade justa e solidária; mesmo assim estão plenamente satisfeitos e parece que não precisa mudar;
= Há um alto valorização da participação, mas poucos participam de movimentos sociais, sindicatos e partidos políticos;
= Os direitos humanos parecem mais um mérito de quem cumpre o seu dever do que um dom natural .

Parece que:
= Os jovens gaúchos têm dois discursos: o da insatisfação teórica e o da satisfação disfarçada...
= Não tomou corpo na juventude um projeto político e econômico que sonha e luta por igualdade de todos. Está longe a verdadeira consciência crítica que vê no pobre e no excluído uma vítima de um sistema que oprime e explora.
= Pior: não se acredita na necessidade da transformação; não há empenho para se engajar nesta conquista através de instrumentos que a sociedade pode ter.


Uma espécie de resumo
Em BH
A pesquisa mostra nas suas grandes linhas que a juventude da RMBH conserva-se dentro dos padrões básicos da juventude brasileira. É um perfil com traços fortes de conservadorismo, consumismo, individualismo, alienação no campo social e político e de defesa do liberalismo econômico. Uma juventude com poucos ideais maiores, diferente da juventude das décadas de ’60 e ’70.

No RS
O “imaginário” é a utopia. No campo da utopia, os jovens de RS se encontram em muitos pontos. Na realização da utopia, no entanto, há violentas contradições. O real e o imaginário não se encontram na prática. O jovem sente dificuldade de traduzir, para a prática, o que considera como ideal.
Há instituições que são mais fortes, na utopia do jovem gaúcho, do que em geral se afirma. Chamaríamos a atenção para o campo dos Meio de Comunicação Social e da família. A consciência crítica juvenil tem aspectos espantosos, caindo em contradições que necessitam maior atenção e uma prática educativa mais decidida. Os valores da vida encontram-se enraizados de forma firme, mas há necessidade de cultivo.

Mudanças nas relações humanas. As relações humanas ficaram muito facilitadas pelos avanços científicos e técnicos. Carros, trens, aviões e jornais, TVs, shoppings, festas, redes de comunicações, telefone, Internet... ajudam a conversar com as pessoas, encontrá-las, trocar informações... E isso pode ser feito perpassando fronteiras e línguas, países e culturas.
A mulher vem conquistando seu lugar, sendo reconhecida e valorizada em sua identidade específica, em sua dignidade. Vem participação ativamente nos destinos da sociedade, do mundo e de si própria. Ela traz para toda a humanidade um novo padrão no modo de sentir, pensar, planejar, trabalhar, conviver. Um dos campos mais atingidos pela presença e atuação da mulher é o da educação em todos os níveis, principalmente no lar e na escola e na comunicação, equilibrando em boa hora o predomínio do estilo masculino de ser e de conduzir a formação humana e a história. Esta realidade auspiciosa é, ainda, muito contrastada por terríveis situações de discriminação e violência de todos os tipos contra a mulher.
São claras as influências sobre a família, que passou do mundo rural ao urbano através de grandes transformações e hoje sofre mudanças drásticas. Mudam-se os modelos familiares e as maneiras de compreender a educação.
Um assunto especialmente relevante é o da violência na família, fruto de múltiplas causas. É verdade que a violência entra na família escancaradamente pelos MCS, mas entra também sorrateiramente pela falta de condições de vida, pelos baixos salários, pelo desemprego, pelas próprias autoridades que deveriam guardar a ordem e a paz. E entra, também, infelizmente, pela ação dos próprios membros da família com seus preconceitos e maneiras de se relacionarem e agirem entre si.
Os costumes das pessoas de outras culturas e grupos étnicos são apresentados nos informativos dos MCS e ficam conhecidos. Com isso se pode aprender novas maneiras de resolver problemas e outros caminhos para realizar a vida humana. Podem eliminar-se, assim, mal-entendidos e preconceitos raciais e culturais.
Assistimos, por um lado, a um surgimento crescente de grupos e instituições que reivindicam sua autonomia e identidade próprias (ONGs, Movimentos Indígenas e Afro-Americanos, minorias organizadas, nacionalismos variados, etc.). Mas, por outro lado, há um recrudescimento da discriminação racial e contra as minorias. Sabemos, também, que ninguém nasce preconceituoso. Há, pois, influências que levam a isso.
É importante reconhecer que nenhuma força legal é suficiente para tornar possível a convivência respeitosa e solidária. Os ideais não se impõem nem se exigem. Só se chega a eles pelo convívio vital e dialogante. As relações humanas educam e a educação as aperfeiçoa. Em outras palavras, relações humanas e educação são uma via de mão dupla.

O que pensar de tudo isso?
Cada um de nós precisa perceber as contradições de hoje: de um lado, televisão, audiovisuais, informática, parecem nos colocar em contato com o mundo inteiro; por outro lado, porém, as pessoas - inclusive os jovens - se fecham sempre mais num “mundinho” pequeno: a casa, a telinha da TV ou do computador, poucos amigos, o barzinho... E ainda: aparentemente cada um pode fazer o que quiser (“você decide!”), mas na realidade somos conduzidos pela mídia lá onde o poder econômico quer que gastemos nosso pouco dinheiro.

Fazer “entrevistas” ou “biografias” para perceber as mudanças culturais

5. Crise ética
A evolução da sociedade moderna tem trazido também uma grave crise ética, da qual a opinião pública tomou consciência, ao menos parcialmente, nos últimos anos, sobretudo com relação à ética pública . Aqui basta retomar o resultado desse processo histórico e ressaltar os desafios que ele apresenta à ação da Igreja neste final de século.
A tese característica dos pós-modernos é que o pluralismo ético não é somente um fato inevitável, mas um valor e uma garantia das liberdades individuais e das diferenças culturais. Um pluralismo ético "de fato" era reconhecido, geralmente, desde o século XVIII e, sobretudo, após o desenvolvimento dos conhecimentos antropológicos no século XIX. Significava tomar consciência de que as diversas etnias, civilizações e culturas se inspiravam em valores ou princípios éticos diferentes. Mas era convicção da modernidade que a razão humana, considerada única e universal pelo pensamento iluminista, poderia reconduzir a ética a princípios igualmente universais e aceitáveis por todos.
A pós-modernidade, ao contrário, desconfia desta razão universal, à qual atribui pretensões totalitárias, historicamente responsáveis pelo esmagamento ou a tentativa de eliminação das diferenças e das minorias e, em última análise, da liberdade individual. Teoriza, ao invés, as vantagens práticas do pluralismo ético, enquanto ele reconhece igual valor a todas as formas concretas e particulares de "ethos", assumidas por indivíduos ou grupos. Além disso, considera inviável a superação teórica das diferenças éticas, pois não haveria ética universal capaz de unificá-las.
A afirmação de que “nenhuma proposição universal é válida" é, em si mesma, contraditória, pois nega validade universal à própria afirmação. Assim não se pode afirmar a impossibilidade de uma ética universal, embora ainda não se possa dizer - neste momento do debate - qual ela é. Mas reconhecemos que existem esforços neste campo como na Declaração Universal dos Direitos Humanos, na defesa da Democracia como valor e nas buscas de consenso em questões de proteção do meio ambiente. Esta contradição intrínseca da afirmação de um pluralismo ético absoluto torna-se ainda mais clara no plano prático. Admitindo que todas as concepções éticas sejam igualmente válidas e que não exista uma ética universal, as democracias modernas se encontram diante de um impasse. Não podendo reduzir todos os problemas da convivência social a questões meramente técnicas, racionalmente solúveis, nem podendo apelar para uma concepção ética partilhada por todos, acabam recorrendo ao voto da maioria. Assim fazendo, questões eminentemente éticas (como, por exemplo, as leis sobre o aborto, a assistência a doentes e pobres, a acolhida a imigrantes e estrangeiros...) são resolvidas pelo voto. Isto significa que a concepção da maioria desconsidera ou sacrifica a concepção ética e os direitos das pessoas. “Amplos setores da opinião pública justificam alguns crimes contra a vida em nome dos direitos da liberdade individual” (EV 4). A "defesa das diferenças" acaba se transformando simplesmente na afirmação da vontade do mais forte.
Esta tendência é hoje dominante nas sociedades "desenvolvidas" e se choca com o ensinamento da Igreja, inspirado na busca de uma liberdade que não sacrifique a verdade, mas sobre ela se fundamente . Em outras palavras, a Igreja reconhece uma ética universal, com fundamento ontológico, embora admitindo que o discernimento da norma universal nos casos particulares - na historicidade da existência - possa apresentar sérias dificuldades.
A posição da Igreja: compreender, alertar, resistir
Face à realidade cultural de hoje a Igreja têm alguns deveres irrenunciáveis. Deve compreender o que está acontecendo. Deve alertar face às mentiras da cultura de massa. Deve estimular a resistência a quem nos conduzir apenas para o mundo do egoísmo e do consumo. Deve defender os valores sagrados da vida e a cultura do povo. Deve lutar contra o racismo e a discriminação, ajudando a preservar os valores das culturas indígenas e africanas, que os europeus destruíram ou escravizaram no Continente americano. Deve evangelizar não apenas os indivíduos, mas a cultura.
Deve contribuir para afirmar a dimensão transcendente da pessoa humana, que é reduzida muitas vezes a simples espectador de situações e programas onde sempre mais predominam violência, sexo e dinheiro, e é privada de sua liberdade. A modernidade ressaltou, sem dúvida, muitos valores concernentes à pessoa humana, mas sem superar o individualismo. A Igreja tem consciência de um particular dever de defesa do valor da pessoa humana porque “pela sua encarnação, Cristo, o Filho de Deus, uniu-se, de certo modo, a cada homem” (GS 22). O Papa João Paulo II não hesita em afirmar: “O Evangelho do amor de Deus pelo homem, o Evangelho da dignidade da pessoa e o Evangelho da vida são um único e indivisível Evangelho” (EV 2).
Parece confirmada a hipótese, já formulada nos anos ’60, de que a grande mudança realizada nas últimas duas ou três décadas é a conquista da “autonomia do indivíduo”, pela qual o indivíduo moderno considera sua própria identidade como uma questão privada, em que ele mesmo constrói o sentido que quer dar à sua vida.
Os desafios, que a crise ética atual põe à Igreja, podem ser reduzidos fundamentalmente a dois:
- contribuir para que a sociedade democrática reconheça a necessidade de um fundamento ético comum, além da mera vontade subjetiva dos indivíduos ;
- contribuir para a educação da consciência moral dos cidadãos nas condições específicas da sociedade brasileira, o que exige a superação de um "ethos" tradicional marcado pelo autoritarismo e particularismo, bem como evitar as armadilhas do individualismo moderno na busca de uma ética da solidariedade e do reconhecimento da dignidade de toda pessoa humana .

E os jovens?
As mudanças culturais encontram na juventude um caldo de cultivo muito especial. E os MCS veiculam tudo como apelos em nome da “modernidade”. Tudo o que é novo, mesmo sem discernimento nenhum é apresentado com cara jovem: há uma espécie de “juvenilismo” em todo o campo da comunicação e, por tanto, da vida humana toda.
As redes de convivência dos jovens se dispersaram. A cultura e a sociabilidade dos jovens não estão centralizados aqui ou acolá e os espaços de organização e participação da juventude se multiplicaram. O pluralismo de espaços de atuação possibilitam o envolvimento de mais jovens no exercício da cidadania, por um lado, e por outro, gera conflitos e dificuldades no interior dos movimentos e na capacidade de atrair mais jovens para a participação política organizada.

6. O Pluralismo religioso, um desafio inesperado
Junto com o pluralismo cultural e ético, a sociedade brasileira é hoje marcada pelo pluralismo religioso. Este pluralismo se acentuou nos últimos anos, tanto no plano quantitativo quanto na variedade das formas. As pesquisas mais recentes parecem confirmar que permanece, no povo brasileiro, uma religiosidade de fundo. Bem poucos são os brasileiros que se declaram ateus ou dizem não acreditar em nada. A Igreja continua como a instituição mais confiável (com 58 % de “confia sempre” e 16% de “confia na maior parte das vezes”) .
A porcentagem dos que se declaram católicos, porém, continua diminuindo. O fenômeno é mais evidente nas cidades e, com o aumento da urbanização, tornou-se ultimamente mais visível. Hoje estão disponíveis os dados de pesquisas por amostragem que, mesmo podendo ter pequena margem de erro, são adequados para delimitar o fenômeno. Uma pesquisa de agosto/setembro de 1994, que sondou as preferências eleitorais de quase 21.000 eleitores, encontrou uma porcentagem de cerca de 75% de católicos, de 20% de outras religiões e 5% sem religião nenhuma .
Entre os que declaram pertencer a outras religiões, 3,4% dos eleitores são protestantes “históricos” ou tradicionais; 9,9% são protestantes pentecostais; 3,5% são espíritas kardecistas; 1,3% se dizem ligados a cultos afro-brasileiros; e 2% pertencem a outras religiões ainda (como islamismo, judaísmo, budismo, Seicho-no-iê, Perfeita Liberdade, etc.).
Uma novidade dessa pesquisa é que ela procurou medir também a diversidade interna do catolicismo. Assim os católicos incluiriam 1,8% dos eleitores (ou seja, quase dois milhões de pessoas) ligados às CEBs, 3,8% dos eleitores (ou quase 4 milhões de pessoas) ligados à RCC (Renovação Carismática Católica) e 7,9% dos eleitores (ou quase 8 milhões de pessoas) ligados a outros movimentos católicos (de jovens, de casais, etc.). Os outros católicos (61,4% da população) não estão ligados a nenhum movimento específico e são classificados como “tradicionais”. As diferenças nas intenções de voto dos diversos grupos confirmam a diferenciação interna, ao menos no plano ideológico e político, dos católicos.
O pluralismo é maior nas grandes cidades, onde a porcentagem de católicos é a mais baixa; por exemplo: Rio de Janeiro, 59,3%; São Paulo, 65,2%; Salvador, 65,3%. Os católicos são proporcionalmente menos numerosos nas Capitais e Regiões metropolitanas; estão próximos da média geral nas cidades grandes e médias do interior; são proporcionalmente mais numerosos que as outras religiões nas cidades pequenas. Os números apontam, portanto, para os católicos, o desafio da pastoral das grandes cidades. Mas também as outras religiões têm uma distribuição geográfica que não é uniforme. Em geral, todas elas são relativamente mais numerosas nas Capitais e Regiões metropolitanas do que no interior. Muito fraca é a presença de espíritas e kardecistas nas cidades pequenas. Os pentecostais estão mais presentes nas cidades pequenas do que nas médias e grandes do interior.
Há diferenças notáveis também entre Estados e Regiões. A Região mais católica do Brasil é o Nordeste (80,4% de católicos entre os eleitores), seguida pela Região Sul (78,4%). Mais fraca é a presença católica no Sudeste (71.4%) e nas Regiões Norte e Centro-Oeste (71,2%). Nestas últimas há a maior concentração de pentecostais (14,6%, enquanto a média nacional é 9,9%). Os protestantes históricos (no caso, principalmente luteranos) são mais numerosos no Rio Grande do Sul (7,4% da população com direito a voto). Os espíritas kardecistas (média nacional: 3,5%) são mais freqüentes nas Cidades de São Paulo (8%) e Rio de Janeiro (7,5%). O candomblé é mais numeroso em Salvador (mesmo assim apenas 2,1% se declaram ligados a esta religião) Os cultos afro-brasileiros em geral são mais presentes na cidade do Rio de Janeiro (4,9%), que também é o lugar onde um maior número (11,1%) se declara sem religião.
A simples declaração da pertença a uma ou outra religião, como na pesquisa acima citada, permite traçar um quadro apenas geral da configuração religiosa do País. É sabido, por exemplo, que há muitos brasileiros com dupla pertença religiosa ou que transitam com facilidade de uma religião a outra, ou ainda constróem sua própria visão religiosa com elementos de diversas procedências. Além do mais, a pesquisa citada não considera a maior ou menor assiduidade à prática religiosa. É importante, por isso, procurar fazer uma análise qualitativa do fenômeno. Ela não difere muito daquela que já fazíamos há quatro anos .
Um primeiro fenômeno a ser assinalado, ligado à tendência moderna para o individualismo o elevado número de brasileiros que reduzem a religião a uma convicção interior, pessoal, a uma religião “invisível”, que abandona total ou quase totalmente as práticas comunitárias. As pesquisas recentes indicam, nas grandes cidades, que 8 a 10% das pessoas - principalmente homens abaixo dos 50 anos - declaram-se desligados de qualquer religião. Além disso, há uma porcentagem elevada de católicos (cerca de 2/3) que têm uma prática religiosa rara ou nula. É este, certamente, o maior desafio para a ação evangelizadora da Igreja.


Compreende-se, assim, como muitos católicos não receberam claramente o primeiro anúncio de Jesus Cristo, nem passaram pelo processo de crescimento e amadurecimento pessoal da fé, através de uma verdadeira experiência catequética. Não é, então, de se estranhar que estes católicos não sintam uma vinculação atual com a Igreja e sejam atraídos por outras religiões, agora que mudaram as condições culturais, em especial pela acelerada urbanização.
Outro fato, que ajuda a compreender os dados e as pesquisas, é a coincidência da renovação conciliar com a aceleração do processo de modernização de nossa sociedade. Um terço dos católicos declaram participar regular ou assiduamente da vida da Igreja. Neles podemos reconhecer o contingente de leigos mais conscientes, que assumiram a renovação conciliar. A grande porcentagem dos que estão desligados de qualquer prática religiosa católica coincide com o expressivo número dos que têm enfraquecido os laços religiosos tradicionais. Não se identificam mais com suas devoções antigas, nem aderiram à nova orientação da Igreja.
A renovação pastoral recente tem melhorado notavelmente a prática religiosa e o apostolado social dos católicos mais ligados às comunidades eclesiais e aos novos movimentos, desde a Ação Católica até os mais recentes. Mas a maioria dos católicos ainda não participa da vida da Igreja, nem é alcançada pela ação evangelizadora. Depois de quase 500 anos de evangelização, o Brasil ainda é um País de missão. O clero é ainda relativamente escasso (1 padre para cerca de 7.500 católicos ). Apesar dos recentes progressos, a evangelização precisa da multiplicação das vocações sacerdotais e religiosas e da atuação dos leigos.
O contexto da modernidade, gerador de mudanças e, portanto, de provisoriedade e incerteza, tem produzido reações diversas. Alguns rejeitam radicalmente a modernidade e se apegam exclusivamente ao passado. Muitos buscam alguma forma de segurança.
Esta busca de segurança pode se manifestar em duas atitudes religiosas tendencialmente opostas: o fundamentalismo, que encontra a segurança na aceitação cega de formulações históricas da fé, tidas como originárias e imutáveis, e o sentimentalismo, que valoriza a religiosidade enquanto faz parte dos sentimentos e emoções do indivíduo, e, portanto, constitui uma experiência pessoal e subjetiva indiscutível.

Terminamos esboçando, com base na sugestão de um estudioso , um quadro de conjunto, procurando cruzar os dados sócio-culturais com as atitudes propriamente religiosas. Podemos distinguir cinco situações ou faixas de população:
- pessoas ou grupos de inspiração católica e cristã de tipo tradicionalista, com uma visão fixista da fé, desvinculada da vida, que não percebem as exigências éticas do Evangelho e geram ou conservam as estruturas injustas da sociedade, a pobreza e a violência;
- pessoas ou grupos com profunda religiosidade católica popular que têm uma vivência profunda da fé, mas em termos pré-modernos, com pouca articulação entre a fé e a ética; são, porém, as vítimas e não os responsáveis pela situação de injustiça, que os faz sofrer; são a grande maioria dos pobres, talvez um terço da nossa população;
- pessoas ou grupos que pertencem ao Brasil “moderno” e que geralmente não têm uma inspiração religiosa (ou evangélica) em sua vida; são “secularizados”, mas ocupam um lugar privilegiado nos modernos meios de comunicação social e como formadores de opinião, propondo novos sentidos, valores, padrões de comportamento e relações;
- pessoas e grupos, talvez pouco numerosos ainda, que representam a emergência de uma nova cultura e de um empenho de inspiração cristã na transformação da sociedade, na busca de uma convivência mais humana e de relações sociais mais justas;
- pessoas e grupos marginalizados, que a Igreja atinge apenas em parte e com grande dificuldade; pessoas marcadas por um contexto opressor e desumano, como é o mundo do crime, da prostituição, das drogas, dos menores abandonados...

Os jovens e a Religião
- Duas Pesquisas -
BH - 93
. Somente 65,6% dos jovens se dizem católicos contra o 73,4% da população geral da Região Metropolitana.
. Da mesma forma, cresce o número dos jovens que se declaram ateus (2,1%) e sem religião (17%).
. Há uma predominância da freqüência feminina nas práticas religiosas entre os católicos.
. Os jovens católicos vêem sua Igreja como liberal e transmite segurança.
. É acentuado o individualismo nas práticas religiosas, reforçado pela pequena participação em atividades comunitárias.
. Há certo descomprimimos com as formas institucionalizadas do culto e uma percepção de equivalência de valor entre as diversas religiões.
. Como principal função da Igreja é apontado o contato com Deus e a ajuda ao próximo.
. A maioria nega o valor da participação da Igreja na política. Quem a admite estabelece dois limites: conscientizar sobre a realidade sócio-política e manifestar sua posição em relação às questões éticas e morais.
. A maior parte dos que abandonaram uma religião anterior procedem do catolicismo.
. Os que abandonaram o fizeram por decepção com a Igreja e pela falta de interesse.

RS - 95
- 84,8% dos jovens afirma Deus como Pai, força e luz presente na vida, isto é, Deus não é uma autoridade simplesmente, mas é Pai; não é uma iluminação racional, mas energia e luz na caminhada. É um dado fora de polêmica: um Deus que faz história com eles
- A religião é o meio de ligar o homem com Deus (81,4%), não é alienação, não é descartável e é necessária; as religiões devem dialogar (60,8%);
. A melhor maneira de expressar a fé é participar da vivência comunitária (40,4%) ou entrar nas lutas de libertação (24,9%); o jovem participa sempre da comunidade (50,2%), e 30,6% rezam pessoalmente; 72,9% participa de alguma igreja e 15,3% não participa;
- Quem se afastou (ou afastaria) da Igreja foi pelo descompromisso dos fiéis (25,7%) ou pela ganância dos responsáveis (“só querem dinheiro”, 23,9%) ou pelo formalismo nos cultos e missas (19,8%);
. A confiança nas instituições eclesiais chega a 87,5%, e apenas 11,4% não acreditam em nenhuma;
- A PJ é conhecida por 46,9% dos jovens por participarem de grupos (26,3% porque um amigo participa);
. 70,4% acha que o papel da PJ é evangelizar o jovem para agir na transformação da sociedade, e 18,5% pensam que é para ser um “bom cristão”. Apenas 2,4% dizem que a PJ serve para reunir os jovens para fazer festa (entre eles, a maioria é da roça). A PJ, ou a vivência grupal, não é uma brincadeira ou uma atividade superficial de quem procura somente ocupar-se. Atrás da PJ está um compromisso com a sociedade.

7. Desafios para a Igreja, no limiar do Novo Milênio
Vimos, até aqui, algo das transformações sociais, culturais e religiosas das Américas. Tudo isso interessa à missão da Igreja. Não há razão para olhar para a nova realidade com pessimismo. O Concílio Vaticano II, reconhecendo que tudo o que é autenticamente humano é assumido por Cristo e voltado para Ele, convida-nos a buscar na experiência religiosa da humanidade a possibilidade, que o Espírito oferece a todos, de se associarem ao mistério pascal (cf. GS 22).

Como levar ao encontro com o Cristo vivo?
A questão é oferecer condições às pessoas de fazer uma experiência de Cristo. Neste sentido, não basta reforçar a instituição ou dar mais publicidade à sua mensagem. Deve-se levar à experiência salvífica, a qual só se realiza no contexto da comunidade cristã, do povo de Deus.
Pois o encontro com o Cristo vivo se dá hoje, como no início, através do encontro com seus discípulos. O encontro se dá na comunidade eclesial, enquanto ela assume sua vocação de tornar visível o Reino de Cristo na história. Jesus, o Cristo glorificado, está presente lá onde os seus discípulos se reúnem em seu nome. Mas esta presença se torna exigência de que os discípulos acolham como Ele acolheu, amem como Ele amou, sirvam como Ele serviu, perdoem como Ele perdoou, curem as enfermidades do corpo e do espírito como Ele curou, encontrem sua felicidade nas bem-aventuranças, anunciem aos pobres e oprimidos o tempo da libertação e da graça, tempo de graça que o próximo Jubileu do ano 2000 nos convida a tornar mais claramente manifesto.
O que fazer para tornar a Igreja nas Américas uma imagem transparente do Cristo?
Aceitar o diálogo e a discussão. A Igreja vive hoje numa sociedade pluralista, que exige dela uma atitude diferente daquela que por muito tempo assumiu em situações de “cristandade”. Os católicos devem aceitar a discussão pública, crítica e fundamentada, das propostas católicas. Os católicos devem ser melhor preparados à vida democrática na sociedade atual, e portanto à discussão das diversas propostas políticas e culturais, à busca do entendimento e do consenso.
Diversificar e descentralizar a ação da Igreja. Diante da situação pluralista e culturalmente diversificada, a Igreja deve diversificar mais a sua ação pastoral e evangelizadora, adaptando-se às diferenças regionais, valorizando a iniciativa das Igrejas locais em todos os níveis (comunidade, paróquia, diocese...). Há aspirações humanas e religiosas muito diferentes. É importante que a Igreja valorize as expressões populares da tradição católica e, por outro lado, tome consciência das dificuldades que a juventude urbana encontra para se comprometer, de forma continuada, com a vida comunitária. O ideal é promover uma pluralidade de experiências, mas sem perder a articulação entre elas. A moderna telemática pode contribuir para criar uma rede de comunidades e um intercâmbio muito mais intenso de experiências e de recursos. Uma perspectiva descentralizadora pode revitalizar as estruturas eclesiais, especialmente se acompanhada por uma diversificação dos ministérios.
Cuidar mais da iniciação a fé, numa interação fé-vida. Outro fato muito importante da atual situação religiosa é a dificuldade das famílias de propiciar uma educação cristã para os filhos. Muitas crianças e adolescentes crescem sem uma iniciação à fé. Adultos que, apesar de ter recebido uma educação religiosa, estão afastados da vida de fé, redescobrem a necessidade de se aproximar da Igreja. Parece importante oferecer a jovens e adultos itinerários catecumenais adequados, que partam de uma experiência religiosa genérica para conduzir progressivamente à adesão plena a Cristo e à Igreja. As comunidades eclesiais devem ser mais bem preparadas para acolher os novos membros. Metodologicamente é importante o princípio de interação (CR 112ss), pelo qual se procura estabelecer um contínuo confronto e diálogo entre a experiência da pessoa e a proposta da fé pela Palavra de Deus e a vida da Igreja.
Reencontrar nos evangelhos o roteiro da formação cristã. Segundo uma tradição antiquíssima, a Igreja oferece o encontro com a Palavra e a comunhão viva com a pessoa de Cristo através da liturgia (cf. SC 6-7). Cristo está presente no relato dos evangelhos, onde a sua vida se transforma em itinerário de vida cristã. Quem segue a Jesus de Nazaré hoje, como O seguiram os primeiros discípulos, liberta-se progressivamente da cegueira espiritual e chega a encontrar o Ressuscitado e a se unir à comunidade das testemunhas. Os evangelhos são assim o roteiro por excelência da catequese e da formação dos cristãos adultos.
Renovar e inculturar a liturgia. No campo da liturgia é desejável oferecer maior variedade de ritos e celebrações, em função da grande diversidade cultural existente, e buscar formas de celebração mais vivas, simbolicamente mais expressivas, capazes de levar à experiência do mistério no contexto da atual vida urbana. Muitos se interrogam sobre a oportunidade de diversificar os ministérios, redistribuindo as tarefas apostólicas e litúrgicas hoje concentradas unicamente no presbítero, levando em conta a grande flexibilidade dos ministérios na Igreja antiga. É certo que muitas comunidades são privadas da celebração regular da Eucaristia, que todos sabemos “fonte e ápice da vida cristã”.
Renovar o diálogo e a comunhão. Muito ainda haveria a dizer sobre a participação dos leigos, a liberdade cristã e a comunhão no interior da Igreja, sobre a atitude de misericórdia para com os que são “condenados” pelas leis eclesiásticas, sobre a independência profética da Igreja face ao poder econômico e político...



Alguns desafios para evangelizar os jovens

1. Como potenciar em todos os sentidos (pessoal, social e religioso) a sociabilidade da juventude e canalizá-la para a vivência do testemunho cristão?
2. Como canalizar este valor da juventude para humanizar as relações de trabalho, a convivência social e a organização do sociedade global?
3. Como utilizar a força de viver em grupo dos jovens para realizar melhor sua formação humana e cristã?
4. Como tornar a família e a escola comprometidas com a formação ética, moral e religiosa dos jovens?
5. Como utilizar todos os recursos tecnológicos disponíveis para o trabalho de formação da juventude?
6. Como ajudar os jovens a serem mais críticos e mais ativos na escolha e no uso das opções culturais da atualidade?
7. O que fazer para engajar os jovens nas lutas sociais e nos movimentos de defesa da cidadania?
8. Como despertar os jovens para assumirem um papel ativo na vida política da cidade, do estado e do País?
9. Como levar os jovens a uma experiência profunda e comunitária de Deus e da vida cristã?
10. A ética e a moral sexual, apontadas pela Igreja para a vida das pessoas, estão formuladas de maneira a incentivar e despertar a adesão dos jovens?




















CAPÍTULO 2 - MARCO HISTÓRICO
“Um olhar sobre a História da PJB”

A HISTÓRIA: FONTE DE INSPIRAÇÃO E APRENDIZADO.

1) Conceituação
“História” é um termo polissêmico, o que significa que possui significados variados. Devido a isto, convém deixar sempre bem claro em qual sentido está sendo empregado em cada contexto do seu uso.
Podemos utilizar o termo “história” a partir de dois significados básicos:
a) a chamada “História” para designar a disciplina, a ciência: a História que fazem os historiadores (fatos, acontecimentos, datas, obras, temas. Exemplo: a História do Brasil, a História das Técnicas, a História Urbana e etc.).
b) a chamada “história”: para a história que fazem os homens e as mulheres na sua prática e processos sociais. A história construída no cotidiano da vida.
Todavia estes dois significados mantêm ligações muito fortes, pois enquanto ciência, a “História” elabora conhecimento sobre determinada matéria; e enquanto processos sociais, a “história” produz a matéria sobre a qual se elaborará conhecimento.

2) Por que olhar a história?
A Pastoral da Juventude do Brasil tem um carinho muito grande por sua história.
Preservar a história não é apenas lançar um olhar científico para o passado. Mais do que isso é aprender com o passado, para iluminar o presente e projetar o futuro, mantendo sempre acesa a chama da esperança.
É aprender com as experiências acumuladas de tantos homens, mulheres e jovens que abriram caminhos que hoje nós trilhamos. É evitar os erros já cometidos, garantir o que já foi conquistado e avançar qualitativamente na caminhada, possibilitando a motivação das gerações atuais e futuras a experimentarem novas práticas.
A história, muito mais que uma ciência, é um meio de formação. Por isso olhamos e analisamos a história para aprendermos com ela.

3) A memória histórica: fonte de vida e compromisso.
Na tradição bíblica, o Povo de Deus é marcado profundamente pelos chamados “memoriais”. Os memoriais eram celebrados através de festas e rituais litúrgicos.
Fazer memória mais do que tudo era lembrar a ação salvífica de Deus para com o seu povo (exemplo: êxodo-páscoa). E esta memória viva era passada de geração em geração. Mas o segredo destes memoriais não é o de “lembrar” apenas que Deus agiu, mas reafirmar que Ele continua agindo no meio de seu povo.
O memorial é a renovação da Aliança:
“E depois de comer, fez o mesmo com o cálice dizendo: “Este cálice é a Nova Aliança em meu sangue, que é derramado em favor de vós” (Lc 22,20)
Para a Pastoral da Juventude do Brasil a importância da memória histórica se dá em:
a) Preservar sua identidade: mantendo vivas as opções, valores, princípios, atitudes, utopias, metodologias e pedagogias que lhes são essenciais e foram construídas através da história.
b) Resgatar a riqueza acumulada das experiências pedagógicas significativas desenvolvidas pela Igreja no campo juvenil.
c) Motivar as gerações juvenis atuais e futuras para um compromisso com a vida, aprendendo com as gerações do passado a necessidade da participação e organização.
d) Renovar a Aliança que Deus faz com a juventude, assumindo efetiva e afetivamente a opção pelos pobres e pelos jovens.
e) Perceber o esforço feito pela Igreja em trabalhar com os jovens (é uma questão de vida ou morte para ela) e a busca de novas estratégias e instrumentos teóricos diferentes que são adaptados a cada geração de jovens.

“Um povo sem memória é um povo sem coluna vertebral”

AÇÃO CATÓLICA GERAL (1930 - 1950)

A Pastoral da Juventude do Brasil é herdeira de uma história que vem sendo vivida no Brasil desde os anos de 1930 com a chamada Ação Católica Geral.
Por volta do ano de 1920, a Igreja preocupada com sua missão diante das grandes mudanças que vinham ocorrendo em todo o mundo, decorrentes dos processos de industrialização e urbanização, diante das ideologias do materialismo e do liberalismo, e dos conflitos surgidos com a modernidade, iniciou um processo de busca de novos horizontes para a evangelização.
Diante desta conjuntura mundial, o Papa PIO XI estimulou e apoiou a chamada Ação Católica.
A Ação Católica “era o espaço de participação organizada dos leigos católicos no apostolado hierárquico da Igreja, para a difusão e atuação dos princípios cristãos na vida pessoal, familiar e social”.
Foi ainda uma iniciativa muito tímida em que a Igreja ensaiava os primeiros passos ao abrir-se para uma participação mais ativa dos leigos como sujeitos da evangelização. Pois nesta época, a evangelização era responsabilidade só da hierarquia da Igreja.

No Brasil, a Ação Católica foi marcada por dois momentos distintos:
a) a Ação Católica Geral (1932 a 1950) - ACG
b) a Ação Católica Especializada (1950 a 1966). - ACE

Os primeiros aliados da Ação Católica são as classes dominantes: a burguesia financeira, a burguesia industrial e os estudantes que seriam os futuros “homens de influência” na sociedade.
O movimento de ação católica teve grande influência na formação de jovens católicos e estabeleceu-se no Brasil a partir de 1932 com a Juventude Feminina Católica (JFC) e dividia-se em setores masculinos e femininos separadamente.
A Ação Católica Geral através de seus seminários e encontros nacionais foi espaço propício de estudos, decisões pastorais e organização apostólica, possibilitando com isto o surgimento de um novo tipo de formação e espiritualidade para os leigos e leigas. Estes até então mergulhados numa fé tradicional e devocional foram despertados para a vivência do apostolado a partir da leitura do Evangelho que os ajudava a fazer uma leitura da realidade.
Um momento forte na vida da Ação Católica Geral neste período foram as semanas nacionais que ocorreram em 1937, 1947, 1948 e 1950 e pautadas por temáticas que enfocavam:
- a formação intelectual, espiritual, moral e social dos membros da ação católica
- a questão da fé: necessidade da fé, espírito de fé, práticas fervorosas da fé.
- as questões urgentes como: a Igreja e o problema sexual, a Igreja e o problema social, a Igreja e a justiça, a Igreja e o comunismo ateu.
- as questões sociais: saúde, assistência social, infância e maternidade, alfabetização, problemas rurais, ação social, imprensa e rádio, organização operária
- a Ação Católica e a política
- a organização e métodos de ação.
É importante ressaltar dois acontecimentos na vida da Ação Católica Geral significativos para os períodos futuros:
a) A Segunda Semana Nacional (31/08 a 07/09/1947 - Belo Horizonte) que entre as decisões destaca-se:
- o funcionamento organizado do Secretariado Nacional da Ação Católica Geral, para assegurar uma articulação real e eficiente entre os organismos nacionais e os órgãos diocesanos da AC. O Secretariado Nacional foi um passo decisivo para a futura organização do episcopado brasileiro, pois elaborou um estilo de atuação. A equipe de leigos, religiosos e sacerdotes que preparou a instalação da CNBB, em 1952, passou a integrar os quadros de assessoria e de trabalho da própria CNBB que, de sua parte, adotou o estilo de atuação vindo da Ação Católica.
b) A Quarta Semana Nacional (17 a 23/07/1950 - Rio de Janeiro) onde se dá a oficialização da Ação Católica Especializada.
Desde a segunda semana nacional houve reflexões sobre a necessidade da especialização da Ação Católica, ou seja, surgiu a necessidade de refletir a Ação católica a partir dos meios específicos (escola, fábrica, campo, universidade).
A especialização da Ação Católica contribuiu para o avanço da formação dos leigos e da própria evangelização. Foi uma resposta aos novos desafios da evangelização.

DESTAQUE: mesmo com a implementação da Ação Católica Geral, ainda se tinha uma visão do leigo como submisso à hierarquia. Incentivava-se a formação de leigos passivos diante de uma Igreja clerical.

AÇÃO CATÓLICA ESPECIALIZADA (1950 - 1966)

1) Contextualizando
Iniciamos um novo momento na história mundial, que marca profundamente a vida da Igreja: chegamos aos anos de 1950, cheio de mudanças abruptas. É o período pós-Segunda Guerra Mundial, onde o mundo encontra-se dividido em dois grandes blocos: Capitalistas e Socialistas.
Estes dois “modelos político-sociais” travam, através da chamada guerra fria, uma luta pela hegemonia mundial. Paralelamente a isto, os países do Primeiro Mundo, onde a revolução industrial encontra-se já consolidada, buscam novos mercados numa ótica imperialista. Percebe-se o início de um processo de miseriabilidade mundial, dividindo o mundo entre países ricos e países pobres.
A história política e social da América Latina no século XX é marcada por lutas constantes contra os sistemas ditatoriais. A partir da década de 50 percebe-se a eclosão de novas ditaduras como também de novos movimentos revolucionários iluminados pelos ideais socialistas - comunistas.
Emerge neste período uma nova classe social: o operariado. Não aquele do início da revolução industrial, mas uma classe organizada, com direitos consolidados e com muitas conquistas adquiridas.
O mundo não apenas mudou técnica e cientificamente, houve toda uma mudança de mentalidade. Estamos falando de novos homens e novas mulheres. De novas maneiras de pensar e de relacionar-se. É uma civilização industrial, urbana, moderna, onde a nova cultura não considera a religião como o centro de tudo.

2) A Ação Católica Especializada
A Igreja continuava oferecendo respostas pastorais para um mundo que dizia não precisar mais dela. Era necessário mudar de estratégias, buscar novos métodos para a evangelização.
O padre não pode mais ficar esperando o povo vir na Igreja. Precisa sair da sacristia e ir ao encontro desse povo nos lugares onde ele se encontra.
Percebendo esta nova conjuntura a Ação Católica Geral buscou através da especialização de seus grupos, dar respostas mais eficientes aos desafios desta nova realidade.

3) A Novidade metodológica
A estrutura do movimento começa a ser modificada segundo o modelo belga e francês que introduz o critério da divisão segundo o meio social específico. O novo critério tem como referencial os espaços de atuação.
Mas a grande novidade é metodológica. A até então metodologia dedutiva tradicional não servia mais. Não dá para partir de princípios abstratos, leis e dogmas para evangelizar; É necessário partir da vida, das necessidades, dos conflitos e sonhos das pessoas.
A Ação católica especializada deve muito ao Pe. Cardjin que, trabalhando com jovens operários na periferia de Bruxelas, fez algumas descobertas que tornaram-se os alicerces para a nova fase da Ação Católica:
a) a solução para a evangelização encontra-se no laicato. Trata-se de um grande “exército” que poderia ser mobilizado.
b) “a partir do trabalho com os jovens, surge a grande síntese metodológica que se torna conhecida como o MÉTODO VER-JULGAR-AGIR. O método se desenvolve em três momentos: partir da realidade, da vida dos jovens (ver), confrontar os desafios levantados pela realidade com a fé (julgar), partir para uma ação transformadora do meio (agir). A nova proposta iria revolucionar a pedagogia dentro da Igreja tradicional, de modo especial na América Latina. Essa nova metodologia fez surgir uma nova espiritualidade que unia fé e vida” (BORAN, J. -O Futuro tem Nome: Juventude, p.25).
c) a necessidade de uma metodologia que tenha como ponto de partida a vida dos jovens e que os despertem para serem protagonistas na Igreja e sujeitos históricos no mundo; Para isso era necessário um novo tipo de assessoria de adultos que não fossem nem paternalistas ou autoritários.
d) fala-se de uma evangelização feita de jovem para jovem. Nesta fase são os jovens chamados a serem evangelizadores de outros jovens e viverem este apostolado na fábrica, no campo, na escola e na universidade

4) Os Grupos da Ação Católica Especializada.
Os grupos da Ação Católica Especializada - JAC (Juventude Agrária Católica), JEC (Juventude Estudantil Católica), JIC (Juventude Independente Católica), JOC (Juventude Operária Católica) e a JUC (Juventude Universitária Católica) - marcados pelo método Ver-Julgar-Agir, pela Formação na Ação, pelos pequenos grupos, por uma pedagogia a partir da realidade e da vida dos jovens, e por uma prática transformadora, abriram caminhos para o surgimento de um novo jeito de ser da Igreja.
Aqui destacamos alguns elementos que são fundamentais para entendermos a Igreja que estava sendo gestada nos anos de 1950 a 1960:
a) com a JOC (Juventude Operária Católica) inicia-se a fase da ação católica especializada. A Igreja no Brasil consegue aproximar-se das classes trabalhadoras para ouvir e acolher os seus anseios e perceber a necessidade de uma pastoral popular, pois ainda voltava-se para os anseios da classe média e grupos de elite. Da mesma forma o trabalho dos militantes da JUC junto ao MEB (Movimento de Educação de Base) reforça esta opção pelo popular. Foi o início de uma mudança da posição social da Igreja.
b) com a JUC (Juventude Universitária Católica) de uma maneira muito especial, a Igreja depara-se com uma nova realidade que é ao mesmo tempo um grande desafio que foi a descoberta da dimensão política da Fé. Há um crescimento da consciência política e que não basta apenas a conversão pessoal, é necessário transformar as estruturas sociais que são as raízes e concretização das injustiças. “A partir dos vários ramos da ação católica nasce uma “esquerda católica”, que quer romper a aliança da Igreja com a situação vigente”. (O Futuro tem nome: Juventude, p.27)
c) “passa-se a encarar a religião de forma diferente. A religião é muito mais do que ir a missa, ou assistir uma novena. Torna-se não somente parte da vida, mas a vida mesma. Descobre-se que há uma maneira cristã de fazer tudo.”(idem,p.27)

DESTAQUE: “A evolução política da AC aconteceu num contexto em que os grupos de esquerda foram perdendo a confiança na possibilidade de soluções para os problemas sociais através do capitalismo e chegando à conclusão de que o socialismo era a única opção viável”. (O Futuro tem nome...., p.28). Esta radicalização política muito presente no movimento estudantil, penetrou em grupos e pessoas da AC (principalmente da JUC e JEC) que transferiam as mais diversas tendências políticas para o interior da AC. Esta radicalização política por parte de alguns da Ação Católica gerou muitos conflitos com a Igreja e com o próprio movimento. Em função disto formaram-se muitos militantes com um estilo de fé restrito à ação, afastados da comunidade eclesial e negando toda e qualquer expressão popular religiosa. Em outras palavras formava-se verdadeiros “guerrilheiros” que eram a favor da luta armada como a única via rápida para as mudanças.

A Ação Católica especializada respirou os ares de um novo tempo na história da humanidade e procurou dialogar com esta nova realidade, abrindo novos caminhos de evangelização no Brasil no campo da teologia e espiritualidade dos leigos, e no campo da metodologia e organização pastoral.
Herdou-se deste período:
- a utilização do método Ver-Julgar-Agir na formação de lideranças;
- a busca de uma prática a partir da realidade, considerando as questões sociais e políticas;
- uma formação na ação e não apenas teórica;
- idéias e métodos de transformação das estruturas sociais;
- a necessidade de espaços de revisão de vida e revisão de prática;
- uma fé vivida no engajamento social;
- pedagogias para despertar o espírito crítico;
- a opção pedagógica pelos pequenos grupos;
- estratégias para a ação pastoral;
- uma espiritualidade encarnada, alimentada pela vida de oração e pela inserção social;
- o protagonismo juvenil na evangelização;
- a autonomia da missão dos leigos a partir do batismo que consagra o cristão no mundo.

É de salutar importância destacar a realidade juvenil nos anos 60. Percebe-se que há um despertar mundial da juventude em relação às questões sociais, políticas e culturais. E esta realidade contribuiu muito para a efetivação da Ação Católica Especializada.
Os anos 60 marcam um novo estilo de ser do jovem diante de um mundo novo. Estilo caracterizado pelo jeito de se vestir, pelas atitudes e comportamentos, pela linguagem e música. O cenário mundial é marcado pelos hippies e pelo rock.
Este período é marcado profundamente pelo anseio de Liberdade, que é tida como valor absoluto da juventude. A partir de 1968 percebe-se a juventude ocupando as ruas em atitudes de enfrentamento às ditaduras, em defesa dos direitos civis, em nome da tão sonhada liberdade.
No Brasil toda esta movimentação é percebida pelo crescimento do Movimento Estudantil (UNE, JUC, JEC) que lança e faz com que a juventude ocupe lugar de destaque no cenário nacional, com propostas de mudanças, de engajamento social e até se necessário de revolução social e luta armada.

IMPORTANTE: A fase da Ação Católica Especializada se desenvolve a partir das orientações do papa Pio XII, que já se refere aos leigos como cooperadores ou colaboradores na missão evangelizadora.

É com a ACE que surge no Brasil o embrião de uma Igreja profética que se coloca ao lado dos pobres promovendo e defendendo a vida e que seria confirmada mais tarde pelas Conferências Episcopais de Medellín e Puebla.
Da mesma forma a Ação Católica foi a grande responsável pela renovação eclesiológica e essa renovação veio desembocar no Concílio Vaticano II.

MOVIMENTOS DE JUVENTUDE (a década de 1970)

Chegamos aos anos de 1970 e nos deparamos com uma realidade muito diferente das décadas passadas. O Brasil encontra-se vivendo o auge da ditadura militar.
Com o golpe militar de 1964 abriu-se um buraco enorme na organização juvenil do país. Ao lado do chamado “milagre econômico” que lançou o país para um crescimento econômico, em grande parte, devido aos volumosos empréstimos conseguidos no exterior; viveu-se toda uma situação de censura e repressão política que rompeu os avanços conseguidos na décadas anterior.
A luta armada como meio para construir uma sociedade mais justa, tornou-se inviável diante de todo aparato da Ditadura. Fracassaram as guerrilhas no continente e o sonho de liberdade e revolução social ficaria ainda adormecido.
Nos primeiros anos da década de 70 não havia possibilidade de se organizar uma pastoral ou movimento mais crítico com a juventude devido às investidas feitas pela Ditadura às organizações mais críticas.
A partir de 1970 percebe-se uma Igreja jovem, que foi gestada pelas experiências enriquecedoras da Ação Católica e que se apresenta com um rosto profético.
“A CNBB começou a denunciar publicamente as torturas que se alastravam por todo o país. Numa situação onde a censura calou muitas vozes, a Igreja emerge como a voz de todos os perseguidos. A Igreja tornou-se a instituição que resistiu com mais coragem às pressões do regime militar, tornando-se cada vez mais profética”. (BORAN, J. - O Futuro tem nome..., p.46).
Diante desta nova conjuntura os grupos da JUC, JEC e JAC foram extintos. A JOC ficou reduzida a alguns grupos isolados e sem influência. Algumas lideranças mais críticas foram assassinadas; Outras viviam no exílio ou na clandestinidade; Porém a ação católica não deixou de existir.
A Igreja, a partir desta nova conjuntura e sempre preocupada com a evangelização da juventude buscou uma nova maneira de trabalhar com os jovens a partir do contexto eclesial mundial e pela criatividade pastoral encontrou respostas nos chamados MOVIMENTOS DE ENCONTRO.
Os Movimentos reuniam os jovens para encontros de fim de semana, usando uma metodologia que se inspirava nos Cursilhos de Cristandade, movimento para adultos e que nasceu na Espanha.

1) Características dos Movimentos de Encontro:
- eram coordenados por adultos
- visavam resolver os problemas pessoais do jovem e dar respostas às aspirações de libertação interior da pessoa.
- despertavam os jovens a experiência da comunhão pessoal com Deus.
- ajudavam o jovem a fazer uma experiência forte de oração, afeto e amizade
- acentuavam a dimensão espiritual, com ênfase na Bíblia, sacramentos e oração
- menos dependentes do apoio do clero, menos clericalizados. O assessor adulto é um fator importante.
- trabalhavam com a massa juvenil e com grandes grupos.
- apresentavam uma Igreja atraente e acolhedora que se contrapunha a frieza e burocracia das paróquias e formalismo das celebrações dominicais.
- trabalhavam o sentido de pertença a Igreja.
- independentes da Igreja local estavam muito mais ligadas à coordenação do movimento do que a caminhada das dioceses.

2) Metodologia dos Movimentos:
a) Utilização de uma metodologia de impacto centrada em duas forças:
- a experiência de conversão: que leva a adesão ao movimento através do testemunho pessoal dos palestristas que cativava os jovens
- a experiência da fraternidade: que desperta a convicção de que não se está sozinho e trabalha a construção de laços afetivos entre os participantes.
b) Evitava-se a formação muito intelectualizada. As mensagens são mais simples e segue-se toda uma linha kerigmática, ou seja, de anúncio explícito da pessoa de Jesus Cristo.
c) o encontro propõe ao jovem um equilíbrio na sua vida moral e sacramental.
d) celebrações marcantes pela música e pelo clima de acolhimento e afeto.
e) utilização de técnicas modernas de comunicação.
f) utilização da metodologia dedutiva moderna que buscou evitar o rigorismo intelectual, porém ainda se dá de forma descendente (de cima para baixo), partindo de teorias para chegar a realidade e a prática.
g) despertou pouco a consciência crítica e o protagonismo juvenil.

3) Dois tipos de movimentos
Os anos 70 são marcados por dois tipos de movimentos de juventude que possuem quase as mesmas características metodológicas. São eles:
a) Movimentos Nacionais - geralmente ligados a pessoas ou a instituições religiosas. Com estrutura bastante rígida, espalham-se pelas paróquias e dioceses, e recebem várias denominações. Marcados profundamente pelas características dos Cursilhos de Cristandade. Exemplo destes movimentos são: o Treinamento de Lideranças Cristãs (TLC), ligado aos jesuítas; o Encontro de Juventude Construindo, ligado aos salesianos; o Encontro de Jovens com Cristo (EJC), ligado aos redentoristas; o Cenáculo, o Shalon, Emaús e outros.
b) Movimentos Internacionais - organizam e formam seus próprios quadros, dirigentes e sacerdotes. Independentes das Igrejas locais. Dirigem-se principalmente aos jovens de classe média. Alguns exemplos: o Movimento Geração Nova (GEN), ligado aos focolares; Movimento da Juventude de Schoenstatt, Comunhão e Libertação, Renovação Carismática Católica, Juventude Franciscana (JUFRA) e outros.

4) Limitações dos Movimentos de Encontro
a) dar continuidade ao processo de educação na fé iniciado e que exige um processo mais complexo e mais abrangente que a experiência emocional de um final de semana.
b) havia muita improvisação, rotatividade dos participantes e dispersão de energias. Os grupos não assumiam compromissos e não formavam lideranças.
c) faltavam objetivos comuns que garantissem a identidade do grupo.
d) O compromisso social é o ponto considerado mais fraco. Os jovens são formados para o engajamento interno do movimento e na Igreja. A missão no mundo é vista de uma forma extremamente espiritualista. O problema social se resolve unicamente pela pregação do amor a conversão das pessoas. Não se considera a dimensão política da fé.
e) Os jovens não são protagonistas do movimento.

NOTA: Os movimentos de juventude que nos anos de 1970 atingiram o auge de seu trabalho, nas décadas seguintes não deixaram de existir. Pelo contrário, foram adaptando-se diante das novas conjunturas. Percebe-se que a partir de 1990 ocorre um forte ressurgimento deste modelo como proposta de evangelização da juventude.

PASTORAL DA JUVENTUDE ORGÂNICA (a década de 1980)

1) Contexto do nascimento de um novo modelo de Pastoral da Juventude
Os últimos anos da década de 70 são marcados por um novo despertar da sociedade e de forma muito especial da juventude. O Brasil vive todo um processo de mobilização da sociedade civil que exigiu a volta da democracia. As bandeiras são: os direitos humanos, a anistia para os exilados, pelas liberdades democráticas....
Os jovens saem às ruas para reivindicarem e são seguidos por outros segmentos da sociedade. A Ditadura Militar lança ferozes ataques ao movimento estudantil temendo que este ressurja com a mesma vitalidade dos anos 60. Um exemplo destes ataques foi a evasão da PUC de São Paulo em 1977 e a prisão de 850 estudantes.
Outro fato importante que marca o retorno destas organizações foi o chamado Concílio de Jovens em Lins/SP, que em 1977, em plena ditadura reuniu aproximadamente 5000 estudantes e universitários e caracterizou o retorno de uma Pastoral Universitária.
A mobilização social é fortemente consolidada pelas inúmeras greves que aparecem por todo o canto do país e as greves dos metalúrgicos em São Paulo nos anos de 1977 e 1979 selam o retorno da organização sindical e popular no país.
Fortalecidos por esta conjuntura ressurgem os partidos de esquerda e até nascem novos partidos com em 1981 o Partido dos Trabalhadores.
Mesmo debaixo da ditadura foram sendo forjadas organizações sociais e eclesiais que cresceram contrapondo-se a esta e com propostas democráticas, de mudanças e transformações sociais. Fortaleceram-se neste período as CEB’s, a Pastoral da Terra (CPT), as Comissões de Justiça e Paz e Centros de Defesa dos Direitos Humanos, a Pastoral Operária (PO) e a Pastoral do Índio (CIMI).
O país vive um processo de “re-democratização”.
Mas todas estas organizações fortaleciam-se além da herança legada pela Ação Católica Especializada, por vários processos sociais que iniciaram-se ainda no final dos anos 60 e mudanças eclesiais propostas pelo Concílio Vaticano II.
A partir do Concílio Vaticano II (1962-1965), ao repensar a sua missão e a sua relação com o mundo, a Igreja gerou uma nova autoconsciência de si, e uma eclesiologia de amplas perspectivas para o trabalho pastoral. Lembramos de algumas características, conforme as DGAEv 29:
- a concepção de Igreja comunidade, inserida no mundo, a serviço do Reino.
- o reencontro da consciência de uma Igreja toda e sempre missionária.
- a consciência de Igreja-Povo de Deus, ressaltando o papel dos leigos e a corresponsabilidade de todos pastores e fiéis na missão evangelizadora.
- a redescoberta da Igreja Particular ou local.
- a valorização do mundo e das realidades terrestres.
- a abertura ao ecumenismo e ao diálogo inter-religioso.
Todas estas características foram iluminadas e adaptadas pela Igreja na América Latina através das Conferências Gerais do Episcopado Latino Americano em Medellín (1968) e Puebla (1979), revelando o rosto de uma Igreja verdadeiramente profética e que assumia a opção preferencial e evangélica pelos pobres.
Iluminada pelas orientações e avanços do Concílio Vaticano II, a doutrina social da Igreja consegue traduzir a realidade mundial e os anseios da humanidade e servem de sustento para muitos grupos e organizações. Como exemplo destacamos deste período duas encíclicas:
a) A Populorum Progressio (1967), lançada pelo Papa Paulo VI, trata sobre o desenvolvimento dos povos, apresentando a necessidade da fraternidade entre os povos e a solidariedade dos países ricos com os países em desenvolvimento. A encíclica afirma que desenvolvimento é o nome da paz.
b) A Octagésima Adveniens (1971) percebe o mundo polarizado entre o Norte (industrial) e o Sul (rural) e constata a necessidade de uma ação política concreta e este é principalmente papel do cristão, bem com a promoção da Justiça.
É neste rico e complexo contexto que surge um novo modelo de Pastoral da Juventude: Uma Pastoral da Juventude Orgânica e Transformadora, pensada a partir de uma nova prática de Igreja, inserida na pastoral de conjunto e em comunhão com as diretrizes da ação pastoral e evangelizadora da Igreja, organizada em diversos níveis (diocesano, regional e nacional) para responder aos desafios da juventude.
E de forma muito especial ressalta-se a Conferência de Puebla em 1979, onde os bispos escolheram os pobres e os jovens como prioridades pastorais para a Igreja da América Latina.

2) Etapas na organização da Pastoral da Juventude
Podemos distinguir 4 etapas ou fases na vida da Pastoral da Juventude do Brasil:
1) as primeiras articulações (1973 - 1983)
2) a elaboração teórica (1984 - 1989)
3) o avaliar para avançar (1990 - 1995)
4) a missão (a partir de l995)

3) A Etapa das “PRIMEIRAS ARTICULAÇÕES” (1973-1983).
As primeiras tentativas de articulação se deram no período de 1973 a 1978, promovidas pela própria CNBB com o objetivo de reunir as experiências de PJ esparsas pelo Brasil.
Em 1973, no Rio de Janeiro aconteceu o Primeiro Encontro Nacional da PJ. Em 1976, também no Rio de Janeiro, aconteceu o Segundo Encontro Nacional da PJ. Estes dois primeiros encontros reuniram pessoas com prática de PJ, para refletir a situação e buscar caminhos de organização.
Em 1978 aconteceu o Terceiro Encontro Nacional da PJ, em Brasília, e este foi o início de organização. Apontou-se quatro grandes princípios orientadores para a ação da PJ em nível nacional:
a) realizar uma PJ que seja orgânica, coordenada e integrada na Pastoral de Conjunto;
b) partir das necessidades sentidas pelos jovens e vistas no contato com a realidade;
c) atingir a grande massa dos jovens a partir de pequenos grupos e atuando no meio específico (escola, universidade, trabalho, bairro), para transformar a realidade;
d) utilizar, a nível de grupo e de coordenação, o método Ver-Julgar-Agir, enriquecido pelas experiências antigas e recentes.
Inicialmente, diante de uma realidade tão diversa do território brasileiro, achando difícil uma articulação nacional, optou-se pela organização em blocos: Norte, Sul, Leste, Nordeste e Extremo - Oeste.
Em 1978, no Nordeste surge a Pastoral da Juventude do Meio Popular (PJMP).
Em 1981 assume a assessoria nacional o Pe. Hilário Dick.
Em 1982 começa a se formar a Pastoral da Juventude Estudantil (PJE), em Goiânia.
Em 1983 surge a Pastoral da Juventude Rural (PJR), no Rio Grande do Sul.
Em 1983 é criado o Setor Juventude da CNBB que tem a missão de animar a PJ, PJR, PJMP e PJE e a relação com as congregações e movimentos juvenis e assume a assessoria nacional o Pe. Jorge Boran, que permanece até 1990.
Aconteceu em 1983 o Quarto Encontro Nacional, em Brasília. Teve início o processo de fortalecimento da organização da PJ em todo os níveis: paroquial, diocesano, regional e nacional. Este encontro definiu e assumiu três prioridades:
a) fortalecer a PJ por classes sociais
b) formação integral e metodologia
c) articulação, organização e coordenação.
Em 1983 foi criado o Setor Juventude da CNBB, que tem a função de animar o conjunto das quatro pastorais da juventude ( PJ, PJMP, PJE, PJR).

4) A Etapa da “ ELABORAÇÃO TEÓRICA” (1984-1989)
A afirmação da proposta da Pastoral da Juventude Orgânica se deu entre os anos de 1984 e 1989, marcados profundamente pelas reflexões sobre:
- articulação e organização.
- processo de formação integral.
- metodologia.
- espiritualidade.
- iniciação e militância na PJ.
- meios específicos.
- coordenação.
Através dos encontros, seminários e assembléias nacionais e regionais foi sendo construída e concretizada uma Pastoral da Juventude do Brasil pelo esforço de jovens coordenadores e assessores adultos.
Os seminários nacionais de assessores foram espaços de partilha, troca de experiências, estudo e aprofundamento e foram importantes para o amadurecimento global da proposta de uma Pastoral da Juventude Orgânica.
Os seminários nacionais tornaram-se espaços de capacitação dos assessores adultos, pois quem trabalha com jovens tem a necessidade de se encontrar com outros que também trabalham, para uma reflexão específica sobre a juventude.

Destacamos aqui os temas estudados nos seminários nacionais:
1985: Fé e Militância Política
1986: Afetividade e Militância Política
1987: Espiritualidade e Afetividade
1987 e 1988: Dimensões da Formação Integral (personalização, integração, conscientização política, capacitação técnica, dimensão teológico-teologal).
1988: Vivência eclesial do jovem
1989: Planejamento Pastoral
Dos encontros nacionais ocorridos neste períodos pode-se destacar o Quinto Encontro Nacional (1984 -Goiânia) que entre seus objetivos ressalta-se o fortalecimento das articulações regionais enfatizando a necessidade das coordenações regionais.
Foi a partir de 1987 que os encontros nacionais da PJ (ENPJ) passaram a denominar-se de Assembléia Nacional da Pastoral da Juventude (ANPJ), devido ao seu caráter deliberativo. Realizou-se neste ano a Sétima Assembléia Nacional da PJ , em Nova Iguaçu/RJ.
Desta Assembléia emergiram muitos desafios: ter um projeto claro de nova sociedade e de metodologia da PJ; desenvolver um trabalho de pastoral urbana; tornar a PJ conhecida em todo o Brasil; motivar a participação da mulher na articulação da PJ em todos os níveis.
Nesta assembléia decidiu-se que a Comissão Nacional da PJ passaria a denominar-se Coordenação Nacional, ampliada agora para um representante de cada regional.
Em julho de 1989 realizou-se a Oitava Assembléia Nacional da PJ, com o tema: “A PJ e o Mundo do Trabalho”. Participaram 100 jovens e assessores adultos, representantes dos 15 regionais da CNBB. Foram convidados os movimentos juvenis, as pastorais específicas de jovens, a JOC, PU, o movimento GEN. Foi um momento de celebração e de reanimação da vida da PJ no Brasil. Decidiu-se criar a Secretaria Nacional da PJ e Daniel Seidel é eleito como Secretário Nacional em novembro de 1989.
Outros fatos neste período foram de grande importância para a concretização desta PJ orgânica:
-1984: criação da Comissão Nacional de Assessores adultos da PJ (CNPJ).
-1985: Ano Internacional da Juventude.
-1987: Lançamento do livro “Sim à Civilização do Amor” - diretrizes para uma PJ Latino-americana. Resultado dos trabalhos dos encontros latino-americanos com as coordenações nacionais da pastoral da juventude, promovidos pelo Setor Juventude -Celam.
A elaboração teórica sempre foi priorizada dentro da Pastoral da Juventude e nasce dos novos enfoques, desafios e necessidades que vão surgindo a partir da caminhada e que são aprofundados através dos seminários (nacionais, regionais e diocesanos) e as reflexões elaboradas são publicadas nos cadernos de estudo da PJ do Brasil com o objetivos de atingir os grupos de jovens.

Coleção Cadernos de Estudos da Pastoral da Juventude do Brasil
1 - Os cristãos e a militância política
2 - Dimensões da Formação Integral
3 - Mística da Caminhada
4 - Como trabalhar com iniciantes
5 - PJ e Movimentos
6 - Planejar é...
7 - Igreja: Freio ou acelerador?

5) A Etapa do “AVALIAR PARA AVANÇAR”. (1990-1995)
Durante a maior parte da década de 80 este novo modelo de Pastoral da Juventude despertou e formou uma geração de lideranças para a vida da Igreja e da sociedade. A maioria dos coordenadores diocesanos da PJ neste período são militantes no movimento social.
“Um fator importante para o fortalecimento da PJ nos anos 80 foi a adoção de um processo de planejamento participativo a partir da realidade. Os jovens dos anos 80, era uma geração que tinha nascido durante a ditadura militar e, agora, estavam numa outra etapa. Empolgavam-se com a possibilidade de opinar, debater, encaminhar propostas e votar.”(BORAN, J. - O futuro tem nome...., p.52)
“Durante a década de 80 esse novo projeto foi sendo criado, através de centenas de reuniões de coordenação, assembléias de avaliação e planejamento, cursos, documentos, cadernos de estudos, artigos. O novo modelo de Pastoral da Juventude refletia as opções da Igreja na América Latina.”(idem, p.60)

NOTA: Nestas primeiras fases da PJ, nos anos 80 havia a tendência de preparar com urgência militantes jovens, com consciência crítica, sujeito da história, agente de mudança. Este vanguardismo produziu um reducionismo nos aspectos tradicionais da evangelização (formação teológica, espiritualidade, sacramentos). O que guiava muitos grupos e militantes era muito mais uma mística social do que uma mística cristã.

Estamos no início dos anos 90 e o mundo passa por grandes mudanças econômicas, políticas, sociais, religiosas e culturais que já foram apresentadas no marco situacional.
A Pastoral da Juventude buscando adaptar-se a esta nova conjuntura mundial e eclesial vivência neste período um momento de crises e redefinições.
Pergunta-se: para onde a PJ vai nos levar? Qual a sua proposta para a juventude? Haviam perguntas por todos os lados no campo da formação, ação, espiritualidade e organização. Perguntas vindas de dentro e de fora da própria pastoral.
Foi também um período marcado pela disputa de poder entre as PJ’s em relação ao espaço na PJ do Brasil.
Pode-se arriscar em dizer que foi a fase da adolescência da PJ Orgânica.
Em 1990 assume a assessoria nacional o Pe. Florisvaldo Saurin Orlando, que permanece até início de 1994.
A história da PJ do Brasil é marcada neste período pela busca e elaboração de novas respostas diante dos novos desafios.
As assembléias nacionais neste período traduziram toda esta dor e angústias vivenciadas.
Em 1991 a Nona Assembléia Nacional (Sete Lagoas/MG) assumiu como prioridades:
a) repensar e aprofundar o processo de formação
b) aprofundar a metodologia para atingir a juventude - Missão.
Frutos desta assembléia foram a realização de dois seminários nacionais que trabalharam especificamente sobre Metodologia (1992) e Processo de Formação Integral (1993). Percebe-se a necessidade de uma nova metodologia, que, sem abrir mão do que já havia sido conquistado, respondesse às novas realidades. Uma metodologia que privilegiasse a pessoa do jovem, ressaltando a formação humana (subjetividade) e que buscasse ser concretizada através da dimensão do lúdico, da arte, do prazer, da sensibilidade. A grande descoberta metodológica foi a questão da corporeidade juvenil e a busca do equilíbrio entre a dimensão política e espiritual.
Repensar o processo de formação integral era pensar um processo de educação na fé mais eficiente e eficaz, que pudesse acompanhar o dinamismo e o ritmo da vida pós-moderna.
Em 1993, a PJ do Brasil encontrou-se em festa. Durante a Décima Assembléia Nacional (Vitória/ES) celebrou-se “10 anos de Luta e Esperança”. Foi o momento de celebração dos 10 anos de organização conjunta das PJ’s (PJ, PJMP, PJE, PJR) e os 10 anos do Setor Juventude da CNBB.
Nesta assembléia Sandra Procópio da Silva foi eleita secretária nacional.
Mas o objetivo desta assembléia não era apenas festivo-celebrativo
Já era o tempo de “avaliar para avançar”; este era o grito que ecoava por todos os cantos do país.
No ano anterior (1992), abençoada pela Campanha da Fraternidade: Juventude - Caminho Aberto, a Pastoral da Juventude do Brasil pode confrontar-se com a imensa e complexa realidade juvenil e isto mais do que nunca depositou em suas costas a responsabilidade com a juventude brasileira.
Despertada para um compromisso cada vez maior na Igreja e na sociedade e principalmente com os jovens, este período de redefinições sempre foi marcado por um horizonte maior - a MISSÃO.
Sim, avaliar para avançar em vista da missão!!!
Em março de 1994 assume a assessoria nacional da PJ do Brasil, no Setor Juventude da CNBB, Pe. Vilsom Basso que permanece até fevereiro de 1998.
Todavia as expectativas tidas em relação às conclusões da Décima Assembléia não foram concretizadas. A preocupação com a missão ficou renegada a segundo plano e quem ocupou os espaços da assembléia foi a discussão sobre a organização.
A discussão sobre organização era pautada pela disputa das PJ’s por espaço na PJ do Brasil. A discussão praticamente era não pela organicidade da pastoral, mas sim por um organograma que acolhesse os anseios das PJ’s. E o clamor era de um modelo paritário de participação.
Destas discussões e reflexões realizou-se um Seminário Nacional (1994) cujo tema foi a Fenomenologia da Juventude e Especificidade. As conclusões deste seminário conseguiram abrir novas perspectivas para a PJ do Brasil e muitas propostas que foram elaboradas, foram acolhidas pela Décima Primeira Assembléia Nacional (1995).
Durante a Décima Assembléia, os jovens e assessores que se identificavam com a PJ começaram a refletir a importância da PJ voltar a ter também sua organização própria. Durante 3 anos (1994 a 1996), a PJ realizou quatro encontros nacionais para redefinir sua identidade, missão, especificidade e organização. De 1983 a 1995 a PJ teve sua organização junto com as outras PJ’s (PJMP, PJE, PJR). Todavia desde julho de 1996 tem organização própria novamente.

Fato importante ocorrido neste período:
-1992: I Congresso Latino Americano de Jovens (Cochabamba/Bolívia). Contou com a presença de 800 delegados de 19 países; e representa o quanto a Pastoral da Juventude é uma pastoral que vem crescendo a cada dia em termos de estruturas democráticas de participação, clareza de objetivos e encarnação na realidade latino-americana.

6) A Etapa da “MISSÃO: É HORA DE AVANÇAR”.
A partir da Décima Primeira Assembléia Nacional, carinhosamente apelidada de Ônzima, ocorrida em julho de 1995, em Brasília, inaugurou-se uma nova etapa na história da Missão e da Organização da Pastoral da Juventude do Brasil.

Percebendo a Décima Primeira Assembléia Nacional (Ônzima):
1) Objetivo Geral: Partilhar e repensar o projeto da PJ do Brasil em vista da Missão.
2) Objetivos Específicos:
a) Celebrar um novo tempo.
b) Trabalhar a Missão da PJ do Brasil elaborando linhas comuns e projetos concretos de Ação, Formação e Espiritualidade.
c) Definir a organização e o organograma da PJ do Brasil
3) Pontos que perpassaram a Ônzima:
a) fidelidade aos grupos de jovens
b) processo de continuidade da Décima Assembléia
c) Decidir coisas simples, concretas e possíveis.

Pela primeira vez elaborou-se projetos de ação, formação e espiritualidade a nível nacional e para um período de três anos (1995-1998). Estes projetos foram elaborados a partir de uma análise da conjuntura eclesial e social, de uma perspectiva por onde ai o mundo e a Igreja nos próximos anos e privilegiaram os clamores dos jovens e dos grupos de jovens.
Os grandes temas geradores dos projetos foram inspirados nas Diretrizes da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (95-98) e na preparação da celebração do terceiro milênio (PRN).
O Projeto de Missão da PJ do Brasil é traduzido através de 5 projetos:
a) Projeto de Ação - Missão Jovem e Cidadania.
b) Projeto de Formação da Pessoa Humana e para a Cidadania
c) Projeto de Espiritualidade


Estes projetos reafirmam as opções históricas da PJ do Brasil, explicitadas nos princípios que inspiram a ação evangelizadora, a formação e a vivência da Espiritualidade.
Princípios inspiradores dos projetos de ação:
1- A PJB no seguimento a Jesus Cristo, assume evangelizar e se deixar evangelizar a partir das diferentes realidades e culturas, privilegiando a juventude empobrecida.
2- A PJB quer resgatar e construir a cidadania como meio de superação da opressão e da exclusão social.
3- A PJB se propõe a valorizar e reconhecer a pessoa humana em todas as suas dimensões, fazendo emergir a nova mulher e o novo homem.
4 - Os jovens da PJB devem ser sujeitos da ação sócio-transformadora que gere o novo.

Princípios inspiradores dos projetos de formação:
1- A PJB enfatiza o gestar da nova mulher e do novo homem, vivenciando as diferenças e valorizando o que é próprio de cada um.
2- A PJB tem nos jovens empobrecidos, em particular nos excluídos, o seu referencial na formação de agentes de transformação.
3- A PJB, a partir do projeto e da pessoa de Jesus Cristo, tem o jovem como protagonista e agente libertador, tornando-o sujeito da história a partir do seu meio.
4- A PJB assume a originalidade da juventude nas diferentes realidades e experiências.

Princípios inspiradores do projeto de Espiritualidade
1 - A espiritualidade da PJB deve levar o jovem a experimentar e a vivenciar o sentido pascal na própria vida.
2 - Considerando que os valores da Paz, da Justiça, do Amor e da Vida são valores universais, a PJB se propõe a aprofundar uma espiritualidade ecumênica e aberta ao diálogo inter-religioso.
3 - À maneira de Jesus Cristo, que se encarnou e resgatou os valores da cultura de seu povo, a PJB se propõe a cultivar uma espiritualidade inculturada nas diversas realidades do jovem latino-americano.
4 - A PJB, com o seu testemunho, pode ajudar a concretizar a proposta de Jesus Cristo na realidade onde vivemos.
São estes projetos que neste período estão promovendo a unidade da pastoral por todo o Brasil. Assumidos por todos os regionais, dioceses e pastorais específicas da juventude; os projetos lançam todos os grupos de jovens a um novo momento de missão, marcado fortemente pela construção da cidadania, missões jovens e espiritualidade.
Para alimentar estes projetos foram elaborados vários subsídios, entre eles os cadernos 8, 9, 10 da PJ do Brasil :
8 - Um jeito Novo: atuação político-partidária na construção da cidadania
9 - Missão Jovem: jeito jovem de evangelizar
10 - Espiritualidade: algo novo está nascendo

Esta Assembléia também propôs uma nova forma de organização, pautada pela necessidade de organizar-se para a Missão. Foi aprovado um organograma nacional que garantiu a participação paritária entre as PJ’s na Comissão Nacional de Jovens e na Comissão Nacional de Assessores.
A partir da Ônzima, ao dizer Pastoral da Juventude do Brasil, estamos falando do conjunto das quatro PJ’s:
- Pastoral da Juventude (PJ)
- Pastoral da Juventude Rural (PJR)
- Pastoral da Juventude Estudantil (PJE)
- Pastoral da Juventude do Meio Popular (PJMP).
Em julho de 95 a Comissão Nacional da Jovens e Assesores da PJB decidem que deve haver uma pessoa para ajudar na secretaria nacional da PJB par ajudar no atendimento, ser uma presença constante na secretaria e cuidar mais de perto do Jornal Juventude; a partir de agosto, assume o trabalho Darci Procópio da Silva e, depois, a jovem Melrilene Mello de Aquino.
Em 1996 é eleito e assume a secretaria nacional da PJ do Brasil o jovem Francisco de Araújo Vasconcelos Filho.
Em 1988 acontece a 12ª Assembléia Nacional que tem com Objetivo: Avaliar, celebrar e redimensionar os projetos da PJB, construindo novas respostas e estratégias, para dar continuidade à caminhada, reforçando o compromisso, a unidade e a identidade, rumo ao novo milênio. Tema: Construindo novas respostas e estratégias. O Lema: avançar é ousar.

MOVIMENTOS JUVENIS E PJ DO BRASIL
A Pastoral da Juventude do Brasil sempre teve a preocupação de aproximar-se dos movimentos juvenis apostólicos, querendo somar forças para uma melhor atuação missionária junto à juventude.
Em alguns encontros e assembléias nacionais, representantes de movimentos foram convidados a participarem e contribuírem na busca de melhores maneiras para a evangelização.
Nos anos 80 foi elaborado o Caderno de Estudo número 5 da PJ do Brasil com o tema “PJ e Movimentos”, fruto de uma reflexão conjunta.
O relacionamento entre a PJ do Brasil e os Movimentos ainda é um desafio a ser conquistado e é pautado ainda por algumas dificuldades e tensões, mas desde setembro de 95, anualmente, o Setor Juventude da CNBB, vem realizando Encontros Nacionais com congregações Religiosas e Movimentos Juvenis aprofundando o diálogo e a parceria com a PJ do Brasil.
O 1º Encontro Nacional foi de troca de experiências, estudo das Diretrizes da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil e dos Projetos da PJB e definição de pistas comuns de ação. Se realizou em Brasília.
O 2º Encontro que aconteceu em setembro de 96 aprofundou a temática: Novas metodologias no serviço à juventude e também foi em Brasília.
O 3º Encontro promovido pelo Setor Juventude da CNBB aconteceu em setembro de 97, em Goiânia, e refletiu sobre a mística e Erótica, a Mística e o Corpo, no serviço à Juventude.
O 4º Encontro , em setembro de 98 tem como temática : Teologia e Arte no serviço à Juventude.
Respeitando as diferenças e a identidade própria de cada um, buscando criar unidade para um melhor serviço à juventude, o diálogo e parceria já está sendo construído, não só via coordenações nacionais, mas no dia a dia da vida dos grupos nas comunidades.

FRENTES NOVAS ESTIMULADAS PELO SETOR JUVENTUDE:
1 - Realização de Encontros anuais com Assessores Regionais, a partir de janeiro de 95.
2 - Incentivo à mística e espiritualidade, com a realização de Retiros Nacionais para a PJ do Brasil, começando em 95 e 97, com assessoria do Monge Marcelo de Barros e D. Pedro Casaldáliga , respectivamente.
3 - A PJB teve um espaço mais claro e definido nas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil e o reconhecimento oficial do Dia Nacional da Juventude, Missões Jovens e Semana da Cidadania, em 95 e 96, respectivamente na Assembléia Geral da CNBB.
4 - Realização de Encontros anuais com Congregações Religiosas e Movimentos Juvenis, a partir de 95, estreitando o diálogo e parceria.
5- Encontro anual com Instituições Católicas que trabalham a recuperação de dependentes químicos - drogados, a partir de 97,com elaboração de roteiros para prevenção de drogas e início do debate pelo reconhecimento deste serviço como uma Pastoral por parte da CNBB. É o trabalho com os jovens em situações críticas.
6 - Início de um trabalho direto com Assessores e Coordenadores Diocesanos da PJB, realizando Encontros Nacionais a partir de 97.
7 - Elaboração, a partir de 97, do Informativo do Setor Juventude - FACE A FACE - que, enviado diretamente a todas as paróquias do Brasil, melhora a Comunicação e animação aos grupos de jovens.
8 - Início do acompanhamento específico aos militantes da política partidária, com a realização de 2 Encontros Nacionais, 96 e 97 e a criação da REDE de MILITANTES da PJB.

PARA REFLETIR:
1) O que aprendemos com esta história?
2) Quais os elementos marcantes de cada um destes períodos?
3) Quais as opções assumidas que continuam presentes na caminhada e que não se pode abrir mão?










CAPÍTULO 3 - MARCO DOUTRINAL DA PJ DO BRASIL
“Descobrindo que Deus ama os jovens”


INTRODUÇÃO

Depois de olhar para a realidade, o mundo juvenil e a história da Pastoral da Juventude do Brasil, os Marcos Situacional e Histórico, chegou a vez do Marco Doutrinal, que nos fará ver com olhar diferente o mundo juvenil e a história da PJB. As reflexões do Marco Doutrinal jogam também esperança para os Marcos Operativo e Celebrativo.
A Bíblia e a experiência nos revelam um Deus presente na História, que ama os jovens e os pobres; Este Deus é Trindade, comunidade; A Igreja é convocada a ser sinal visível deste amor trinitário juntos às pessoas.
Maria, mãe da Igreja e mãe da juventude, é inspiração para nosso agir como Igreja; Igreja que é desafiada a olhar com carinho especial para os jovens, numa evangelização inculturada, da qual a PJ do Brasil é uma expressão corajosa, ousada e inovadora.

1. DEUS NA HISTÓRIA

Deus entra em diálogo com o mundo porque ama, enviando seu Filho Jesus Cristo, que se fez gente, igual em tudo, menos no pecado, esvaziando-se de si mesmo até a morte e assumiu a condição de servo (Fil 2, 6-11). E assim,“ Deus amou de tal forma o mundo, que entregou seu Filho único, para que todo que nele acredita não morra, mas tenha a vida eterna” .(Jo 3,16).
O amor de Deus se torna concreto e visível quando “na plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho. Ele nasceu de uma mulher, submetido à lei, para resgatar aqueles que estavam submetidos à Lei, a fim de que fôssemos adotados com filhos.” (Gl 4,4).
Esta promessa vinha sendo alimentada pelo povo de Deus que esperava o messias, o libertador; com sua chegada, virão novos dias, novos tempos, nova esperança: “ Eu vou criar novos céus e nova terra...por isso fiquem para sempre alegres e contentes, por causa do que vou criar.” (Is 65, 17-18).
Os discípulos de João lhe perguntaram: “És tu ou temos que esperar outro? Ide dizer a João: os cegos vêem, os mudos falam, os coxos andam, os mortos ressuscitam”( Mt 11, 1-7). “ O tempo já se cumpriu e o Reino de Deus está próximo. Convertam-se e acreditem na boa notícia” Mc 1, 14-15
Jesus é contestado e incompreendido mas afirma: “ Se é pelo dedo de Deus que expulso demônios, então o Reino de Deus já chegou para vocês”. (Lc 11,20).
2. O REINO DE DEUS

O Reino de Deus é o Projeto de Deus , sua soberania sobre o mundo. O Reino de Deus é revolução absoluta, radical; é a transformação de tudo: da pessoa, da sociedade, da criação toda.
O Reino é a libertação integral. Jesus prega a proximidade e presença do Reino pela prática libertadora - os milagres (Mt 8) e pela pregação - as parábolas que falam do Reino ( Mt 13).
Mas o Reino é mais do que os milagres e as palavras de Jesus. Como o broto e a flor indicam que a primavera está chegando, mas a Primavera é mais que o broto e a flor, assim também se dá com o Reino.
O Reino de Deus é dos pobres(Lc 6,20 e Mt 5,3). O Reino aparece como saúde para o enfermo; purificação para o leproso; ressurreição para o morto; reconciliação para o pecador e evangelização para os pobres ( Mt 11,4-5; Lc 7,22; Lc 4, 16-20).
Características do Reino:
O Reino é de Deus, é energia libertadora de Deus agindo no mundo e salvando o mundo. É dom de Deus e é também conquista (Lc 16,16 e Lc 13,24)
É Reino presente: está próximo (Mc 1,15); já está entre vós (Lc 17,21); “hoje estarás comigo no paraíso” (Lc 23,14).
O Reino é também escatológico: isto é, se refere ao final dos tempos. O Reino envolve a História, mas vai além da História; o dia em que Deus será tudo em todos (1Cor 15, 24-28).
O Reino tem três dimensões:
Pessoal: refere-se ao homem pecador; é libertação do pecado para a graça; vem pela conversão; em vista do homem novo.
Social: refere-se ao homem oprimido; é libertação da injustiça para a liberdade; vem pela luta do dia a dia; em vista da sociedade nova.
Escatológica: refere-se ao homem morto; é libertação da morte para a vida definitiva; vem pela ressurreição; em vista do mundo novo.
A PJ do Brasil, junto com Jesus, trabalha e reza “ Venha a nós o vosso Reino, seja feita a vossa vontade”(Mt 6,10).

Será que o Reino de Deus já está no meio de nós?
Cite alguns sinais do Reino presentes na Igreja, sociedade e nos jovens.
Que fatos mostram que o Reino ainda não está totalmente presente?

3. DEUS AMA OS POBRES E OS JOVENS

A História do povo de Deus é um cântico à predileção que Deus tem pelos pobres, aos fracos: “Ele não julgará segundo as aparências, ele julgará os fracos com justiça, com equidade pronunciará uma sentença em favor dos fracos desta terra” ( Is 11, 3-4).
Jesus Cristo concretiza este amor especial: “ Ide dizer a João: os cegos a vêem, os mudos falam, os coxos andam, os leprosos são curados, os mortos ressuscitam, aos pobres é anunciada a boa notícia e feliz de quem não se escandalizar por causa de mim” ( Mt 11, 1-6).
Esta mesma História foi marcada por jovens e pela atenção especial que Deus demonstrou a eles, como José do Egito, Josué, Samuel, Davi, os irmãos Macabeus, Jeremias, Ester, Rute, Maria...
Jesus demonstra um carinho especial por eles: “Jesus o olhou e o amou” (Mc 10,21), mesmo que ele lhe tenha voltado as costas e ido embora; Jesus lhe estende a mão, o reanima, o chama à vida: “Jovem, eu te ordeno, levanta-te”( Lc 7,14) e convida a segui-lo radicalmente: “ Se queres ser perfeito, vai, vende tudo que tens e depois vem e segue-me” (Mc 10,21). “ Saulo, Saulo, por que me persegues? Senhor, que queres que eu faça?” (At 9, 4-5); acolhendo Saulo, Deus diz que quer acolher à todos os jovens.
Olhando para o Marco Situacional vemos quantos pobres e quantos jovens há em nosso país. O que a sociedade faz por eles? Olhando para o Marco Histórico, vemos como a juventude vai fazendo história. A Igreja ama a Juventude?

Deus ama os pobres e os jovens. Quais opções nós fazemos?
Deus se revela na História. Conhecemos e valorizamos a história da PJ de nosso grupo, diocese e Brasil?


4. O DEUS QUE AMA É TRINDADE

A sociedade e o mundo juvenil são marcados fortemente pelo individualismo e pelo subjetivo.
O nosso Deus é família: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. O Pai ama como Pai e nós nos relacionamos como filhos; Jesus é o Filho, nosso irmão, e nos relacionamos com Ele como irmãos e o Espírito nos anima nesta relação, dando-nos um coração novo ( Ez 36,26).
São 3 pessoas e um só Deus. Jesus é imagem perfeita do Pai: “ Quem me vê ,vê o Pai. Eu e o Pai somos um. Acreditem em mim: eu estou no Pai e o Pai está em mim; Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Se vocês me conhecem, conhecerão também meu Pai” (Jo 14, 1- 11).
Eu pedirei ao Pai e ele dará a vocês outro advogado, para que permaneça com vocês para sempre; ele é o Espírito da verdade” (Jo 14, 15-17). “Como o Pai me enviou, eu também vos envio. Recebam o espírito santo” (Jo 20, 21-23). O Espírito com os seus dons: audácia, dinamismo, espontaneidade, amizade, solidariedade, alegria, criatividade...
A comunidade é expressão concreta deste amor - trindade: “A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma. Ninguém considerava propriedade particular as coisas que possuía, mas tudo era posto em comum entre eles e tudo era distribuído a cada um segundo sua necessidade ”(At 4,32-35).
A Trindade é uma comunidade na eternidade e na história. Esta verdade nos traz como conseqüência a importância da comunidade e do pequeno grupo na PJ do Brasil: A comunidade eclesial de base e o pequeno grupo devem ser a expressão de novo que Deus quer entre nós; inspirados no jeito de Jesus, nas primeiras comunidades cristãs e em toda experiência milenar da Igreja neste exercício permanente de amor - trindade, amor - comunidade, a PJ do Brasil quer semear este jeito antigo e novo de viver, anunciando esta boa e bela notícia a todos os jovens.
A Pastoral da Juventude do Brasil deve ser oferta permanente de espaços de comunhão-convivência em seus grupos, deve ser hoje uma resposta concreta e visível ao individualismo e à necessidade de convivência e de mística, características da nova cultura juvenil.
Este amor trinitário precisa de instrumentos concretos para que, aos poucos vá sendo criado um mundo onde “nunca mais haverá morte, nem luto, nem grito, nem dor. Porque Ele vai morar com eles. Eles serão o seu povo e ele, Deus-com-eles, será o seu Deus. Ele vai enxugar toda lágrima dos olhos deles.” (Ap 21,3-4).

Nossas comunidades e grupos de jovens são sinal visível deste amor trindade e resposta à cultura juvenil?

5. Igreja como sinal e instrumento deste amor concreto e trinitário de Deus
A Igreja é sacramento quando age nas situações do dia a dia, quando ela é sinal concreto da bondade, do carinho e da audácia de Deus: “Eu tive fome e me deste de comer...” ( MT 25, 31-46).
Para realizar isto a Igreja se alimenta da Palavra, que é luz no caminho e aquece o coração (Lc 24,32); da Celebração e Eucaristia, que é força no caminho e abre os olhos para a realidade do povo e dos jovens( Lc 24, 31) e que remete para a Missão ( Lc 24,33); por fim, a Igreja se fortalece com o testemunho concreto de tantos mártires, conhecidos ou anônimos, vivos ou mortos, que atestam com sua vida o carinho especial que Deus tem pelos pobres e pelos jovens.
Ao se despedir de seus jovens discípulos, a Igreja nascente, Jesus diz: “ Ide pelo mundo e anunciai a boa notícia a todos os povos - aos jovens” (Mt 28,18-20).
Jesus sintetiza sua missão com uma frase do profeta Isaías: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção, para anunciar a boa notícia aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos presos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos e proclamar o ano da graça do Senhor; e Jesus conclui: hoje se realiza a escritura que acabais de ouvir” (Lc 4, 16-21).
A missão de Jesus é a missão da Igreja. É uma missão desafiadora para a Igreja e que tem seu preço, pois confirma o amor especial de Deus pelos pobres e pequenos: “ Bem aventurados os que são perseguidos por causa da Justiça...bem-aventurados quando forem insultados e perseguidos e disserem todo tipo de calúnia contra vós, por causa de mim “ (Mt 5,10-11).
Missão que se realiza nos pequenos gestos do dia-a-dia e em ocasiões mais especiais, sendo a “pequena porção de fermento...sal..luz..grão de mostarda” ( Mt 13 ).A Igreja é desafiada a “ ouvir o clamor..descer e libertar”, na figura do texto de Êxodo 3, 5-8. Para realizar a missão é preciso também morrer, pois “se o grão de trigo não morrer, ele não vai produzir frutos”.
Uma Igreja que, para ser espaço de comunhão e participação, profética e libertadora, inculturada no mundo juvenil, ministerial e transparente, solidária e missionária tem que ser despojada: “ não leveis nada pelo caminho, nem bolsa, nem sacola, nem sandálias” (Lc10,4); simples e audaz: “ sede simples como as pombas e espertos como as serpentes” (Mt 10, 16).
Os jovens sonham com uma Igreja que celebre a vida, uma Igreja povo de Deus e de irmãos, comunhão e participação, pobre e que opte pelos pobres, profética e libertadora, solidária e evangelizadora; uma Igreja que ame os jovens, que confie neles e os impulsione para o compromisso e missão.


6. MARIA, MÃE DA IGREJA E MÃE DA JUVENTUDE

A Igreja nasce aos pés de Maria ( At 1,14) e o Espírito a faz “ testemunha em Jerusalém, em toda Judéia e Samaria e até os confins do mundo” (At 1,8).
Maria, mãe de Jesus, caminha com os jovens
Num contexto social, religioso e cultural como o do povo de Israel, onde o predomínio do homem sobre a mulher era aceito naturalmente, pode-se valorizar melhor a singular ação de Deus ao escolher uma jovem mulher para ser a mãe de seu Filho.
Maria, a jovem mulher de Nazaré, ocupa, assim, um lugar privilegiado na história da salvação. Nela, a mulher recupera sua dignidade, igualdade e liberdade. Maria, a criatura que Deus aproximou mais de si mesmo, o rosto feminino do amor de Deus, é a mulher da nova criação, o símbolo da humanidade libertada e a manifestação mais evidente de que a utopia de Deus está se realizando na história da humanidade.
Maria é mãe de Deus e mãe da Igreja
Maria esteve, desde o começo, junto de Jesus. Nela o Filho de Deus se fez homem por obra do Espírito Santo (Lc 1,35). Ela o apresentou ao mundo quando nasceu na pobre gruta de Belém (Lc 2,6-7). Ela o levou para o templo para consagrá-lo ao Senhor (Lc 2,22) e recebeu as enigmáticas palavras do velho Simeão: uma espada te atravessará a alma (Lc 2,35).
Ela o levou consigo quando peregrinaram a Jerusalém para cumprir as normas religiosas de seu povo e o buscou, entre o povo, quando ele havia ficado na cidade (Lc 2,41-52).
Ela acompanhou sua etapa de crescimento em Nazaré e foi “guardando todas as coisas em seu coração” (Lc 2,51). Ela o levou a realizar o primeiro sinal milagroso, em Caná, mandando aos serventes que “façam o que ele disser” (Jo 2,5). Ela o acompanhou discretamente durante sua vida pública (Lc 8,19-20), seguiu-o de perto no caminho do Calvário e esteve junto dele, ao pé da cruz, até o fim (Jo 19,25).
Pouco antes de morrer, Jesus a entregou como mãe a seu jovem discípulo (Jo 19,26-27). Por este gesto supremo de generosidade, Maria se converteu em mãe de todas as pessoas. Quando os discípulos se reuniram em oração para esperar a chegada do Espírito, esteve no meio deles (At 1,14) acompanhando o nascimento da jovem Igreja de Jerusalém.
Da mesma forma prosseguiu, ao longo dos séculos, tornando possível o nascimento de inúmeras comunidades de seu filho Jesus. ( Civilização do amor - tarefa e esperança p.128).
Maria é figura do que a Igreja é chamada a ser: “ Minha alma dá graças ao Senhor, meu espírito exulta em Deus meu Salvador...sua misericórdia chega aos que o temem. Ele derruba do trono os poderosos e eleva os humildes, aos famintos enche de bens e aos ricos despede de mãos vazias” (Lc 1, 46-55).
Maria assume a missão : “Eis aqui a serva do senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra”. (Lc 1, 38). É jovem , arrojada, destemida, seguidora fiel: “ fazei tudo o que ele vos disser” (Jo 2, 5). Ela é mãe de Deus, mãe da Igreja e mãe da juventude “ Jovem João, eis aí tua mãe” (Jo 19, 24).
A Igreja é chamada a assumir a missão com radicalidade, mas com alegria, lugar de gente feliz, para que não possam dizer da Igreja e dos grupos de jovens o que Maria disse em Caná: “ Eles não têm mais vinho” (Jo 2, 3). Missão é abraçar a causa de Jesus e dar a vida por ela. Quem entende isto é feliz. “ Eu te bendigo Pai porque revelaste estas coisas aos simples e pequeninos “ (Lc 10, 21).

Em que Maria serve de modelo para o nosso grupo de jovens?
O que ela tem a dizer aos jovens do nosso tempo?


7. UM AMOR ESPECIAL

Como Maria, a Igreja acompanha os jovens no caminho para Jesus Cristo.
A presença de Maria entre as multidões que crêem é uma constante América Latina. O povo a reconhece como mãe de Jesus e mãe de todos os que crêem. Ela é a presença maternal de Deus, a mãe próxima que escuta e sustenta os momentos de dificuldades. Mãe dos pobres, anima e conforta a caminhada do povo sofrido, até a libertação.
Os jovens peregrinam continuamente para seus santuários; Mostram-lhe seu carinho e seu afeto, chamam-na e reconhecem-na por seu próprio nome em meio às suas múltiplas invocações. Identificam-se com Juan Diego, que com ela se encontra e dialoga nas colinas de Tepeyac, a Virgem de Guadalupe.
Maria é exemplo de amor e amizade juvenil quando visita sua prima Isabel (Lc 1,39-45); é exemplo de humildade e simplicidade quando louva a Deus por ter fixado o olhar em sua condição humilde (Lc 1,47); é exemplo de sensibilidade social e preocupação para com os pobres quando canta sua alegria porque Deus age com justiça, “arruinando os soberbos, tirando os poderosos de seus tronos e despedindo os ricos de mãos vazias” (Lc 1,52-53). Seu canto de louvor - o “Magnificat”- reflete sua alma, é o anúncio das Bem-Aventuranças (Mt 5,3-12) e expressa o ponto culminante da espiritualidade dos pobres de Javé.
Maria segue mostrando aos jovens de hoje sua ternura de mãe. Ajuda-os a conhecer e a seguir seu filho Jesus, acompanha-os em seus processos de crescimento na fé, intercede pelos que estão longe ou buscam sem encontrá-lo e abre caminhos de esperança para os excluídos e para os que não têm voz.
Com seu exemplo, propõe um projeto de vida para os jovens e os convida a dizer “sim” a Jesus e a pôr-se em disponibilidade total para o serviço do Reino.( Civilização do Amor - tarefa e esperança p.129).
“Deus quer que todos se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade” (1Tm 2,4) mas, “ Uma atenção especial deve ser dada aos jovens, eles não são apenas destinatários da evangelização, mas dela devem tornar-se sempre mais sujeitos ativos, protagonistas da evangelização e artífices da renovação social” (DGAEv n.º 233).
“ Os jovens devem sentir que são Igreja, experimentando-a como lugar de comunhão e participação. A Igreja confia nos jovens. Os jovens são a esperança da Igreja. A Igreja vê na juventude da América Latina um verdadeiro potencial para o presente e o futuro da evangelização” Puebla n.º 1184-1186.
Que os jovens sejam apóstolos dos próprios jovens.

8. UMA EVANGELIZAÇÃO INCULTURADA

A PJB quer que a evangelização seja feita de maneira inculturada, que é um processo longo de encarnação, que têm os jovens e o povo, como sujeitos; que exige atitude de solidariedade, discernimento e crítica.
A evangelização tem como exigência o serviço e participação na transformação da sociedade: “jovens artífices da renovação social” (DGAEv 233).
Outra exigência da evangelização é o diálogo com outras religiões, com a defesa e promoção das culturas indígenas e afro-brasileiras, com a cultura pós - moderna e com os setores da sociedade que a representam.
O anúncio é exigência integrante da evangelização, onde Jesus Cristo é o centro e o vértice da mesma; o anúncio é tarefa de todos e é um desafio enorme.
Por fim, o testemunho da comunhão como um caminho de amadurecimento da “pessoa nova” em Cristo, pois é preciso “nascer de novo” (Jo3,1-8).
Resumindo diz-se : “a inculturação representa um critério geral de ação evangelizadora e o serviço, diálogo, anúncio e testemunho da comunhão são exigências ou aspectos distintos, mas complementares, da própria ação evangelizadora e pastoral” (DGAEv n.º 173).
Vivemos tempo de já e ainda não, fim de milênio, começo de novo milênio, em tempo de jubileu. É tempo de pedir perdão pelos erros cometidos como Igreja e como PJ do Brasil.
É tempo de perdoar dívidas e ressentimentos e de acalentar novos sentimentos e esperanças. É tempo de reforçar atitudes de solidariedade efetiva com os pobres, jovens e excluídos pela sociedade.
É tempo de justiça social. É tempo de gestos ainda mais concretos de ecumenismo com outras Igrejas, de diálogo com movimentos juvenis e congregações religiosas, tendo como ponto de aproximação o amor pela causa juvenil.
É tempo de ampliar parcerias com organizações eclesiais e laicas, que assumem com ousadia e transparência a causa dos jovens e dos pobres. É tempo da Igreja se renovar e assumir um rosto e um coração mais juvenil e uma opção mais afetiva e efetiva pela causa dos jovens e dos pobres.

Como alimentar a esperança dos jovens?
Qual o papel do jovens na evangelização?
Os jovens são Igreja? Como? Por que?


9. PJ DO BRASIL - UM JEITO OUSADO E NOVO DE EVANGELIZAR

A PJ do Brasil não pode passar ao largo, não pode deixar de se agachar, acolher, carregar nos ombros e cuidar dos jovens que são jogados à beira do caminho pelo neoliberalismo, sistema que exclui e mata os pobres e os jovens. É preciso sarar as feridas ( Lc 10, 29-37).
O jovem é chamado a ser cristão, pela fé, pelo Batismo, e a ser cidadão, pelo compromisso com a mudança da sociedade.
A PJ do Brasil é desafiada a assumir a causa do Reino, a construir, na Igreja, na sociedade e no mundo juvenil a Civilização do Amor( P.1188). Civilização do Amor que, nas palavras de J.Paulo II é “fundada em valores universais de paz, solidadriedade, justiça e liberdade, que encontram em Cristo sua plena realização” (TMA,52).
Civilização do amor que é “aquele conjunto de condições morais, civis e econômicas que permite à vida humana uma condição melhor de existência, uma racionalidade plena e feliz destino eterno” (Paulo VI, discurso de encerramento do Ano Santo, 25 de dezembro de 75).
A Civilização do amor é um chamado a reconhecer que o Reino de Deus cresce no Brasil e na América Latina, entre os pobres e os que sofrem, realidade que analisamos em nosso Marco Situacional. Embora seja pequeno como grão de mostarda, torna-se uma árvore em cujos ramos os pássaros farão seus ninhos ( Mt 13, 31-32).
É o amor a serviço da vida e uma visão de mundo a partir do Evangelho.
A construção da Civilização do Amor é uma reafirmação dos valores sagrados para a PJ do Brasil:
Sim à vida
sim ao amor como vocação humana
sim à solidariedade
sim à liberdade
sim à verdade e ao diálogo
sim à participação
sim ao esforço permanente pela paz
sim ao respeito pelas culturas
sim ao respeito pela natureza
sim à integração latino-americana.
A construção da Civilização do Amor é um repúdio aos anti-valores:
não ao individualismo
não ao consumismo
não à absolutização do prazer
não à intolerância
não à injustiça
não à discriminação e à marginalização
não à corrupção
não à violência.
Na construção da Civilização do Amor a PJ do Brasil reafirma :
o primado da vida humana sobre qualquer outro valor ou interesse
primado da pessoa sobre as coisas
primado da ética sobre a técnica
primado do testemunho e da experiência sobre as palavras e as doutrinas
primado do serviço sobre o poder
primado de uma economia solidária sobre a produção de riqueza
primado do trabalho sobre o capital
primado da identidade cultural brasileira e latino-americana sobre outras influências culturais hegemônicas
primado da fé e da transcendência sobre toda tentativa de absolutizar o ser humano.
(cf. Civ. Do Amor - tarefa e esperança p. 147-176)
Sim , os jovens são igreja e, como igreja, são enviados aos jovens. Os jovens são enviados, como protagonistas na Igreja e sujeitos históricos no mundo, a construir a Civilização do Amor.
Por isso são importantes a Ação, a Formação e a Espiritualidade.
“Sede simples como as pombas e espertos como as serpentes” diz Jesus em Mt 10,16. Saber conjugar simplicidade e audácia é fundamental se a Pastoral da Juventude do Brasil quiser evangelizar para transformar.
Os projetos de missão e cidadania devem ser alimentados por uma espiritualidade e mística profundas.
Ser protagonistas na Igreja é assumir com coragem e criatividade o desafio das missões jovens: o jovem ou o grupo de jovem que sai, vai a outra comunidade ou escola e ali leva a boa notícia aos jovens, formando grupos, abrindo espaços onde a juventude possa se encontrar e ser acolhida, respeitada e agir.
Ser sujeitos históricos no mundo é assumir o projeto de cidadania, levando os jovens a participar em espaços e organizações sociais e estudantis, em ações simples, concretas e possíveis, sem perder de vista a utopia, a mudança maior, indo, aos poucos construindo um projeto alternativo de sociedade, onde tudo seja posto em comum e não haja necessitados (At 4, 32-35 ).
Os jovens são sensíveis às necessidades e sofrimentos do povo. Há muita gente jogada à beira do caminho, roubadas, espoliadas, empobrecidas pelo neo - liberalismo. É preciso acolher, carregar, cuidar e sarar muitas feridas e muitos feridos que são esquecidos e excluídos pela sociedade ( Lc 10, 29-37). O desafio de Jesus continua atual : “ vá e faça tu o mesmo”(Jo 13,15).
Para não perder esta sintonia com a realidade é importante viver uma profunda espiritualidade, que é animada pelo espírito de Deus, que transforma tímidos apóstolos em testemunhas corajosos da ressurreição.
A presença profética na Igreja e na sociedade é conflitiva e somente uma espiritualidade sólida mantêm a pessoa serena e alegre. Por isso a importância da oração diária, como diz Jesus: “ não pudestes vigiar pelo menos uma hora comigo?” (Mt 26, 40).
A Pastoral da Juventude do Brasil, para alimentar a mística e a espiritualidade dos jovens e grupos juvenis, no projeto de espiritualidade, propõe as liturgias jovens, o Ofício Divino das Comunidades e a Leitura Orante da Bíblia como meios de sedimentar e fortalecer esta comunhão com Deus, abrindo o coração dos jovens a esta ação animadora e transformadora; “Eis que eu estou à porta e bato, se você abrir a porta, entrarei, sentarei à mesa contigo e cearemos juntos” (Ap 3, 20).
Deus ama, envia seu filho ao mundo e, com ele, a esperança do reino. Deus é trindade. A Igreja é o instrumento visível deste amor de Deus e Maria, o modelo de como a Igreja deve ser presença, se preocupando com os pobres e humildes.
Aí nos vêm à lembrança o texto de João 6, 60 -69, onde Jesus fala do pão da vida e que dará seu corpo em alimento. Vários discípulos se afastam dele e já não caminham mais com ele. Jesus se volta para os 12 e pergunta: “ Vocês também não querem ir embora?” (Jo 6, 67).
Esta é a pergunta que Jesus faz hoje a você a aos grupos de jovens: Vocês também não querem ir embora? A missão de construir a Civilização do Amor é dura. Nos diz a Palavra de Deus que Pedro respondeu: “ Senhor, a quem iremos, só tu tens palavras de vida eterna” (Jo 6, 68).
Se respondemos “sim” a este chamado de missão, Ele ele diz: “ Se alguém quer me seguir, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz e me siga” (Mt 8,34). E diz mais, “ se queres ser perfeito, vai, vende tudo que tens e dá aos pobres e depois vem e segue-me” ( Lc 10,21 ).
O seguimento de Jesus deve ser radical e alegre, assumindo a causa do Reino, e grande será vossa recompensa (Mt 5,12).

CONCLUSÃO

O projeto de Deus, o Reino, a construção da Civilização do Amor, é o fio condutor que perpassa, une e ilumina os cinco capítulos do Marco Referencial da PJ do Brasil.
A Civilização do Amor exige da PJB um olhar de respeito, seriedade e simpatia para a realidade social, juvenil e para a História da PJB e perceber aí sinais do Reino, da Civilização do Amor já presentes, acontecendo.
Por outro lado, a missão de concretizar a Civilização do Amor exige que se reafirme os valores, se supere os anti-valores e se confirmem os primados que acreditamos e defendemos.
Isto exige novas opções pastorais, metodológicas, pedagógicas e organizativas, que vão ser apresentadas no Marco Operativo deste livro.
Por fim, a Civilização do amor vai exigir uma mística e espiritualidade profunda, encarnada, bíblica, celebrativa, ecumênica e juvenil; isto será confirmado por nosso Marco Celebrativo.



CAPÍTULO 4 - MARCO OPERATIVO
“ Deus ama os jovens também pela PJB”


I. OPÇÕES PEDAGÓGICAS
INTRODUÇÃO
Os coordenadores da Pastoral da Juventude do Brasil precisam sempre manter na mira seu objetivo principal: a evangelização dos jovens. “Evangelizar constitui tarefa e vocação próprias da Igreja, sua identidade mais profunda” (EN 14). É no confronto com a realidade e iluminado pela Palavra de Deus, que o jovem procura dar uma resposta pessoal a Cristo no processo da descoberta de si mesmo e do amadurecimento pessoal, na vivência da comunidade e na sua participação na sociedade. O jovem, no processo de amadurecimento na fé, vai comprometendo-se com o estilo de vida de Jesus e com o projeto do Evangelho, localizado em sua realidade concreta. Com uma consciência crítica, opta com liberdade e com espírito solidário por caminhar com o outro procurando ser protagonista na construção do novo Céu e da nova Terra no meio do seu povo. Na medida em que se evangeliza, é evangelizado e leva ao seu meio específico os valores cristãos.
Como a realidade da juventude é diversificada, em todos os seus aspectos a PJB deve organizar, desde a nucleação, um processo de formação integral na fé, com passos pedagógicos apropriados, partindo da realidade e da experiência concreta de cada pessoa e grupo, despertando-a para o seguimento de Jesus Cristo e o compromisso com a causa da libertação dos oprimidos e marginalizados.
O jovem foge da solidão. Por isso construir-se como pessoa e participar na edificação dos outros devem ser desafios da PJB, através da comunicação e do intercâmbio, a partir do grupo de jovens. Ela deve ir ao encontro dos jovens, encarnando-se na realidade concreta da juventude, valorizando suas experiências, testemunhando e anunciando a Boa Notícia de Jesus Cristo. Ser presença e promover a vida, a dignidade, a solidariedade e a esperança frente às mais diferentes situações de marginalização e exclusão social.
A pedagogia é a ferramenta que viabiliza o processo de evangelização junto aos jovens. Esta pedagogia não é apenas os métodos e conteúdos. É, antes de tudo, uma forma de ser, de viver, de manifestar-se e de comunicar-se. Uma forma de educar na fé. É a forma como o assessor e o jovem se relacionam, e, também, como os jovens expressam este modo de ser e viver entre si e no contexto em que vivem.
Uma pedagogia que acompanha o processo de educação na fé, nos jovens, procura inspirar-se na pedagogia de Jesus. Quando Jesus, o Filho de Deus, entra na história humana, busca conhecer melhor seu povo, suas inquietudes, seus sonhos e sua cultura. Relaciona-se com as pessoas em seu modo de viver, falar e agir. Estabelece uma relação de escuta, de diálogo, de compreensão com o povo simples e marginalizado e com ele propõe uma proposta de felicidade, de justiça e de igualdade. Resgata a dignidade da pessoa. De um sujeito passivo diante da realidade de dominação e de desigualdade social faz nascer um sujeito gerador de uma nova comunhão com os irmãos a partir da comunhão com o Pai. Neste contexto, Jesus Cristo é enviado a reinventar espaços para a presença do Reino. A pedagogia verdadeira leva, por isso, ao seguimento de Jesus. Podemos aprendê-lo na experiência da mulher samaritana (Jo 4,1-15), em Zaqueu (Lc 19,1-9), em Nicodemos (Jo 3,1-22), nos discípulos de Emaús (Lc 24,13-35) e em muitos outros fatos narrados nos Evangelhos.

A Pastoral da Juventude do Brasil faz as seguintes opções pedagógicas:

1. Grupos de base,
2. Formação progressiva, integral e libertadora
3. Dimensões da Formação Integral
4. Diversidade da Pastoral da Juventude do Brasil (PJB)
5. Estruturas de Apoio: Organização e Acompanhamento
6. Assessoria.
7. Outros Recursos Pedagógicos
8. Estruturas de Apoio
9. o Método Ver Julgar Agir




1. OS GRUPOS DE BASE DE JOVENS

O grupo de jovens é a experiência central da proposta pedagógica e evangelizadora da PJ do Brasil. O grupo de jovens é o conjunto de jovens que se reúnem, de um modo mais ou menos estável, na comunidade paroquial ou em outros ambientes, passando pelas várias etapas, num processo de formação que os leva a um certo grau de discernimento e amadurecimento de sua vivência pessoal, grupal e comunitária. A opção pelo pequeno grupo se inspira na própria decisão de Jesus de formar seu grupo dos doze discípulos. Jesus também trabalhou com a massa e outros grupos de discípulos que enviava em missão, de dois em dois. Foi a partir dos pequenos grupos, de modo especial o grupo dos doze, que surgiu quase toda a liderança da igreja primitiva.

De preferência defende-se que os grupos da Pastoral Juvenil sejam pequenos, de 10 a 15 jovens, de idade homogênea, com um nível de participação estável e com ritmo periódico de reuniões. É necessário usar uma pedagogia que evite o perigo de fechar num "club" de amigos que não se abre para a missão no seu meio. O pequeno grupo tem como meta ser fermento na massa. É importante, também, formar mais de um grupo numa paróquia ou meio especifico, para evitar com que o trabalho da Igreja seja reduzido a uma meia dúzia de jovens. É difícil uma formação progressiva - por etapas - quando está sempre entrando e saindo gente. Portanto, um novo grupo, depois de chegar a um certo nível de estabilidade, deve encaminhar novos aspirantes para outros grupos. A opção por vários grupos facilita a organização de grupos por faixa etária (adolescentes e jovens) e a separação de jovens que estão chegando de jovens que já tem uma certa caminhada. Assim é mais fácil adaptar uma pedagogia e conteúdo a diferentes realidades.
O grupo deve ter uma estrutura mínima para funcionar: coordenador, vice coordenador, secretario . . . As reuniões de grupo também necessitam de uma estrutura para garantir a seriedade e continuidade no trabalho:
* Oração
* ATA
* Cobrança de decisões tomadas em reuniões anteriores
* Tema de fundo
* Informes
Fatores importantes para o bom funcionamento de um grupo são: pontualidade, distribuição de tempo, preparação, materiais de formação e dinâmicas, avaliação periódica do grupo e um planejamento que projeta o grupo para além da próxima reunião
O grupo de jovens constitui um lugar de crescimento, amadurecimento, formação e realização pessoal e comunitária, porque cria laços profundos de fraternidade, onde cada um é reconhecido como pessoa e valorizado como tal. Permite partilhar critérios, valores, visões e pontos de vista. Ajuda a enfrentar os desafios desta etapa da vida, decisiva para o amadurecimento na fé e a integração social. Educa para olhar e descobrir, junto com os outros, a realidade, partilhar experiências e desenvolver os valores da vida em comunidade. Possibilita encontrar-se com Jesus de Nazaré, aderir a Ele e a seu projeto de vida, alimentar-se da Palavra e rezar em comum. Impulsiona a renovação permanente do compromisso de serviço e de colaboração com a Igreja e com a sociedade na construção de um presente e futuro digno e solidário para todos. Dá solidez à projeção missionária, expressada no testemunho pessoal, no amadurecimento da opção vocacional por um estado de vida e de ministerialidade eclesial no compromisso com a promoção humana e a transformação da sociedade.
Os grupos jovens tem vários modos de ser, mas todos eles passam por “etapas”. As pessoas, por sua vez, passam por fases. Por isso que falamos, inicialmente, das etapas de um grupo e, depois, das fases das pessoas (jovens) na vivência grupal.

As etapas de um grupo

O grupo de jovens não nasce pronto. Como a pessoa, ele precisa ser preparado e “convocado para a vida”. Precisa ser gestado para nascer como grupo. Vai passando por sucessivas etapas de crescimento, até chegar à maturidade.
A comparação com as fases do crescimento da pessoa humana facilita a compreensão das etapas de grupo. A semelhança, porém, não significa que as etapas são iguais. O processo grupal têm seu próprio dinamismo. Tampouco, estas etapas não se dão de forma mecânica e obrigatória, como também não há linhas divisórias claras entre uma etapa e outra.


a) Nascimento e infância

O grupo nasce, assim como uma pessoa. Assim como a criança, depende em tudo da mãe. O grupo depende, em tudo, do assessor e de valores e expectativas trazidas pelos participantes. Os jovens vem com expectativas diversificadas. A maioria para ver o que acontece. Não se conhecem entre si como grupo. Não há um objetivo comum, nem consenso sobre o que seria o grupo, suas exigências de convivência e funcionamento. A presença do assessor é de máxima importância para acompanhar os primeiros momentos do grupo que nasce.
O grupo começa a crescer. É frágil no início. O assessor têm, ainda, um papel fundamental para a caminhada e amadurecimento do grupo como grupo. Os jovens ainda não se conhecem, há pouca história em comum, o conhecimento mútuo não é profundo, os participantes tem pontos de referência e visão distintos sobre as coisas. O grupo está centrado sobre si mesmo. Está numa fase de muito entusiasmo, com a união de todos, a alegria de estar juntos, vivendo um presente diferente. Cada jovem também está voltado para si mesmo, ansioso por encontrar solução para seus conflitos pessoais, sobretudo afetivos. Todos, no entanto, tem medo de se expor. Aos poucos cresce o desejo de conhecer-se mais e de chegar a ter uma identidade própria.
O grupo tem necessidade de seguir aprofundando o conhecimento mútuo e a integração, criando um ambiente de acolhida e abertura para que cada jovem se descubra e se revele. Esta vivência grupal vai favorecer a relação sistemática com outros que geralmente pensam diferente, têm experiências diferentes, gostos variados e escalas de valores que nem sempre coincidem com a própria. Embora existam muitas expectativas e temores não expressos e nem objetivos definidos, começa-se a vislumbrar para onde vai o grupo.

b) A adolescência

É uma fase de crise, conflitos, passagem e mudança. Por outro lado, é um momento de crescimento de tomada de consciência grupal, da crise de integração e de autoridade, da busca de sentido do grupo e de sua localização na realidade. Diante da crise o grupo se auto-afirma ou se desintegra. O diálogo é fundamental.
O assessor, com sua experiência e seu conhecimento, ajuda o grupo a objetivar e superar suas crises encontrando, juntos, seu caminho.

c) A juventude

O grupo que superou a adolescência e vive essa nova etapa, apresenta-se com maior segurança e estabilidade e maior independência com relação ao assessor. Aprofunda as relações humanas, assume compromissos com mais seriedade, começa a definir uma escala de valores, busca o verdadeiro sentido do amor, abre-se mais à realidade social e começa a tomar opções importantes na vida. Apresenta-se aberto à sociedade e às mudanças. Interessa-se pelos problemas sociais. Começa a se engajar, comprometendo-se em movimentos sociais populares trabalhando pela mudança da sociedade.

d) A idade adulta

Podemos definir o grupo que chegou a esta etapa como uma verdadeira “equipe de vida”, com fortes relações interpessoais e opções vitais assumidas. Apesar da heterogeneidade de pessoas, o grupo tem estabilidade, opiniões próprias e trabalhos. O grupo tem consciência das próprias limitações, capacidade de auto-análise e revisão.
Uma das características desta fase é estar voltado para fora, a serviço, gerador de vida, quer na nucleação e acompanhamento de novos grupos, quer no serviço à organização do povo, na comunidade ou nas organizações populares e políticas.

NOTA: Os grupos paroquiais ou comunitários de jovens e os grupos de jovens de meios específicos não são a única forma de fazer acontecer a Pastoral da Juventude Orgânica. Esta forma de reunir os jovens permanece ainda bastante válida na Igreja, porém, é preciso ter espírito missionário para perceber outros espaços de evangelização no meio dos jovens. Começam a aparecer outras formas onde os jovens se encontram e se reúnem para partilhar seus interesses, seus sonhos ou, até simplesmente, estar juntos como jovens. A ação pastoral precisa estar atenta aos grupos de teatro, conjuntos musicais, festivais, escolas de samba, grupos de dança e outros, pois o grupo tradicional não pode ser a única forma de atingir a grande diversidade da juventude. O importante é que aconteça uma verdadeira vida comunitária.


2. FORMAÇÃO PROGRESSIVA, INTEGRAL E LIBERTADORA

A formulação de um documento anterior da CNBB sobre Pastoral da Juventude continua válida: "A evangelização dos jovens terá sucesso à medida que responda globalmente às necessidades e aspirações dos mesmos. Por isso, do ponto de vista pedagógico, é importante que o anúncio evangélico e a catequese não sejam realizados apenas de forma abstrata, mas dentro de um contexto vivencial e por meio de paciente e constante acompanhamento.” Na verdade, ”depois que Deus uniu a si a história humana, nunca mais será lícito separar Deus das experiências humanas. Não se poderá mais proclamar uma doutrina sem sua vinculação com o universo humano; nunca se poderá apresentar uma análise da realidade, sem mostrar que, na sua profundidade, bate o coração do próprio Deus, de sua justiça e do seu amor" (DG 28)

A formação é progressiva. O processo de conversão não acontece de um dia para outro. O jovem chega ao compromisso depois de passar por diferentes etapas. Ao mesmo tempo há necessidade de trabalhar as diferentes dimensões da vida do jovem para que esta formação seja integral. Tratamos num primeiro momento
• das etapas de formação, e em seguida
• das dimensões da formação integral.

Tratamos anteriormente das etapas de crescimento dos grupos. Agora tratamos das etapas de crescimento da pessoa do jovem. Assim como o grupo, a pessoa humana não está “feita” mas “vai-se fazendo” em sua própria história. Distinguimos três fases: a nucleação, a iniciação e a militância.

a) A nucleação

É a fase em que os jovens são convocados, respondem afirmativamente e decidem começar sua participação nos grupos de jovens. Isto acontece através da amizade, convite pessoal, convites amplos, convites nos meios específicos, cursos, encontros, preparação para Crisma, catequese permanente, os convites massivos e outras formas. Exige um processo de nucleação.

Para que o processo de nucleação seja efetivo utiliza-se uma metodologia que valoriza o acolhimento pessoal, promove a participação, a integração, a organização grupal e ajuda o jovem a descobrir o valor e as exigências da vida em grupo, optando por ela. Deve-se levar em conta alguns critérios:

* a proposta deve partir da realidade do jovens aos quais se convida, de suas necessidades, de suas buscas, de suas inquietudes e expectativas. Deve ser uma proposta participativa, na qual o jovem se sinta envolvido e descubra que poderá ser protagonista de seu processo de formação.

* a proposta deve ser eclesial. O convite não pode ser assunto somente do assessor ou do grupo de jovens já constituído: tem que ser expressão da responsabilidade de toda a comunidade cristã preocupada pela evangelização dos jovens;

* a proposta deve ser clara. O convite dever ser honesto, os objetivos bem explicados. Desde o começo deve deixar claro que é uma proposta de vivência e realização de um caminho de amadurecimento na fé.

A ternura e a acolhida da comunidade eclesial aos jovens nucleados deve ser expressão de alegria por sua chegada e convite a fazer parte, desde o início, de uma comunidade mais ampla cuja vida e caminho começam a partilhar.


b) A iniciação

O ponto de partida da iniciação são as muito variadas motivações e graus de consciência e adesão a Jesus Cristo que os jovens trazem para o grupo. Nesta fase é importante uma metodologia que motiva os jovens a continuar participando das reuniões de grupo e paulatinamente desperta para o compromisso sério na comunidade eclesial e na sociedade. O importante é reconhecer que a fase da iniciação tem um tempo próprio de desenvolvimento que deve ser respeitado e que seus distintos momentos variam segundo as características dos jovens dentro dos grupos, seus objetivos, circunstâncias, etc. Em seguida descreveremos as etapas que servem como mapa para navegar dentro deste novo e estranho terreno.

c) A militância

A palavra “militante” tem uma longa história na vida da Igreja. Refere-se à ação eficaz do cristão e a seu compromisso, seu testemunho, sua luta e sua atuação concreta no mundo e na própria Igreja. É a fase “madura” do jovem e do grupo.

A militância exercida pelo jovem cristão define-se como aquela ação cada vez mais refletida, intencionada, consciente, contextualizada e organizada, visando promover uma renovação na Igreja e uma transformação na sociedade. É a fase da opção que o jovem cristão faz para assumir o estilo de vida de Jesus de Nazaré. É um compromisso mais permanente e libertador. Motivado pela fé, o militante é estimulado a viver sua vida numa entrega aos demais.

A militância dentro do processo evolutivo da personalidade do jovem é uma etapa ativa e criativa, que se desenvolve uma vez superada a adolescência. Supõe integração dinâmica dos elementos cognitivos, afetivos, sociais e transcendentes para uma opção e um projeto de vida. Supõe uma atitude de constante conversão e discernimento sobre o estilo de vida que se deseja, assim como sobre os espaços nos quais se pode e se deve agir e sobre as organizações que possibilitam trabalhar em comum na construção da Civilização do Amor , em justiça e fraternidade.

O jovem descobre a militância como “projeto de vida”; fortalece-se em sua fé e vida interior; conquista maior vivência espiritual; inquieta-se na busca de formação e auto-formação; alcança um maior crescimento na fé que o identifica com Cristo e o amadurece em sua própria personalidade. Além disso, conquista uma maior consciência do seu compromisso com Cristo dentro da Igreja e da sociedade.

Alguns jovens assumem uma militância interna no ambiente da Igreja, na atuação missionária, catequese, liturgia, preparação para o crisma, participação na Campanha da Fraternidade em Novenas de Natal, nas festas da comunidade, ecumenismo e outros setores da Igreja. Outros desenvolvem sua ação pastoral na própria Pastoral da Juventude, na preparação e coordenação de reuniões, cursos, assembléias, acompanhamento pessoal, partilha e vivência comunitária, boletins e outros. Outros ainda, que percebem o sofrimento e a injustiça na qual vivem amplos setores da humanidade, querem trabalhar pela mudança da realidade e assumem sua militância no âmbito social, participando nas organizações intermediárias, partidos políticos, movimentos populares, direções de grêmios estudantis, associações de bairro, grupos de defesa dos direitos humanos, de promoção da mulher, movimentos ecológicos, etc. Muitos dos que optam por um maior protagonismo nestas organizações, mantém contato com a comunidade cristã, seja através da participação em encontros ou celebrações litúrgicas, seja através de sua própria comunidade de reflexão. Estes jovens que assumem este tipo de militância intermédia precisam manter referência com a comunidade eclesial para alimentar e celebrar sua fé.

No âmbito eclesial, o jovem desenvolve uma maior consciência de sua participação e responsabilidade assim como conhecimento da realidade pastoral. Esta militância contribui para o surgimento de uma pastoral mais amadurecida. Neste campo estão as instâncias de coordenação, em todos os níveis; A Pastoral da Juventude (PJ), a Pastoral da Juventude do Meio Popular (PJMP), a Pastoral da Juventude Rural (PJR) , a Pastoral da Juventude Estudantil (PJE). O jovem assume o papel de evangelizador do próprio jovem.

A militância no espaço social têm como objetivo a transformação da sociedade, porém, devem contribuir, também, na transformação da vida da comunidade eclesial.

ETAPAS MAIS DETALHADAS

As fases de Iniciação e Militância podem ser dividas em etapas mais detalhadas. Estas etapas são o resultado de uma reflexão e sistematização da Pastoral da Juventude do Brasil e da América Latina de muitos anos. Hoje são assumidas oficialmente tanto em nível do pais quanto em nível do continente. As etapas são:

7. Descoberta das etapas recorridas
(Maturidade Pedagógica)

6. Descoberta da Militância (Opção Vocacional)

5. Descoberta das causas estruturais (análise social)

4. Descoberta da necessidade de uma organização mais ampla

3. Descoberta do problema social

2. Descoberta da Comunidade

1. Descoberta do Grupo



As etapas são de pessoas não de grupo. Freqüentemente, dentro do grupo, o crescimento é desigual. As etapas são um tipo de mapa que o coordenador ou assessor do grupo tem ao iniciar uma viagem empolgante de descoberta numa terra estranha. As etapas são horizontes novos que se abrem quando a pastoral prepara uma terra fértil onde a semente da Palavra de Deus pode brotar no coração de cada jovem. São desafios novos que se apresentam para motivar o jovem a dar o melhor de si. Quando o líder de grupo e de pastoral diocesana não tem a visão de etapas, suas perspectivas se estendem pouco além da próxima reunião ou atividade que está sendo promovida. A falta de uma visão a largo prazo leva a uma pastoral superficial que tem pouca incidência no ambiente da Igreja ou da sociedade. Sem a visão de etapas não se desenvolve uma Pastoral de Juventude libertadora e transformadora.
Todo o processo de crescimento por etapas deve levar ao amadurecimento da opção vocacional no sentido amplo do termo, de dar uma resposta pessoal de adesão ao chamado de Jesus Cristo para o seguimento. O ponto de chegada de uma Pastoral Juvenil bem conduzida deve ser a opção vocacional.
Alguns jovens fazem a opção de viver a vocação comum de batizados assumindo um ministério/serviço específico na comunidade eclesial e como fermento do Reino nos meios sociais onde se faz presente. Alguns leigos fazem a opção de assumir um ministério específico no mundo da política. Outros fazem a opção pela vocação de consagração como sacerdotes ou religiosos(as).
O jovem que percorreu todas as dimensões do processo de formação integral na fé, sente-se capacitado de assumir o compromisso para testemunhar sua fé no seguimento de Jesus Cristo, como também de anunciar a Boa Notícia de Jesus na militância na comunidade eclesial e na militância política e social. Assume o compromisso cristão firme e conseqüente, vivenciado como opção pessoal, expresso na participação comunitária e na ação transformadora, segundo seu projeto de vida

3. AS DIMENSÕES DA FORMAÇÃO INTEGRAL

No processo de educação na fé por etapas a PJ do Brasil opta por diferentes dimensões na vida do jovem que precisam ser cultivadas. A visão de dimensões da formação integral ajuda os líderes da pastoral a não cair na tentação de promover um tipo de formação que seja reducionista: apenas psicológico, apenas espiritualista ou apenas político. Estas cinco dimensões devem receber atenção em cada etapa (descoberta do grupo, da comunidade, do problema social, da organização mais ampla etc). Porém, dependendo da etapa em que se encontram os jovens a maneira de tratar cada dimensão e a acentuação serão diferentes.
As dimensões da formação integral podem ser vistas em termos das diferentes relações que o jovem tem:
1. Consigo mesmo
2. Com os outros
3. Com a sociedade
4. Com Deus
5. Com a ação (capacitação técnica)

i) Relação Consigo Mesmo (dimensão da personalização)
É a dimensão da relação do jovem consigo mesmo. Responde às necessidades de amadurecimento afetivo e formação positiva da personalidade. É a busca constante de uma resposta, não especulativa mas existencial, à pergunta: “Quem sou eu”?
Nesta dimensão o jovem precisa acolher a própria vida. Procura conhecer-se, aceitar-se, assumir-se a si próprio, como também procura desenvolver suas aptidões e qualidades, seus sentimentos e interesses com relação aos outros. A educação e a vivência da fé são concebidas como auto-aceitação, humanização, busca de sentido da vida e opções de valores.
ii) Relação com os outros (dimensão da integração grupal e comunitária)
Corresponde à dimensão social, da descoberta do outro como ser diferente e do grupo como lugar de encontro. O grupo oferece um espaço para ir descobrindo, de modo concreto e vivencial, a necessidade de realizar-se como pessoa na relação com o outro. Esta relação gera crescimento, exercita a crítica e a autocrítica como meio de superar-se pessoalmente e colaborar no crescimento dos demais.
Este processo de amadurecimento leva o jovem a uma progressiva abertura para as relações interpessoais, reconhecendo nos outros, valores, diversidades e limites. O jovem começa a fazer a experiência de um relacionamento mais consciente com a família, com o grupo e com a sociedade, até a experiência comunitária como referência permanente para sua vida. Na comunidade, o jovem se torna participante ativo e criativo de sua própria história. A educação na fé é concebida, aqui, como caminho a ser percorrido comunitariamente.
iii) Relação com a sociedade ( dimensão sócio-política)

Corresponde à dimensão da socialização ou da inserção do jovem na sociedade. Trata da convivência social com relações de justiça e solidariedade, com igualdade de direitos e deveres. A política é a arte de administração da convivência dos cidadãos. Capacita o jovem para ser cidadão consciente, sujeito da história nova, com participação crítica em favor da justiça e da vida digna para todos. Forma o jovem para ser capaz de projetar-se em sua comunidade local, nacional e internacional. É importante formar o jovem para a cidadania.
Esta experiência comunitária leva o jovem a confrontar-se com problemas cuja solução exige convergência de esforços e vontade política. A promoção do bem comum e a construção de uma ordem social, política e econômica humana, justa e solidária, torna-se um compromisso de fé. A educação na fé é concebida como ação transformadora da complexa realidade sócio-econômica-política e cultural.

iv) Relação com Deus (dimensão mística e teológica)

Esta dimensão trata da vivência e fundamentação da fé do jovem, do encontro com a Pessoa de Jesus Cristo, sua prática, seu Projeto e seguimento em comunidade. É a presença de Deus agindo nos acontecimentos de sua vida, da vocação mais profunda de ser filho e irmão, do descobrimento de Jesus e da opção por segui-Lo, do discernimento da ação do Espírito nos sinais dos tempos da história pessoal, grupal, eclesial e social e do compromisso radical de viver os valores do evangelho. E o jovem descobre a Comunidade eclesial como lugar de alimentar e celebrar a vida na Fé.
Neste encontro com Jesus Cristo o jovem descobre Nele o sentido de sua existência humana pessoal e social. Nasce a experiência de fé que o faz viver como cristão autêntico. Passo fundamental nessa dimensão é transformar a experiência de vida pela força da fé em experiência evangélica. Integra-se a fé na vida. A educação da fé é concebida como interpelação constante entre experiência de vida e formulações da fé.
É necessário formar o jovem para ter uma experiência de Deus (espiritualidade ou mística) e ao mesmo tempo ajudá-lo a adquirir uma compreensão teórica da sua fé (teologia).

v) Relação com a ação (dimensão metodológica e de capacitação técnica)

Corresponde à capacitação técnica/metodológica para o planejamento, desenvolvimento e avaliação da ação transformadora, para o exercício da liderança e coordenação democrática nos grupos, organizações e também junto às massas. Trata-se de ser profissional, realizando a missão com eficácia.
No processo de amadurecimento da fé o jovem sente necessidade de testemunhar a própria fé, empenhando sua vida no serviço aos outros. Para que sua ação seja eficaz, precisa entrar num processo de formação permanente, que lhe garanta a aquisição de técnicas e de competência educativa profissional para assumir tarefas de coordenador de grupos jovens, de comunicador da mensagem de Jesus Cristo e de formador de lideranças.
A ação é uma necessidade especial dos jovens e um instrumento pedagógico privilegiado. A partir de pequenas ações refletidas e avaliadas, os jovens vão crescendo em sua inserção eclesial e social para serem uma presença transformadora.

4. DIVERSIDADE DA PASTORAL DA JUVENTUDE DO BRASIL (PJB)

A Pastoral da Juventude do Brasil se realiza de diferentes maneiras, segundo a enorme diversidade de experiências que se dão no meio da juventude. Dedica-se a cultivar, a partir do evangelho, os valores juvenis nos diferentes ambientes da vida paroquial e da sociedade.
A expressão Pastoral da Juventude do Brasil (PJB) indica uma nova fase na organização dos jovens na Igreja do Brasil que teve início em julho de '95 com a 11a. Assembléia Nacional da PJB (chamada de "Onzima"). A sigla PJB significa o conjunto das 4 PJs: PJ-Pastoral da Juventude, PJE-Pastoral da Juventude Estudantil, PJR-Pastoral da Juventude Rural e PJMP-Pastoral da Juventude do Meio Popular.
A PJE, a PJR e a PJMP, desde seu surgimento, tiveram organização própria, além dos espaços de organização conjunta.
A PJ teve seu primeiro encontro em 1973. A partir de 83 passou a ter sua organização junto com a PJR, PJE e PJMP.
Depois de realizar 4 encontros nacionais próprios e das definições da 11a. Assembléia nacional, a Pastoral da Juventude (PJ) optou por ter novamente uma organização própria em todos os níveis, redefinindo sua identidade e missão e assumindo a Comunidade Eclesial de Base como um espaço específico de atuação eclesial e social .
Para decidir e encaminhar os projetos comuns das 4 PJs, há o Setor Juventude da CNBB, Assembléia nacional da PJ do Brasil, Secretaria Nacional da PJB, Comissão nacional de jovens e Comissão Nacional de Assessores da PJB.

4.1 A JUVENTUDE E OS MEIOS ESPECÍFICOS

Antes de descrever cada pastoral é necessário, portanto, dizer uma palavra sobre a importância dos meios específicos onde o jovem passa a maior parte da sua vida ou boa parte dela.
Destaca-se as diferentes realidades dos jovens brasileiros, sujeitos e destinatários da ação Pastoral. A Igreja procura adaptar-se às mudanças culturais e realiza o trabalho de Evangelização com os jovens de várias maneiras, de acordo com as circunstâncias histórico-culturais da época. A Pastoral da Juventude do Brasil tenta conhecer melhor os jovens e as sementes evangélicas que existem neles e na cultura sedutora que abraçam .
Na compreensão da juventude pode-se usar o critério cultural, afirmando a existência de diferentes valores culturais adquiridos pelos jovens. Num sentido mais amplo, é possível diferenciar a juventude por situações sócio-econômicas, pela localização dos jovens no campo ou na cidade, no centro ou na periferia, pelas culturas bem diversas, pelos interesses e gostos, pelo estudo e pelas situações críticas especiais. As Conferências Episcopais de Medellin, Puebla e Santo Domingo já falavam desta variedade de juventude que exigem acompanhamento diferenciado.
“Meios Específicos”, na Pastoral da Juventude do Brasil, podem ser descritos como sendo espaços claramente definidos, seja por motivos econômicos e políticos, seja por motivos culturais no qual o jovem se desenvolve e passa a maior parte de seu tempo ou um tempo muito significativo de sua vida. Os meios privilegiados dentro da PJ do Brasil são: a Comunidade Eclesial de Base, a escola, o bairro popular e o meio rural. Nesses espaços o jovem tem interesses, preocupações e linguagem comum com outros jovens. São espaços que possibilitam condições suficientes para o jovem organizar-se na busca de respostas à sua problemática. São espaços que ajudam o jovem, a impulsionar processos de educação sistemática que o capacita para cumprir com o seu papel de cristão e cidadão. São espaços onde o jovem está chamado a intervir na sociedade e na Igreja como protagonista.
As Pastorais Específicas de Juventude são uma opção, a partir da fé, por uma ação concreta nesses meios específicos. Buscam fazer presente o Reino de Deus e transformar com a força do evangelho a complexa realidade do mundo em que se vive nesses mesmos meios. Privilegiam a participação em espaços humanos próprios definidos por certa institucionalidade no interior da sociedade, onde as pessoas se nucleiam em torno a preocupações específicas comuns, relacionadas principalmente com problemas de sobrevivência, trabalho, saúde, estudo, identidade étnica ou cultural. São uma nova maneira de fazer pastoral que procura responder ao desafio urbano onde a paróquia não consegue atender mais a todas as exigências pastorais(DG 204-205).
As Pastorais Específicas de Juventude são conseqüência de um processo pedagógico de educação na fé cujos frutos são a conversão pessoal e social de cada meio ao Evangelho e à aquisição de uma identidade madura adequada a uma vocação especificamente situada. São pastorais que acompanham o jovem para que assuma sua identidade e seu sentido de pertença favorecendo o protagonismo em seu ambiente, levando a proposta do Reino mediante sinais, linguagem, organização e valores próprios. É um modo concreto de fazer efetiva a opção preferencial e evangélica pelos pobres, já que sai ao seu encontro nas situações cotidianas de luta por uma vida digna como cidadãos.
Houve um tempo em que se falava muito nos “organismos intermediários da sociedade civil”, mas eles não são os únicos fatores da criação da nova sociedade que queremos. O importante é que o jovem seja levado a optar pelos meios que mais o realizam e onde pode pôr em prática a sua vocação de cidadão e cristão, sendo missionário em todas as realidades, encarnando-se nelas. A diversidade de realidades da juventude requer, por isso, a articulação de “Pastorais diferenciadas”, sem deixarem de ser orgânicas. O todo se expressa de diferentes formas. Os meios específicos estão presentes como reflexão sobre a presença dos seus jovens cristãos no coração do mundo e também como opção de engajamento.

4.2 Descrição das Diferentes Pastorais de Juventude

As Pastorais da Juventude atualmente presentes no Brasil e com organização própria, são: a Pastoral da Juventude (PJ), e a Pastoral da Juventude Rural (PJR), a Pastoral da Juventude Estudantil (PJE), e a Pastoral da Juventude do Meio Popular (PJMP). Apresentamos, a seguir, uma curta descrição de todas elas. Estas descrições foram elaboradas por integrantes de cada pastoral:

4.3 A Pastoral da Juventude (PJ)

A Pastoral da Juventude (PJ) expressa aqui os grupos de jovens das paróquias e CEBs, da cidade e do interior. São a grande maioria dos grupos existentes no Brasil, mais de 30.000 grupos de jovens. Esta pastoral se define da seguinte maneira:
* Somos jovens das diversas realidades regionais do país, na maioria empobrecidos e, a exemplo de Jesus Cristo, fazemos opção pelos pobres e jovens. Nos encontramos em grupos para partilhar e celebrar a vida, as lutas, sofrimentos e cultivar a amizade, a partir de uma formação integral e mística própria.
* Somos grupos de jovens motivados pela fé, atuando dentro das comunidades eclesiais, a serviço da organização e animação das comunidades.
* Nos organizamos a partir das coordenações dos grupos, paróquias, setores ou regiões pastorais, diocese e regional, ligados a Igreja do Brasil e da América Latina. Assim construímos e registramos nossa história, criando unidade na diversidade.
* Atuamos também na sociedade, inseridos nos movimentos sociais, com destaque para a participação política-partidária, movimentos populares e outras organizações que lutam em defesa da vida e da dignidade humana.
* Diante de uma política desumana, da manipulação dos MCS e de uma realidade tão diversa, ousamos assumir e propor os Projetos da Pastoral da Juventude do Brasil, como alternativa na construção da Civilização do Amor, sendo presença gratuita e qualificada no meio da juventude, atuando também em parceria com outras pastorais e organizações da sociedade.
* Somos PJ organizada no Brasil, com linha definida e metodologia própria, aberta ao novo, no acolhimento dos anseios da juventude, garantindo o seu protagonismo, evangelizando de forma inculturada na realidade em que vivemos.
* Somos jovens felizes, apaixonados(as), ternos(as), e motivados(as) pela fé. Encaramos a vida como potencial criativo muito grande, valorizando as artes (danças, poesia, música . . .) o lazer, o corpo, o símbolo, as culturas, com ardor, sonhos e amor pela causa do Reino.

A Missão.
* A Missão é o que dá vida e sentido para a PJ. É o eixo determinante. É o nosso agir concreto de jovens que participamos da comunidade eclesial e damos testemunho de nossa fé, inspirados(as) na pessoa e na proposta de Jesus Cristo e animados(as) pelo Espírito Santo.
* A PJ, como parte da Igreja Latino-americana, assume a Evangélica opção pelos pobres e jovens. E nós, jovens, protagonistas da PJ, vamos ao encontro de todos os jovens, nas diversas realidades eclesial e social, sendo sensíveis e solidários(as) às suas dores, desejos, alegrias, necessidades, potencialidades, anseios… Queremos que todos nós, jovens, sejamos comprometidos(as) com a libertação individual e coletiva, resgatando a cidadania. Queremos ser capazes de denunciar profeticamente as estruturas e situações de morte, anunciando e testemunhando o Reino do Deus da Vida..
* Por isso, buscamos descobrir alternativas e propor ações concretas que respondam aos problemas que nós, jovens, vivemos. Procurando utilizar recursos pedagogia e linguagem jovens que contribuam para transformar a realidade e concretizar os sinais da CIVILIZAÇÃO DO AMOR - “O ANO DA GRAÇA DO SENHOR”.

ORGANIZAÇÃO E ACOMPANHAMENTO NA PJ


A PJ é ação evangelizadora da Igreja entre os jovens, onde os próprios jovens são protagonistas de sua evangelização, assumindo-se como evangelizadores de outros jovens. . A organização não é somente uma coisa útil e necessária, mas é encarada como uma forma evangelizadora. Os jovens se educam na fé e na cidadania através da própria organização.
A organização permite a partilha e a sistematização das experiências; promove um processo educativo na fé; desperta a consciência crítica e a memória histórica, favorecendo a realização da missão evangelizadora de modo orgânico.

Espaços de participação e estruturas de organização DA PJ
Não é qualquer organização que interessa à PJ. Ela deve responder aos princípios teológicos, políticos e sociais nos quais acreditamos. A comunidade eclesial é o lugar que identifica a PJ; na Comunidade Eclesial de Base o grupo de jovens é convocado a ser “fermento na massa” e a promover a mudança eclesial e social.

a) A nível de grupo de jovens
Começamos com o nível básico da organização, que é o grupo de jovens como tal. A organização neste nível favorece a animação, a formação e a coordenação do trabalho com os jovens, através de processos de educação na fé e de uma estrutura mínima, interna e necessária, para seu desenvolvimento e crescimento. O responsável imediato da condução do grupo é um coordenador, ou melhor, a coordenação, que promove a vida grupal, as tarefas de coordenação interna e os demais serviços que realizam os próprios jovens. Ele é, também, aquele que, em comunhão com o assessor ou com a equipe de assessores, faz a coordenação com os demais grupos a nível paroquial.

b) A nível Paroquial
A paróquia é a “comunidade das comunidades”(SD 58) que vivem num determinado território. Atenta às diversas manifestações da juventude que surgem em seu interior, converte-se em “centro de coordenação e animação de comunidades, de grupos juvenis”(SD 644). Ajuda a integrar os grupos de jovens na Pastoral de Conjunto e promove sua plena participação em suas estruturas organizativas, através de sua presença no Conselho Paroquial de Pastoral, onde os jovens fazem ouvir sua voz e se integram com toda a comunidade paroquial.
c) A nível de área pastoral, forania ou setor
Nas dioceses, as paróquias freqüentemente se articulam em áreas pastorais, foranias, comarcas ou setores, para conseguir uma melhor animação e uma maior eficácia no trabalho pastoral. Nestes âmbitos reproduzem-se - a nível correspondente - as linhas básicas de organização que se apresentaram a nível paroquial.

A articulação mais comum é a das Equipes de Área, integradas pelos Coordenadores Paroquiais ou Delegados das Equipes Paroquiais, eleitos por um período previamente determinado.
d) A Nível Diocesano
A PJ deve estar inserida na Pastoral Diocesana e desenvolver sua ação tendo em conta as orientações e os planos pastorais da Igreja particular. A Assembléia Diocesana da PJ é a instância mais ampla e representativa, em seu nível. É formada por jovens, coordenadores, delegados, e assessores dos grupos de Pastoral da Juventude existentes na Diocese.
A Assembléia é o espaço onde se trocam iniciativas, detectam-se as necessidades comuns, buscam-se caminhos de resposta, fazem-se opções e se aprova o Plano diocesano da PJ, em comunhão com as orientações da Igreja local.
A PJ Diocesana é animada por um assessor adulto e um coordenador jovem. Às vezes, há também um liberado diocesano cujas funções variam de lugar para lugar. Estes são escolhidos com a participação dos jovens e o bispo diocesano e tem como funções: coordenar reuniões diocesanas de jovens, operacionalizar questões práticas, tomar decisões imediatas e servir de ligação entre os vários grupos, a PJ e o clero e animar todo o trabalho da PJ na diocese.

e) A Nível Regional
Em cada Regional da CNBB existe a Coordenação Regional da PJ. Depende dela estimular uma caminhada conjunta da PJ Regional com a PJ Nacional e a PJ do Brasil É formada por jovens que fazem parte das coordenações diocesanas e são acompanhados por um Assessor Regional, uma Comissão Regional de Assessores e o Bispo que acompanha a PJ em cada Regional.
As principais tarefas da Coordenação Regional da Pastoral da Juventude é garantir uma caminhada em conjunto das diferentes dioceses, realizar atividades conjuntas e garantir uma articulação da PJ com instâncias nacionais. Em alguns regionais existem jovens que são liberados para ajudarem na dinamização da PJ. Num espírito de diálogo entre jovens e bispos, a PJ procura indicar um Assessor que, dentro do seu ministério, anima e marca presença em espaços eclesiais que reforçam o trabalho da evangelização da juventude.
A instância máxima a nível regional é a Assembléia Regional da PJ que define o plano regional de ação da PJ.
F) NÍVEL NACIONAL

Para animar e coordenar os mais de 30.000 grupos de jovens a PJ tem a seguinte organização nacional, que é leve e ágil, de fato, o mínimo necessário para que os grupos de jovens possam caminhar melhor no seu compromisso; a organização a serviço da missão.

* ENCONTRO NACIONAL DA PJ
O Encontro Nacional tem um caráter de troca de experiências, deliberativo e uma periodicidade de dois em dois anos. Participam delegados dos Regionais. A CNPJ é responsável por decidir e encaminhar qual a delegação de cada regional. Quer ser um espaço bem representativo das bases da PJ.

* COORDENAÇÃO NACIONAL DA PJ (CNPJ)
A Comissão Nacional da PJ é composta de um jovem representante de cada Regional da CNBB e um assessor para acompanha a Coordenação Nacional. Tem uma periodicidade de dois anos. Tem como caráter: articular, animar, ser elo de ligação da PJ com os Regionais, pensar o projeto financeiro, encaminhar decisões da PJB, deliberar, comunicação, espaço de encontro, preparar o Encontro Nacional, avaliar a caminhada e representar a PJ em todos os encontros.

* Comissão executiva
Formada por cinco jovens, um de cada bloco, mais o assessor que acompanha a CNPJ. Tem a função de executar as decisões do Encontro Nacional da PJ e da CNPJ.

* ASSESSOR DA CNPJ
O papel do assessor é de animar a CNPJ, representar a PJ na CNAPJB, contribuir na formação dos membros da CNPJ, dar acompanhamento pessoal à CNPJ.

* SECRETARIA NACIONAL
A PJ não tem, por enquanto, uma secretaria própria, mas usufrui da infra-estrutura do Setor Juventude e da Secretaria Nacional da PJ do Brasil.

4.4 A Pastoral da Juventude Rural (PJR)
A Pastoral da Juventude Rural (PJR) está ligada à problemática da terra, tanto do ponto de vista da questão agrária, quanto da ecologia. O projeto de uma sociedade nova passa necessariamente pela questão da terra. Atinge jovens agricultores, filhos de pequenos agricultores, sem-terra, peões, arrendatários, assalariados, safristas, bóias-frias. São jovens empobrecidos e, ao mesmo tempo, são alegres e simples. Valorizam sua cultura, mas sofrem forte influência da cultura urbana. São jovens de várias etnias e culturas e enfrentam, no dia-a-dia, as dificuldades impostas pela política econômica, que tira as condições de vida: terra, moradia, emprego, salário digno, educação, lazer, poder de participação e decisão.
São jovens em geral, com baixo grau de escolaridade. Vivem no campo e lutam pela sobrevivência. São trabalhadores distribuídos nas mais variadas categorias de trabalho. A partir de sua própria cultura, de sua visão de mundo, e dos valores de suas vivências cotidianas, a PJR é chamada a anunciar-lhes a boa nova do Evangelho e a colaborar na busca de respostas concretas para que possam manter seu papel ativo na produção e para que continuem lutando em conservar seus valores e suas raízes no contato com o mundo urbanizado.
A PJR procura entrar nesta realidade e refletir o mundo da juventude rural, nascendo da necessidade vivida e sentida por esta juventude. Necessidade de se organizar enquanto cristãos e enquanto trabalhadores rurais, no sentido de aprofundar a sua vida e prática à luz da fé.
Seu objetivo geral é acompanhar o jovem rural em seu crescimento pessoal e comunitário, no redescobrimento de sua identidade e seus valores religiosos e na tomada de consciência de seus direitos sobre a terra; para que com outros jovens e adultos rurais, abram canais de expressão e organização e se constituam em agentes de mudança e semeadores de esperança de uma sociedade justa e fraterna.
Algumas propostas que a PJR defende e propõe, são
1) Fortalecer a identidade cultural dos agricultores, resgatando seus valores, defendendo as culturas de suas comunidades e purificando sua religiosidade popular;
2) Desenvolver a consciência do direito à posse, produção da terra, conhecendo e analisando profundamente sua problemática, mantendo contatos com Movimento de Defesa da Terra, gerando formas alternativas de produção e propiciando uma transferência de tecnologia adequada;
3) Redescobrir e revalorizar as histórias e tradições das comunidades rurais e promover a conservação, defesa, recriação e enriquecimento dos valores próprios de seu estilo de vida, especialmente a hospitalidade, a comunitariedade e a solidariedade;
4) Promover os grupos de jovens como espaços de crescimento pessoal, conhecimento da realidade, aprendizagem no produtivo e amadurecimento do compromisso cristão a serviço da realidade e elaborar com eles, a partir de sua realidade social, cultural, econômica, política e religiosa, planos de formação que os capacitem para seu protagonismo na Igreja e na sociedade;
5) Educar a consciência política e social e promover a participação dos jovens nos organismos intermediários existentes ou a serem criados, para que se convertam em fatores de mudança;
6) Fortalecer as organizações rurais e coordená-las com instâncias eclesiais e não eclesiais que trabalham no meio, promovendo espaços de encontro para o mútuo conhecimento, intercâmbio de serviços e realização de ações conjuntas;
Organizando-se para o serviço acontecer
A estrutura organizativa da PJR está em constante avaliação e redefinição, pois entendemos que a mesma deva estar a serviço dos jovens rurais e da própria Pastoral da Juventude do Brasil. No mesmo instante em que se tornar pesada e não responder mais as necessidades, temos certeza que não serve para o serviço pastoral. Queremos uma estrutura que seja leve e ágil, que favoreça a comunicação e busque uma organização específica. Queremos firmar que a base de nossa organização e da caminhada que vem sendo escrita ao longo da história, sempre foram e continuarão sendo os grupos de jovens espalhados por todo o Brasil, estejam eles ligados ou vinculados às comunidades ou ao seu espaço de trabalho, em seus Projetos Alternativos de produção.

Organograma da PJR

Assembléia Nacional da PJR

CNAPJR  CNPJR  Secretaria

Regionais

Dioceses

Exp. Alternativas  Paróquias  Grupos .

4.5 Pastoral da Juventude do Meio Popular (PJMP)
A Pastoral da Juventude do Meio Popular (PJMP) se organiza a partir de grupos que tem a preocupação em se colocar a serviço da comunidade, da sociedade e do ambiente em que os jovens vivem. O ambiente geo-político determina e caracteriza o meio popular. Nesse contexto, levam em conta a construção do cidadão onde a fé e o sentimento de pertença a Igreja, comunidade de irmãos, é a força que nos impulsiona e nos faz comprometidos com mudanças reais na vida pessoas, na sociedade e na própria Igreja. É uma articulação de jovens da classe trabalhadora (operários, comerciários, motoristas, biscateiros, empregadas, etc.). lutando pelos direitos de suas categorias e refletindo sobre estas lutas à luz da Palavra de Deus, comprometendo-se com a construção de uma sociedade nova onde não haja injustiça nem exploração e nem exclusão social.
É uma pastoral que, organizando-se a partir do meio social, revela as particularidades existentes no meio da juventude, não escondendo, assim, as diferenças. A PJMP reconhece as diferenças e busca trabalhar tendo como prioridade os jovens empobrecidos e marginalizados. Os jovens, em sua grande maioria, tem como exigência marcante o trabalho, elemento predominante que influencia a sua vida. Esta sua característica também abre espaço para que dentro dela possa existir jovens que mesmo não vivendo uma situação econômica difícil, possam comprometer-se com a situação dos jovens que não têm acesso a educação, ao trabalho, ao lazer, a vida digna.
Estando no meio popular, lugar de vida e/o atuação da juventude oprimida e excluída, volta-se diretamente para as camadas mais sofridas da juventude. São jovens que vivem em condições precárias de saúde e habitação, sem acesso à educação digna e, por isso, atuam nos movimentos populares (meninos e meninas de rua, negro, sem-terra, sem-teto, associações de bairros, de mulheres, de educação popular), nos partidos comprometidos com a causa popular, nos sindicatos de trabalhadores, no teatro popular, nos grupos de cultura e dança, além das pastorais sociais (PO, CPT, etc.).
A PJMP tem como objetivo geral vivenciar e testemunhar a proposta do Reino de Deus estando presentes na vida, na luta e nos sonhos dos jovens empobrecidos, visando evangelizar, numa prática libertadora, e contribuir para a transformação da pessoa humana e da sociedade.
Algumas propostas desta pastoral são: 1) Possibilitar a relação, reconhecimento e intercâmbio de todas as experiências pastorais que procuram servir; 2) Acompanhar os processos de crescimento humano e cristão dos jovens deste meio; 3) Motivar os jovens empobrecidos-excluídos a serem construtores de uma sociedade mais justa e fraterna onde possam descobrir sua própria dignidade e viver o verdadeiro sentido humano do trabalho; 4) Descobrir os valores da cultura trabalhadora e participar, com sentido crítico, em seus movimentos e organizações, colaborando para que estejam livres de manipulação política e possam servir às necessidades dos próprios trabalhadores; 5) Desenvolver a consciência crítica, perante a realidade injusta e desigual, ajudando os jovens oprimidos a buscarem formas concretas de solidariedade entre si; 6) Levar os jovens a se perceberem como uma força importante do Povo de Deus pela libertação.

4.6 Pastoral da Juventude Estudantil
A Pastoral da Juventude Estudantil (PJE) tem como campo prioritário de militância o mundo estudantil, a educação e a escola. Têm como base os núcleos de estudantes cristãos que atuam como fermento na massa estudantil.
Apresentam-se, como desafios, para esta Pastoral: a) ser presença transformadora e cristã dentro da instituição que mais congrega jovens; b) manter um diagnóstico atualizado sobre a realidade dos sistemas educativos e do meio estudantil e estar atentos à aparição de novos sujeitos sociais e à revalorização de novas dimensões da vida dos estudantes; c) gerar espaços onde os estudantes possam discutir mais sistematicamente sobre os princípios e as práticas do sistema educativo, a partir de suas experiências cotidianas de participação na vida estudantil; d)ajudar os jovens a descobrirem e desenvolverem sua identidade pessoal e social e a serem capazes de ir forjando seus próprios projetos de vida e suas opções vocacionais a partir de sua realidade estudantil; e) impulsionar processos educativos da fé que permitam os jovens estudantes irem assumindo um estilo de militância no qual se conjuguem fé e vida e se faça real o serviço aos mais pobres, a partir da perspectiva de sua realidade estudantil; f) trabalhar para colocar o projeto de educação a serviço das classes populares e não das elites dominantes; g) Democratizar as várias instâncias dentro da escola; h) garantir o acesso de todos a um ensino de qualidade; i) trabalhar os problemas imediatos do próprio meio; j) marcar o projeto educacional com os valores de uma evangelização libertadora.
O objetivo geral desta Pastoral é acompanhar os jovens estudantes num processo de formação humano-cristã que lhes permita perceber e viver o comunitário em íntima relação com Cristo, seus irmãos e o mundo e os anime a descobrirem seus valores e a serem agentes transformadores no meio estudantil para que construam comunidades evangelizadoras da nova sociedade.
Os campos de ação da PJE são: a) a escola. Na escola costumam coexistir, ao mesmo tempo, duas formas de ação pastoral que é importante distinguir: a “pastoral do aluno”, que realiza a escola e tem como agente a própria comunidade educativa, da qual o aluno forma parte; e a “Pastoral da Juventude Estudantil”, que tem um marco teórico próprio, e cujos agentes são os próprios jovens, assessorados pelos adultos. Uma autêntica pastoral do aluno deverá levar a uma Pastoral da Juventude Estudantil, e vice-versa.
b) o bairro. Todo jovem tem, geralmente, seu grupo natural de amigos de bairro com o qual costuma reunir-se para conversar, sair, divertir-se e tratar de seus assuntos de jovens. Embora estes grupos nem sempre ajam de modo construtivo, devem ser levados em conta pela influência que exercem na formação do jovem estudante. Alguns militantes desenvolvem tarefas transformadoras nos bairros populares, vinculando assim a escola e o projeto popular. Muitas vezes é possível chegar a eles através de ações que os próprios jovens militantes levam em frente.
c) as organizações estudantis. São agrupações que procuram reunir os estudantes em redor de atividades culturais, recreativas ou sociais, com as quais procuram promovê-los e brindar-lhes novos âmbitos e possibilidades para completar a ação educativa. aparecem como a expressão organizada do corpo estudantil.
d) a política estudantil. O jovem estudante não pode ignorar a existência dos grêmios estudantis e do movimento estudantil. É importante participar neles para evitar manipulações de outros setores interessados e assegurar que efetivamente sejam instrumentos a serviço das necessidades e interesses do meio estudantil.
Algumas propostas da PJE são: 1) Promover a Pastoral da Juventude Estudantil onde não existe e fortalecer qualitativa e quantitativamente as já existentes, formando novos núcleos, promovendo o intercâmbio entre os já existentes, a formação integral de seus membros e capacitando assessores para que possam dar um acompanhamento adequado aos núcleos; 2) Organizar estruturas de acompanhamento e coordenação, que garantam espaços de avaliação, planejamento e aprofundamento e ofereçam serviços de cursos, seminários, retiros, subsídios, livros... para a formação dos jovens; 3) Formar a consciência crítica dos jovens, de maneira que questionem constantemente a realidade estudantil e social e seu próprio trabalho, à luz do Evangelho, descubram os sinais de vida e de morte que há neles e colaborem assim na construção da nova sociedade; 4) Impulsionar a participação ativa dos jovens nas organizações estudantis, capacitando-os adequadamente no conhecimento da realidade e nas linhas principais das discussões sobre a problemática estudantil; 5) Formar assessores, de preferência educadores e leigos, que animem e acompanhem os jovens em seu processo de formação na fé e em sua ação cada vez mais comprometida no meio estudantil.

PJE - Nossa história
A semente da Juventude Estudantil Católica (JEC) apesar de ter sido extinta em 1968, não morrerá. A rearticulação dos universitários cristãos refletiu no campo dos estudantes secundaristas. Por estímulo de um universitário, um grupo de estudantes de Goiânia tomou o protagonismo de uma articulação a nível nacional.
Assim, de 8 a 11 de julho de 1982, nessa mesma cidade, aconteceu a 1ª Reunião Nacional, com 14 estudantes de lugares e experiências muito diferentes. Na pauta constou, fundamentalmente, uma troca de informações sobre a “Pastoral Secundarista” que viviam. Recordou-se um pouco da história da JEC, cuja experiência está muito presente nos grandes encontros da PJE. Aliás, foi no 3º Encontro Nacional (9 a 11 de julho de 1984), após o esclarecimento de alguns termos como “Pastoral da Juventude”, “Pastoral Educativa”, “Pastoral da Juventude Específica”, etc, onde se viu que melhor que “Pastoral Secundarista”, a articulação que se iniciava deveria chamar-se “Pastoral da Juventude Estudantil”.
Desde o começo, a PJE se preocupou com a inserção no Movimento Estudantil e teve atenção especial com a Revisão de Vida e Revisão de Prática.
Importante também nossa articulação com o Secretariado Latino-americano do MIEC-JECI (Movimento Internacional de Estudantes Católicos - Juventude Estudantil Católica Internacional).
De lá para cá realizaram-se várias Assembléias Nacionais (antes chamadas Encontros Nacionais), Seminários Nacionais de Militantes e Assessores... dos quais saíram deliberações como: elaboração dos Cadernos da PJE, formação de uma Coordenação Nacional da PJE e Comissão Nacional de Assessores da PJE, etc.
Comemorando dez anos de PJE (1992), elaborou-se um subsídio (“Luta e Gana”)que aborda sinteticamente os temas e as deliberações dos Encontros Nacionais, bem como dos Seminários realizados até aquele ano.
Na 7ª ANPJE(1991) encaminhou-se a revisão dos Cadernos da PJE e na 8ª ANPJE, após dois anos de encontros e discussões, aprovou-se o Marco Referencial da PJE, onde sua identidade está espelhada.
Em 1997, a PJE completa 15 anos. Essa adolescente amadurece em meio às lutas por uma Educação Libertadora. Neste ano, realizou-se a 9ª ANPJE onde, além de celebrar esses 15 anos, pela primeira vez elaborou-se o Plano de Ação da PJE.

A ORGANIZAÇÃO DA PJE
A PJE, ao longo de sua caminhada histórica, montou uma estrutura organizativa. É na prática organizativa bem levada que os estudantes vão sentindo os desafios aos quais não pode fugir porque a organização é deles. Nela , os estudante experimenta o seu protagonismo.
A base da organização da PJE é o grupo ou núcleo. No momento que ele se torna grupo, ele é cadastrado e toda região chega a saber da sua existência. A articulação, portanto, começa a nível de cidade ou município, depois de uma pequena região, diocese, regional, bloco e nacional.
Em todos esses fatores de unidade, existe uma coordenação de estudantes, acompanhada de um assessor(a). Assim existem Assembléias e Seminários Regionais ou de Bloco onde o protagonismo juvenil é exigência pedagógica.
A nível nacional, existe uma Coordenação Nacional (CNPJE) formada por dois militantes de cada bloco e uma Comissão Nacional de Assessores (CNAPJE) formada por dois assessores de cada bloco. Essas duas instâncias são indicadas pelos blocos e aclamadas nas assembléias Nacionais (realizadas de dois em dois anos).
Existe também a Secretaria Nacional: órgão executivo da PJE, constituída por um(a) Jovem não necessariamente militante. E a Assessoria Nacional em que o Assessor é membro nato da CNAPJE.
Além disso, a PJE assume e participa da CNPJB e CNAPJB somando forças às outras PJ’s na elaboração e execução de eventos organizados pela PJE.


COMO SE ORGANIZA A PJ DO BRASIL?


A organização nacional da PJ do Brasil é uma decorrência do fortalecimento da caminhada. Esta organização, a partir da 11ª Assembléia Nacional, em 1995, passou-se a denominar Pastoral da Juventude do Brasil (PJB). Falamos, aqui, da Pastoral da Juventude(PJ), da Pastoral da Juventude Estudantil(PJE), da Pastoral da Juventude do Meio Popular(PJMP), da Pastoral da Juventude Rural(PJR).

































A) O SETOR JUVENTUDE DA CNBB

O Setor Juventude da CNBB, é formado pelo Bispo Responsável na Comissão Episcopal de Pastoral (CEP) e o Assessor Nacional do Setor Juventude e da PJ do Brasil, tem a função de:

- animar todo o conjunto de Pastoral da Juventude do Brasil
- desenvolver o diálogo e parceria com as Congregações Religiosas e Movimentos Juvenis, através da organização de encontros específicos.
- aprofundar o diálogo com as Instituições Católicas que trabalham a recuperação de dependentes químicos (drogados), organizando os encontros específicos.
- aprofundar o dialogo com Assessores e Coordenadores diocesanos, organizando os encontros específicos.
- diálogo e parceria com instituições e organizações juvenis da sociedade.

B) A ASSEMBLÉIA NACIONAL DA PJ DO BRASIL
A Assembléia Nacional da PJ do Brasil é o principal evento, de caráter deliberativo, das Pastorais da Juventude. Nela se aprofunda a proposta, tomam-se opções pedagógicas e metodológicas para o trabalho, elaboram-se os planos nacionais e nascem os projetos que se levarão em frente no país, para a evangelização dos jovens. Define prioridades, diretrizes e ações comuns para as Pastorais da Juventude.
A Assembléia Nacional da PJ do Brasil realiza-se a cada três anos. A representação, dentro dela, é paritária, isto é, as vagas são distribuídas igualmente para todas as Pastorais da Juventude.

c) Comissão Nacional da PJ do Brasil (CNPJB)
A Comissão Nacional da PJ do Brasil é composta por cinco jovens de cada uma das Pastorais da Juventude, o Secretário(a) Nacional da PJ do Brasil, o Assessor do Setor Juventude da CNBB e o Bispo responsável pelo Setor Juventude.
São funções desta Comissão: 1) Encaminhar as decisões das Assembléias Nacionais da PJ do Brasil; 2) Integrar o Conselho Editorial do Jornal “Juventude”; 3) Ser elo de ligação entre as diferentes Pastorais da Juventude; 4) Encaminhar e agilizar a comunicação, o repasse de materiais e as informações nas Pastorais da Juventude; 5) Avaliar, animar, refletir e contribuir na organização da caminhada das Pastorais da Juventude, apontando novos rumos; 6) Partilhar as experiências, repassando-as para as Pastorais da Juventude, para que sejam aprofundadas; 7) Garantir harmonia, agilidade e unidade entre as Pastorais da Juventude; 7) Coordenar a caminhada da PJ do Brasil, respeitando a identidade e mantendo o protagonismo de cada uma das Pastorais da Juventude.
D) Secretaria Nacional da PJ do Brasil
O secretário(a) nacional, eleito(a) pelas Pastorais da Juventude é reconhecido(a) pela CNBB, e tem como funções: 1) Acompanhar as Pastorais da Juventude e participar nos eventos nacionais e latino-americanos da PJ orgânica; 2) Garantir a articulação das Pastorais da Juventude; 3) Encaminhar textos, garantir o envio de cartas, documentos e relatórios; 4) Manter o arquivo da PJ do Brasil organizado e atualizado; 5) Encaminhar a infra-estrutura das reuniões da Comissão Nacional da PJ do Brasil; 6) Administrar os bens e os recursos financeiros da secretaria, prestando contas à Comissão Nacional da PJB; 7) Integrar a equipe responsável pelo Jornal “JUVENTUDE”.

E) A Comissão Nacional de Assessores da PJ do Brasil (CNAPJB)
Além da Comissão Nacional da PJ do Brasil, existe a Comissão Nacional de Assessores da PJ do Brasil. É composta pelo Bispo responsável pelo Setor Juventude da CNBB, pelo assessor do Setor Juventude e da PJB e por um assessor(a) de cada uma das Pastorais da Juventude
São funções desta Comissão: 1) Assumir uma assessoria colegiada, junto com o Assessor Nacional do Setor Juventude da CNBB, animando a caminhada da PJ do Brasil; 2) Integrar o Conselho Editorial do Jornal “JUVENTUDE”; 3) Organizar Retiros e Seminários Nacionais da PJ do Brasil; 4) Favorecer a formação e a articulação de assessores para o acompanhamento da caminhada da PJ do Brasil; 5) Analisar e aprofundar tudo que se relaciona com o ministério da assessoria; 6) Elaborar, junto com a Comissão Nacional da PJ do Brasil, textos e subsídios que auxiliem na sistematização das grandes questões da caminhada; 7) Refletir e aprofundar questões de fronteira em relação à juventude.

F) O Assessor Nacional da PJ do Brasil
É função do Assessor Nacional da PJ do Brasil: 1) Marcar presença nas atividades nacionais e reuniões das Pastorais da Juventude, com a missão de animar e estimular a caminhada de todas estas Pastorais; 2) Fazer o elo de ligação entre as Pastorais da Juventude; 3) Estabelecer diálogo com as Congregações Religiosas que trabalham com grupos de jovens e os movimentos juvenis; 4) Integrar a equipe responsável pelo Jornal “JUVENTUDE” ; 5) Participar de todas as atividades próprias dos assessores da CNBB nacional; 6) Participar de todas as atividades específicas da PJB.
Existem, ainda, algumas orientações sobre o Assessor Nacional da PJ do Brasil que merecem ser recordadas. São elas: 1) o Assessor Nacional deve ser do quadro da PJ do Brasil; 2) a escolha dos nomes para a lista tríplice, a ser enviada para a CNBB, deve ser feita através de uma discussão nos Regionais e nas instâncias das diferentes Pastorais da Juventude, para que os jovens possam conhecer os indicados para tal função; 3) o sustento do Assessor Nacional da PJ do Brasil fica sob a responsabilidade da CNBB; 4) a assessoria à PJ do Brasil é trabalhada também de forma colegiada com a Comissão Nacional de Assessores da PJ do Brasil.

G) A nível latino-americano
A PJ Orgânica tem, igualmente, uma boa caminhada a nível de América Latina. Acontecem os Encontros de Responsáveis da PJ Orgânica latino-americana. São encontros de delegados. Quem participa é o Bispo responsável pelo Setor Juventude da CNBB, o Assessor Nacional da PJ do Brasil e dois delegados jovens da CNPJB; Um destes delegados é o(a)secretário(a )nacional da PJB; o outro delegado é escolhido pela Comissão Nacional da PJ do Brasil.


6. ASSESSORIA
Outra opção pedagógica da PJ do Brasil é a afirmação do valor e da necessidade da assessoria e do acompanhamento. O jovem, embora protagonista, não caminha sozinho. Ele caminha junto com o assessor quando o assessor sabe assumir a sua identidade. Por isso é importante que falemos da assessoria e do acompanhamento.

6.1 A assessoria
A palavra “assessor” vem do latim “sedere ad”, que significa “sentar-se junto a”. Dá a idéia de motivar, acompanhar, orientar e integrar a contribuição e a participação dos jovens na Igreja e na sociedade e propiciar a acolhida desta ação juvenil na comunidade.
O assessor da Pastoral da Juventude, em geral, é uma pessoa cristã madura, chamada por Deus para exercer o ministério de acompanhar, em nome da Igreja, os processos de educação na fé dos jovens, disposta a servir os jovens com sua experiência e conhecimento desejoso de compartilhar com eles sua descoberta de Cristo e vivência do Evangelho no seu seguimento.
A assessoria como ministério de serviço aos jovens só pode ser exercida por quem fez uma opção pessoal, recebeu o envio por parte da Igreja e conta com a aceitação dos próprios jovens. Não é um ministério exclusivo do sacerdote ou do religioso. Em todos os níveis e experiências das Pastorais da Juventude, cresce cada dia mais o reconhecimento de que é, também, e fundamentalmente, um ministério do leigo.
Cabe ao assessor despertar lideranças; proporcionar apoio necessário para que os jovens possam desenvolver um processo grupal de formação integral na fé, promovendo e respeitando seu protagonismo; ser pólo desafiador e de confronto, evitando paternalismo e autoritarismo e auxiliar os jovens nos momentos de desânimo e conflitos. Para isto necessita ter amplo conhecimento da juventude e de sua realidade, em todos os níveis e aspectos e saber mais escutar do que falar

a) Identidade bíblica, teológica e pastoral da assessoria
Quando falamos de “ministério”, falamos de vocação. O assessor é, antes de tudo, um vocacionado, isto é, uma pessoa chamada por Deus para cumprir uma missão na Igreja. Não é um título, nem um cargo, nem uma função, mas um serviço. Como também, não é um chamado para si mesmo, mas para ser um serviço aos demais.
O assessor é chamado a ser pastor, profeta e sacerdote no meio dos jovens. O modelo inspirador é João Batista que anunciou a vinda de alguém muito mais importante que ele. “É importante que Ele cresça e eu diminua” (Jo 3,30). O assessor é capaz de dar lugar ao jovem, para que ele cresça no seu protagonismo.
O assessor é uma pessoa de Deus: uma pessoa de oração e testemunho, que fala a partir da profundidade e da experiência de sua vida e não a partir da teoria e das coisas aprendidas. Vai crescendo, vivendo e amadurecendo com os jovens e fazendo-se assessor a partir do processo do próprio grupo.
É uma pessoa que conhece, ama e serve à Igreja. Faz comunidade com os jovens e os ajuda a que sintam a Igreja como uma comunidade. Preocupa-se por conhecer e seguir as linhas pastorais e as orientações da Igreja local em que está trabalhando, da Pastoral da Juventude da sua comunidade, regional, nacional e latino-americana.
É uma pessoa enviada a todos os jovens; A olhar não só os jovens em seu conjunto, mas na diversidade de situações em que vivem, seja pelas atividades que realizam, seja por suas culturas próprias, seja pelas situações que condicionam suas vidas.

b) Identidade espiritual da assessoria
O assessor é uma pessoa de fé, manifestada na vivência de uma espiritualidade. Para o cristão, a espiritualidade é a relação pessoal com o Pai, com Jesus Cristo e com o Espírito Santo, a partir da vivência do Evangelho e a partir da confrontação com a realidade.
O assessor da PJB concretiza sua espiritualidade na opção pelos jovens. Esta opção é uma resposta ao Deus Pai que fixou seu olhar na juventude e pede ao assessor que se entregue a eles; é reconhecer o amor de Deus por esses jovens, é participar do amor com que Deus ama os jovens e ter a experiência do encontro com Jesus no meio deles, por obra do Espírito Santo.
O assessor é uma pessoa que já clareou seu projeto de vida cristã, passou por um processo de discernimento vocacional e luta por ser fiel ao chamado que Deus lhe fez. É coerente com sua opção, procura integrar sua fé e sua vida ao ministério que a comunidade e a realidade lhe confiaram: por isso sua espiritualidade está encarnada na vida e na proposta de Jesus, na vida dos jovens, nas circunstâncias e acontecimentos sociais que vai enfrentando. O assessor sente, por isso, a necessidade de celebrar, partilhar, vivenciar a sua fé e seu trabalho junto com o jovem.

c) Identidade pedagógica da assessoria
O assessor é um educador que age de acordo com a própria pedagogia de Deus e tem como modelo a Jesus Cristo. Como Ele, tem uma proposta clara e concreta para os jovens, mas não a impõe, e sim a propõe. Como Deus com seu povo, o assessor faz aliança com o jovem, escuta seu clamor, caminha com ele, dá-lhes sua vida e deixa que vá fazendo seu caminho com liberdade.
Educa acompanhando os jovens na busca e na definição de seu estilo de vida, colaborando principalmente com o testemunho de sua própria vida. É um educador a partir da vida e para a vida; tem uma teoria e uma prática novas. Acompanha os processos pessoais e grupais integrando ação e reflexão, convivência e oração, tudo numa proposta de mudança. Promove um trabalho planejado e integrado na pastoral de conjunto e nas demais instâncias de coordenação, em todos os níveis. Dá um sentido novo ao grupo e às pessoas, promove o protagonismo através da metodologia do ver-julgar- agir- revisar e celebrar; desenvolve uma pedagogia experimental participativa e transformadora.
Reconhece o protagonismo dos jovens mas expressa, por sua vez, a consciência de que necessitam vínculos estreitos e eficazes com as comunidades cristãs e em geral com o mundo adulto, que condiciona os jovens e ao qual, por sua vez, são chamados para oferecer sua contribuição vital e criativa.


d) Identidade social da assessoria
O assessor é uma pessoa encarnada na realidade social e com um profundo sentido de pertença a esta realidade. conhece e assume as esperanças e a dor de sua gente e de seu povo. Sente empatia com a realidade, especialmente com a do jovem. Procura identificar-se com a situação concreta dos que acompanha. Chora com os que choram, ri com os que riem e sofre com os que sofrem; é uma pessoa profundamente misericordiosa.
É um ator social. Não fica passivo ante a realidade mas se sente chamado a transformá-la, denunciando os sinais de morte e anunciando os sinais de vida, fazendo opção pelos mais pobres e marginalizados.
É uma pessoa aberta e que respeita a pluralidade de critérios e ideologias. É protagonista na transformação de seu ambiente, o que exige que esteja de fato identificado com a realidade específica que lhe toca acompanhar.
É uma pessoa profundamente convencida da força dos jovens para a transformação da sociedade e para a construção do Reino.

7. OUTROS RECURSOS PEDAGÓGICOS
Há, além disso, outros recursos pedagógicos que a PJ do Brasil procura fomentar em todos os níveis. Referimo-nos, de modo especial, às atividades massivas junto com os jovens, ao planejamento e à avaliação.

7.1 Atividades de Massa
Ao lado do processo intensivo de formação nos pequenos grupos, a PJ do Brasil desenvolve uma Pastoral extensiva e missionária, visando atingir o conjunto da juventude, para lançar sementes, despertar e sensibilizar os jovens para a proposta de Jesus, através do testemunho alegre e atraente à vida dos jovens e coerente com a mensagem de Jesus Cristo.
Não existe mobilização sem massa, como não existe massa ativa sem o fermento que a faz levedar. O trabalho de massa só existe se houver trabalho de base que o provoca e para o qual se destina. Por isso as coordenações, nos vários níveis, e os jovens engajados nos grupos, com o apoio de seus assessores e da comunidade, buscam viver um testemunho alegre de sua adesão a Jesus Cristo, como primeira forma de sensibilizar outros jovens ao seu seguimento.
A PJ do Brasil promove, permanentemente, atividades dirigidas a todos os jovens com o objetivo de anunciar a proposta cristã. É uma forma de sensibilização e de convocação aos jovens a fim de experimentarem o caminho comunitário de iniciação à educação da fé. O resgate da cultura própria, o respeito aos elementos próprios do mundo dos jovens e às particularidades de cada local e meio, a atenção à linguagem e formas próprias de comunicação de massa, são elementos fundamentais para o êxito deste anúncio.
A Pastoral de Massa, na PJ do Brasil, acontece especialmente através da Semana da Cidadania e do Dia Nacional da Juventude (DNJ) quando se organizam concentrações, caminhadas, semanas da juventude, festivais, maratonas, encontrões e debates, sempre tendo em conta os diversos elementos como o esporte, a música, a festa, o teatro, a celebração. Com estas atividades, a cada ano, as Pastorais da Juventude levam para as ruas e praças milhares de jovens, para falarem a respeito da vida, cantar seus sonhos, celebrar sua fé, dizer a todos quais seus ideais, suas lutas e expressar a vontade de construir uma sociedade onde todos tenham voz e vez.
Pretende, o DNJ, intensificar a mobilização do potencial de massa jovem para ir além do trabalho de pequenos grupos, num espírito missionário, e atingir a multidão dos jovens alheios ao projeto do Reino. É o termômetro da força de penetração de uma Pastoral que procura, realmente, atingir a base. Muitos jovens passam a conhecer a PJ orgânica e se interessam em fazer parte dos grupos de iniciantes. Com isto, em muitas dioceses, a PJ toma um novo ânimo. Muitos grupos e movimentos que não participam ou estavam afastados da PJ se mobilizam e voltam a ter nova atuação.
Esta mobilização de massa tem, também, a finalidade de afirmar publicamente a identidade e a importância do setor jovem do Povo de Deus. Assim, na medida em que os jovens se mobilizam, torna-se difícil tratar a juventude como grupo sem importância dentro da Igreja e na sociedade.

7.2 Planejamento
Planejar é organizar cientificamente a ação da Instituição, do Setor, do Serviço ou do Grupo. É implantar um processo de intervenção na realidade. É pensar antes qual o melhor caminho para chegar ao objetivo.
Tendo presente que a estrutura atual da nossa sociedade se apresenta como uma estrutura de pecado, de injustiça e de morte, é importante e se faz necessário que, através de um planejamento participativo e assumido por todos os participantes do grupo, setores ou serviços, possamos interferir nesta estrutura e mudá-la em estrutura de graça, de justiça e de vida.
Todo o planejamento deve partir da realidade dos jovens e dos ambientes nos quais vivem (ver); deve iluminar esta realidade com as luzes da fé e com a mensagem do Evangelho (julgar); para decidir, logo, as atividades que se desenvolverão para mudá-la (agir); avaliar com toda objetividade o que se conseguiu realizar e o que ficou a desejar (revisar); e, por fim, saber encontrar formas de, diante da fé, alegrar-se e agradecer o que se realizou (celebrar).
Este processo coletivo, de participação ampla e a partir da base, permite uma percepção mais próxima da realidade, um aprofundamento mais sério do juízo sobre ela e uma busca mais ordenada dos critérios de ação para transformá-la. Muda a mentalidade das pessoas que participam e favorece a formação de consenso sobre os modos de desenvolver a tarefa pastoral. Normalmente o processo é muito mais importante que as próprias decisões que se tomam.
O planejamento facilita a distribuição de responsabilidades e a participação mais ativa dos jovens. Evita a acumulação de atividades, num mesmo tempo e canaliza, de modo mais racional as energias de todos os agentes pastorais. Todo grupo, equipe, conselho, comissão ou coordenação no nível que lhe corresponda, deve planejar sua ação pastoral e buscar os recursos para levá-la em frente. Este é o “caminho prático para realizar concretamente as opções pastorais fundamentais na evangelização” (P.1306). Como processo educativo, gradual e global, o planejamento converte-se num processo de conversão do individualismo ao comunitário e de separação de fé e vida à vivência autêntica dos valores do Evangelho.

7.3 Acompanhamento
Uma das grandes dificuldades da Pastoral da Juventude do Brasil é a falta de continuidade. Ela é fundamental. Sem continuidade não há credibilidade. O acompanhamento sistemático vai garantir esta continuidade. Neste sentido o assessor adulto e o coordenador jovem tem papel fundamental. Há necessidade de trabalhar em duas frentes ao mesmo tempo: com iniciantes e com militantes. O respeito pelas etapas de educação na fé é uma garantia que o processo de formação seja gradual e progressivo. É importante não queimar etapas com os iniciantes e sobretudo com os adolescentes.
Por outro lado há o perigo de descuidar do acompanhamento dos militantes. Em muitas ocasiões o jovem militante fica abandonado pela Igreja; a maior dificuldade é em delegar responsabilidades e reconhecer o protagonismo do jovem. A Igreja precisa enfrentar o desafio de apresentar o Evangelho também para o jovem crítico, pois, do contrário, perderá os elementos mais dinâmicos, que terão um papel importante na transformação da história, que avança com ou sem a participação da Igreja.
O jovem militante que passa para a militância sócio - política, necessita de um acompanhamento especializado para aprofundar questões mais avançadas provocadas por sua praxes social. É necessário uma teoria política, psicológica e teológica que ilumine e dê respaldo a uma ação transformadora no coração da sociedade. A falta deste acompanhamento especializado pode causar como conseqüência uma ruptura no processo de evangelização.
O jovem militante tem que encontrar, na Igreja, um espaço para sentir-se entre iguais, onde pode refletir sua nova prática com outros que tem o mesmo nível de consciência e compromisso. Necessita-se uma estrutura de acompanhamento através de grupos de militantes, coordenações próprias, cursos, subsídios e apoio do método da revisão de vida. Uma estrutura deste tipo poderá dar continuidade ao projeto de evangelização começado na etapa da Iniciação e oferecer ao jovem os apoios de formação que continua necessitando.
A PJB começou trabalho específico com militantes de política aprtidária, com encontros nacionais e a criação da Rede de Militantes da PJB.

7.4 Avaliação
Não basta planejar. É necessário avaliar, pois a avaliação é um dos instrumentos pedagógicos mais valiosos para a organização. Por ela vão se ajustando, cada vez melhor, os passos que se vão dando e se vai aperfeiçoando a ação. Sem avaliação, continuam se repetindo os mesmos erros, não se valorizam as conquistas, nem se aprendem dos fracassos, a ação deixa de ser transformadora, não estimula novas ações, o processo começa a estancar-se e a organização pode chegar a morrer.
A avaliação permite descobrir o que se fez bem, o que se deve mudar, melhorar, e projetar. É uma atitude permanente de revisão das motivações, dos processos, dos resultados alcançados, dos objetivos, da distribuição de funções... A avaliação também deve partir das observações dos fatos acontecidos, com suas causas e conseqüências (ver); seguir com um juízo a partir de critérios e valores cristãos (julgar); para impulsionar novas pistas de ação (agir). Nesta revisão descobre-se a presença de Deus agindo na história, chamando à conversão e motivando novos compromissos (celebrar).
A avaliação não é eficaz quando só se enumeram as dificuldades, sem buscar seriamente as causas que as produziram e ser trazer as soluções que se requerem. Uma boa avaliação leva a descobrir os verdadeiros problemas e a buscar as soluções adequadas.

8. ESTRUTURAS DE APOIO

Dentro do “Marco Operativo” um capítulo importante que a PJ do Brasil conquistou e no qual acredita são as estruturas de apoio. Há muitas e falamos disso, já, no capítulo do “Marco Histórico”. Queremos voltar a isso porque a PJ do Brasil está convencida que sem estruturas de apoio se caminha nada ou muito pouco. São um capítulo de uma pedagogia de uma Pastoral. Pode-se dizer, de certa forma, que todo o capítulo da assessoria e do acompanhamento poderia ser vista, igualmente, como uma estrutura de apoio. A secretaria nacional, a assessoria nacional, junto com a comissão nacional de assessores, tudo isso constitui parte da estrutura de apoio da PJ do Brasil. Mais significativo, contudo, é colocar a assessoria como uma opção pedagógica.
Na questão das estruturas de apoio estamos pensando nos Centros e Institutos de Pastoral da Juventude, na produção de material didático e pedagógico para os grupos e a Pastoral em geral e nas escolas de juventude que estão aparecendo em muitas partes.

8.1 Centro e Institutos de Pastoral da Juventude
Como apoio à PJ do Brasil, tanto na formação quanto na organização, existem os Institutos e as Casas da Juventude em diversas regiões do país. São um serviço prestado à juventude, geralmente por Congregações Religiosas. Formam assessores e jovens, trabalham na pesquisa, na formação, assessoria, na elaboração e divulgação de subsídios.
O papel destes Centros e Institutos é muito importante e bastante definido. Podemos dizer, em poucas palavras que eles existem para:
* Ser uma presença junto ao serviço da evangelização da juventude, especialmente da Pastoral da Juventude do Brasil, escutando as angústias do jovem e desta pastoral, indicar saídas, oferecer cursos, subsídios, sem substituir aquilo que é do protagonismo juvenil, nem interferir na sua organização;
* Fomentar a participação dos adolescente para renovar os quadros da PJB;
* Colaborar na formação de assessores dentro das novas perspectivas e exigências da juventude;
* Provocar reuniões e encontros com assessores de novas frentes e realidades juvenis;
* Elaborar subsídios, constituindo-se numa espécie de “laboratório” na linha de formação de jovens, partindo deles, sempre tendo em vista a multiplicação, a fim de fundamentar a caminhada da PJ orgânica, integrando, nesta caminhada, teoria e prática;
* Estar à serviço da juventude, assumindo uma linha de evangelização libertadora a partir da ótica do jovem empobrecido, formando equipe de vida e missão.
Os Centros e Institutos estão organizados no Brasil e na América Latina.

8.2 Jornais, Informativos e Subsídios
“O sinal dos tempos, hoje, é que vivemos um tempo de sinais”. Esta afirmação contém uma grande verdade, da qual poucos se dão conta. E, talvez, seja por isso que muitos grupos, tanto de religiosos como de leigos, não conseguem ser eficientes. Eles não se deram conta de que a “alma do negócio” está na comunicação.
A PJ do Brasil, dando-se conta desta realidade, reconhecendo a força tremenda dos MCS, utiliza-se de jornais, folhetos, informativos, subsídios em forma de cadernos, fitas K7 e fitas de vídeo, programas de rádio e TV, como forma de divulgar sua proposta. Ainda é pouco, mas a variedade é enorme. O significativo é que este material é elaborado, na sua maioria, em mutirão, desde o grupo de base até as Instâncias Nacionais.
Aqui cabe um destaque especial para o jornal “JUVENTUDE” - o companheiro dos grupos de base - um jornal mensal, que veicula formação e informação. Surgiu da necessidade de se fazer chegar às bases de maneira rápida e eficiente as notícias mais amplas e importantes das Pastorais da Juventude; bem como para superar o isolamento, falta de identidade e comunicação entre os grupos.
O informativo do Setor Juventude - FACE A FACE - que chega gratuitamente a todas as paróquias do Brasil tem uma função importante, de criar um sentido de pertença e de comunicação direta com os grupos e com todos os responsáveis pelo acompanhamento aos grupos de jovens deste país.

9. O MÉTODO VER JULGAR AGIR
A PJ do Brasil tem seguido, igualmente, outra opção metodológica. Entre os diferentes métodos (Formação Experiencial, Catequético, Planejamento Pastoral), houve uma opção clara pelo método da Ação Católica conhecido como “Ver-Julgar-Agir”, acrescido, com o tempo pelo “Revisar” e “Celebrar”. A metodologia indutiva parte da realidade, da vida, da prática concreta, para depois confrontar suas conclusões com a teoria, a doutrina. Esta metodologia obriga a teoria adaptar-se à realidade dos fatos. Este é o modelo de metodologia utilizado, preferencialmente, pela Pastoral da Juventude do Brasil. É, também, a metodologia utilizada pela CNBB para o planejamento pastoral e por muitas Pastorais.

9.1 Os momentos do método
Queremos recordar, unicamente, o fundamental deste método, passando pelo sentido dos diversos “momentos”.
a) VER
É o momento de tomada de consciência da realidade. É partir de fatos concretos da vida cotidiana, para não cair em suposições nem abstrações e buscar suas causas, os conflitos presentes que geram e as conseqüências que se podem prever para o futuro. Esta olhada permite uma visão mais ampla, profunda e global que motivará, mais adiante, a realizar ações transformadoras orientadas para atacarem as raízes dos problemas.
Sem pretender ser exaustivo, pode ser útil, às vezes, utilizar alguns dos instrumentos do conhecimento da realidade que as Ciências Sociais propõem. Deve-se ter em conta, assim mesmo, que nenhuma visão da realidade é neutra: sempre estão presentes, nela, pressupostos teóricos inspirados em critérios, valores, ideologias.
b) JULGAR
É o momento de analisar os fatos da realidade à luz da fé, da vida e da mensagem de Jesus e de sua Igreja, para descobrir o que está ajudando ou impedindo as pessoas de alcançarem sua libertação, chegarem a viver como irmãos e construírem uma sociedade de acordo com o Projeto de Deus.
É o momento de perguntar-se o que dizem a Palavra de Deus e os Documentos da Igreja e deixar que questionem a situação analisada e os seus pressupostos teóricos que condicionaram a visão do momento anterior. O “julgar” ajuda a tomar consciência do pecado pessoal presente na vida de cada um e do pecado social presente nas estruturas injustas da sociedade.
“Julgar” exige um conhecimento cada vez mais profundo da mensagem cristã, um ambiente de oração, um diálogo profundo com Jesus Cristo presente na vida do cristão e na vida sacramental de Igreja, uma purificação cada vez maior do heroísmo e uma explicitação das razões fundamentais que animam a fé. É um momento privilegiado, pois nele se situa o especificamente cristão dessa proposta metodológica.
c) AGIR
É o momento de concretizar, numa ação transformadora, o que se compreendeu acerca da realidade e o que se descobriu do plano de Deus sobre ela. É o momento da prática nova e do compromisso. O “agir” impede que a reflexão fique no abstrato. Deve-se estar atento para que o que se propõe realizar não seja fruto de intuições momentâneas ou decisões voluntaristas, mas fruto maduro da reflexão realizada.
A ação transformadora é, antes de tudo, uma ação libertadora; Parte das necessidades das pessoas e busca atacar as raízes do problema. Faz com que todos participem. Não fica reduzida somente à esfera do pessoal, mas procura incidir na realidade social. É um processo lento, e exige muita paciência. Ser agente transformador é ser fermento na massa, é fazer da própria vida um testemunho de fé da presença de Jesus Cristo na vida e na história e uma vivência comprometida de seu seguimento.
d) REVISAR
É o momento da avaliação. É tomar consciência do trabalho realizado para melhorar a ação que se realizará amanhã. Já que a realidade é dinâmica, a avaliação enriquece e aperfeiçoa a própria visão da realidade e, ao mesmo tempo, sugere ações novas, mais profundas, críticas e realistas.
Trata-se de verificar o grau de cumprimento dos objetivos e a forma de assumir as responsabilidades, de avaliar o processo, de perguntar-se pelas conseqüências das ações que se estão realizando e de encontrar formas para avaliar os avanços, superar as dificuldades e continuar avançando.
A avaliação valoriza as conquistas alcançadas, permite experimentar alegria pelo caminho andado, faz consciente o crescimento das pessoas e põe em comum as experiências vividas pelos jovens que compartilham o mesmo compromisso. É um momento muito importante da metodologia, muitas vezes esquecido ou deixado de lado. Sem ele não se pode alcançar os frutos esperados. Sem avaliação, a ação deixa de ser transformadora, não se valorizam os avanços nem se aprende dos erros, não se estimulam novas ações, o grupo se detém ou morre.

e) CELEBRAR
A percepção do conjunto de todo o processo, o descobrimento do Deus da Vida na realidade pessoal e social, o encontro com a Palavra e o compromisso pela transformação da realidade, levam espontaneamente à celebração gratuita e agradecida da experiência vivida.
Para o cristão, a fé e a vida estão integrados; Por isso, devem-se celebrar as vitórias, as conquistas e os fracassos, as alegrias e as tristezas, as angústias e as esperanças, a vida do grupo, a penitência e a conversão, a união e a organização. Celebrando a vida concreta, reconhece-se a presença de Deus libertador fazendo história com seu povo.
O celebrar revela e alimenta a dimensão litúrgica e sacramental da realidade, do discernimento da vontade de Deus, e do compromisso transformador. A celebração fortalece a fé e põe o grupo e seus membros em contato direto com o Mistério central do cristianismo: paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo.
9.2 Revisão de Vida (RdV) e Revisão de Prática (RdP)
O método Ver Julgar Agir pode ser entendido como tendo dois momentos: Revisão de Vida (RdV) e Revisão de Prática (RdP)
A Revisão de Vida e a Revisão de Prática levam a um novo estilo de vida, levando os grupos à entre - ajuda e à conversão. É a vivência do método, tanto na vida pessoal como grupal. O método perpassa, assim, a vida dos jovens e dos grupos que as vivem, relacionando reflexão e ação, levando em conta, inclusive a dimensão pessoal da própria vida (afetividade, sexualidade, relação com a família, vida profissional, vida de fé), atingindo os jovens em todas as dimensões de crescimento humano. A avaliação desta dimensão pessoal é assegurada quando o grupo garante a Revisão de Vida, não privilegiando apenas a Revisão da Prática, que se aproxima da avaliação.
A Revisão de Vida pode ser entendido como incluindo a Revisão da Prática. A revisão é da vida toda: não apenas externa, e não apenas interna. É o instrumento de melhor eficácia no sentido da “formação na ação e pela ação”. Pela Revisão de Vida, o jovem age social, política e religiosamente, procurando transformar o ambiente onde atua, julgando sua prática e corrigindo-a.
A vivência deste método, com as dinâmicas que são próprias das duas práticas, através da educação “na ação e pela ação”, oferece aos militantes as condições de se assumirem como sujeitos na transformação da sociedade.
O objetivo último da Revisão de Vida é transformar a história, superar a consciência ingênua das coisas, a fim de chegar a uma consciência crítica e objetiva da realidade para, depois, tomar decisões adequadas, com espírito crítico, reconhecendo a realidade injusta na qual vivemos.
A Revisão de Vida é mais um “espírito” do que um método. É um estilo de vida. Uma maneira de situar-se diante da vida e diante de Deus, na qual a prática é fundamental. Exige uma decisão. Faz-nos, aos poucos, mais sujeitos não só de nossa história pessoal, mas da história da sociedade.
Encarna-se na vida cujo momento radical é a ação. O segundo momento é a reflexão que exige a volta à ação. Supõe e constrói comunidade. Só é possível dentro de uma comunidade de vida, com um processo vivido junto com outros, com os quais vamos descobrindo novos horizontes.




CAPÍTULO 5 - MARCO CELEBRATIVO
“Experimentando e Celebrando o amor de Deus”.


Introdução

O Marco da Realidade nos trouxe muito elementos do mundo juvenil e da sociedade. O Marco Histórico nos revelou o caminho de missão vivido pelos jovens na Igreja. O Marco Doutrinal nos revelou um Deus na História, que é trindade, que ama os jovens através da Igreja e da PJB. O Marco Operativo diz como a PJB realiza e revela o amor evangelizador de Deus. No Marco Celebrativo veremos como a PJB se alimenta para realizar esta bela e desafiadora missão de evangelizar e amar a juventude deste país.
A Pastoral da Juventude do Brasil, tendo consciência de sua missão evangelizadora, cultiva com carinho, uma espiritualidade profética, autêntica e corajosa, inspirada no próprio Cristo, que é nosso modelo maior de vivência na fé. Esta espiritualidade não é desconectada do dia-a-dia do jovem, mas é vivenciada em seu quotidiano.
Assumindo as atitudes de Cristo, o jovem promove e defende a dignidade da pessoa humana. Em virtude do batismo, é filho do único Pai, irmão de todos os homens e contribui para a edificação da Igreja. Sente-se cada vez mais “cidadão universal” , instrumento na construção da comunidade latino-americana e universal. (Puebla - 1.185)
A mística cristã, portanto, nos envolve totalmente, ajudando-nos a renovar as expressões do anúncio. Mística que nos auxilia a sintetizar as coisas do coração e da razão, tornando-nos capazes de entregar a vida pela causa do Reino, a exemplo de Jesus. Mística que nos dá coragem e audácia para exercer nossa missão de profeta e homem e mulher de Deus hoje. Esta espiritualidade missionária, sustenta a eficácia de nossa agir, fortalece nossa fidelidade ao evangelho, marcando a autenticidade e ousadia de nosso testemunho, no meio dos próprios jovens da nossa sociedade.
Esta vivência da espiritualidade perpassa todas as nossas atividades e ações, e é grande motivadora do existir da pastoral. É uma espiritualidade alegre, festiva e celebrativa, assim como o próprio jovem; nos leva, ao mesmo tempo, a ter uma leitura crítica da realidade, dentro de uma perspectiva libertadora, que busca a construção do novo, que é anunciado por Jesus.
A espiritualidade da Pastoral da Juventude do Brasil leva em consideração a diversidade de meios e culturas em que estão inseridos os jovens, e possibilita o encontro pessoal de cada um deles com a pessoa de Jesus Cristo, propondo aprofundar uma espiritualidade ecumênica e aberta ao diálogo inter-religioso (L.G.). Isto nos leva a preocupar-nos constantemente em renovar e avaliar formas de expressar o anúncio do reino, tanto à nível pessoal quanto comunitário, buscando novos métodos e meios, para alimentar esta espiritualidade engajada na luta do povo sofrido.
Nossa espiritualidade é expressa e fundamentada em 4 eixos essenciais: na Palavra de Deus, na celebração dos mistérios de Deus, na vivência do amor e da alegria e no ecumenismo.

1)Palavra de Deus
A palavra de Deus - Bíblia, é o grande sustentáculo da fé do povo cristão; é um meio privilegiado para o encontro dos jovens com Jesus e com o anúncio do Reino. Assim, no tripé que sustenta a espiritualidade da Pastoral da Juventude do Brasil, a palavra de Deus, dentro e fora da liturgia, é o nosso principal embasamento teórico, que justifica nossas ações concretas de luta pela justiça, pela cidadania e pela convivência fraterna entre os povos. Nela se expressa e se realiza a vida segundo o Espírito e se manifesta a presença de Deus.
Pela reflexão do Evangelho, a partir da realidade, e pela própria experiência grupal, o jovem descobre-se como um ser original e em relação com Deus e com a sociedade, discernindo, ao seu redor os valores, anti-valores e problemáticas, bem como as causas estruturais que as geram. Tudo isso o jovem vê e contempla; É altar preparado para celebrar.
Na 11ª Assembléia Nacional a PJB assumiu a Leitura Orante da Bíblia como método de oração a partir da Palavra de Deus e da Vida.

Leitura Orante da Bíblia
Os jovens da Pastoral da Juventude do Brasil, para saborear, rezar e refletir a palavra de Deus assumem o método da leitura orante, pessoal e diária da bíblia, que pode ser sintetizada em 4 momentos:
1 - Leitura do texto bíblico, respondendo à pergunta :
 O que o texto diz?
2 - Meditação - respondendo à pergunta:
 O que o texto me diz?
3 - Oração: respondendo à pergunta:
 O que o texto me faz dizer a Deus?
4 - Contemplação: é o momento do silêncio, é jogar-se nos braços de Deus Pai, onde as palavras não são mais necessárias.

2) Celebração dos mistérios de Deus
“É esta, portanto, a mensagem decisiva que o profeta deve anunciar, fazer voltar às antigas e conhecidas normas da aliança. Neste sentido, todos os profetas são verdadeiros conservadores, representantes do antigo. Pelo modo com que anunciam essa mensagem, não tem, ao contrário, medo do novo e do incomum. Nisso, eles são infinitamente engenhosos. Inventam sempre novas técnicas de pregação. Não se envergonham de dançar diante do povo e de parecerem loucos santos (Norbert Lohfink - Profeta ontem e hoje)”.

Liturgia
A liturgia é o ápice ao qual tende a atividade de toda a Igreja e, ao mesmo tempo, é a fonte donde emana toda sua força. Nela se expressa e se realiza a vida segundo o Espírito e se manifesta a presença viva de Jesus na história, assumindo e transformando a vida das pessoas e as realidades do mundo. A celebração dos sacramentos e, particularmente, a celebração da Eucaristia e da Reconciliação, são sinais eficazes desta ação libertadora de Deus.
A existência quotidiana, com suas alegrias e tristezas, seus problemas e dificuldades, seus temores e esperanças, suas ações simples e compromissos radicais, sinais da presença de Deus na história e na vida das pessoas, são o conteúdo da celebração do jovem. Encontrar-se com Deus, reconhecer sua presença salvadora, responder ao seu chamado e comprometer-se na construção do Reino, é o desejo da celebração juvenil.
Celebrar a vida nesta dimensão significa recuperar o sentido da gratuidade num mundo consumista e competitivo. A verdadeira celebração dignifica e valoriza o trabalho humano num mundo materialista, fazendo a pessoa participar no dinamismo do projeto de Deus e da vida num mundo de dependência, manipulação e morte, tendo sempre presente a dimensão da festa e do novo à rotina de cada dia.
Celebrar a vida relaciona-se com a busca de Deus e da novidade de sua proposta. É a busca de sentido ao que se é e ao que se faz; ao que anima e sustenta o cotidiano; ao que dá força para caminhar; às motivações profundas das opções que se tomam.
Celebrar é comprometer-se com a presença do Cristo, no dia-a-dia , na pessoa do outro. É viver uma espiritualidade encarnada, histórica e incorporada nos acontecimentos da vida pessoal (afetividade, sexualidade, vocações...) e social (família, trabalho, amizade, escola, cultura, política, economia...). Uma espiritualidade inculturada, que assume as formas e os conteúdos das relações criadas pelo próprio povo, e uma espiritualidade comprometida, é que dão significado novo aos acontecimentos e à cultura a partir da perspectiva da opção preferencial pelos pobres, com sentido libertador.
Em 95 a PJB definiu o projeto espiritualidade e assumiu as liturgias jovens, a Leitura Orante da Bíblia e o Ofício Divino das Comunidades como maneiras concretas de alimentar a mística e a espiritualidade dos jovens da PJB.
Da Leitura Orante já falamos acima

A - Ofício Divino das Comunidades (ODC):
Desde o início as Comunidades Cristãs se reúnem para cantar os salmos e proclamar o louvor de Deus. Esta oração do povo de Deus é a própria oração de Jesus Cristo, que se prolonga na Igreja. Nela expressamos por palavras e gestos, que as horas do dia, o nosso viver, toda a criação e toda história pertencem a Deus. O ODC possibilita que nos situemos dentro da grande tradição litúrgica da Igreja e, ao mesmo tempo, nos insere na realidade cultural e religiosa do povo.
Cantando os salmos, escutando a Palavra de Deus e respondendo nas preces, as comunidades, os grupos de jovens e o jovem que reza recebem força para dar testemunho do Cristo Libertador.
A PJ do Brasil assumiu esta maneira de rezar e celebrar a vida porque o ODC ajuda os grupos de jovens e os militantes e assessores a se organizarem melhor a oração e sua vida de oração, dando-lhe um melhor conteúdo e forma, sem tirar a criatividade e a liberdade de expressão.
É importante que os grupos de jovens tenham à mão o Ofício Divino das Comunidades, para iluminar e alimentar sua mística. É importante que assessores e militantes da PJ do Brasil tenham o Ofício Divino das Comunidades para alimentar sua espiritualidade.
B - Oração na Comunidade:
O ODC poder ser rezado também nas comunidades. É fundamental que o grupo de jovens não perca o contato e relação com a vida da Comunidade Eclesial em que está inserido.
Na Comunidade o jovem cristão alimenta sua vida de fé, nas celebrações da palavra e da Eucaristia.
C - Oração Pessoal:
Os jovens da PJ do Brasil buscam estar sempre em comunhão com Deus. Desta forma os jovens “tiram” do seu tempo um momento significativo do dia para rezar, dialogar com Deus e sentir seu profundo amor. A oração pessoal é a “seiva” de toda ação e espiritualidade. É impossível viver feliz se interiormente não se cultiva o ser, as motivações e os princípios da fé. O que falta são, muitas vezes, motivadores que desafiem e ajudem o jovem a descobrir estas formas de contato com Deus.
Um método de oração pessoal é a Leitura Orante da Bíblia, de que já falamos . A oração pessoal diária é indispensável na vida cristã dos jovens da PJB: “Não pudestes vigiar pelo menos uma hora comigo” (Mt 26,40), diz Jesus.
D - Outras formas de Celebração:
A PJ do Brasil tem ainda outros momentos fortes de celebrações como:
- Retiros
- DNJ...

Dia Nacional da Juventude - DNJ
O Dia Nacional da Juventude celebrado no último domingo do mês de outubro de cada ano, é um dos momentos fortes na caminhada da Pastoral da Juventude do Brasil. É nesta data em que o jovem comemora o seu dia, que em todo país os jovens promovem celebrações que reúnem massivamente a juventude, onde o próprio jovem celebra a gratuidade de Deus e sua caminhada profética. De forma muito festiva e alegre, o jovem mostra sua forma dinâmica de ser, nas ruas, nas praças e nos ginásios. É um momento forte de evangelização, de comunhão eclesial e de renovação no seguimento de Jesus e no anúncio missionário de seu Reino.

Retiros
As “paradas”, os “desertos” e os “ dias de oração” são considerados importantes na Igreja e na PJ do Brasil, para que o jovem olhe para si mesmo, encontre-se com Deus , retome a caminhada de forma mais aprofundada e renove as forças, para uma ação mais sólida e frutuosa.
Os retiros não são momentos de refúgio nem de fuga da realidade. Será muito importante cuidar que não se transmita a idéia de que, para encontrar-se com Deus, é necessário sair da vida diária, afastar-se do mundo e criar um ambiente especial, muitas vezes muito acolhedor, porém também muitas vezes artificial. Os retiros possuem sua base nas orientações teológicas, pedagógicas, metodológicas e de espiritualidade, que animam o processo de educação na fé que os jovens vivem normalmente nos grupos. Por isso partem da vida e da experiência grupal e se preocupam por voltar a ela, já que os retiros não encontram sua finalidade em si mesmos, mas em estar oferecendo um maior aprofundamento e vivência do seguimento de Jesus e de um compromisso mais radical com o mundo e com a história.

Romarias e caminhadas
O Povo de Deus está sempre em romaria! Também a juventude. Participar das romarias e caminhadas fortalece e sustenta a ação do jovem. Comprometer-se com as lutas e as buscas do povo é perceber com singeleza, a proposta do projeto de vida. Ali se recordam os mártires da caminhada: pessoas que derramaram seu sangue pela vida dos pobres. No caminhar, os jovens se encontram com o Deus da vida, que também se afirmou no caminho. É a afirmação e mística que somos feitos para andar, anunciar, denunciar, transformar e celebrar.

Vigílias
São momentos que fortalecem os sinais de vida e esperança do grupo. Cada pessoa, com sua experiência engajada e compromissada, celebra e contribui, de maneira indispensável, para o crescimento de todos. O jovem gosta da noite, de ficar acordado. É preciso valorizar muito as vigílias.

Congressos, jornadas, missões...
Outros momentos forte na Pastoral da Juventude do Brasil são os Congressos de jovens, as jornadas da juventude, os acampamentos juvenis e as missões jovens, que entre outros, são atitudes de criatividade e coragem para propor novos caminhos. Cultivando uma atitude de fortaleza e perseverança diante das adversidades e conflitos do mundo, sendo sinal do Reino. Nestes acontecimentos fé e vida se alimentam mutuamente.

3) Vivência do Amor e da Alegria
Assim diz Puebla - 1205: “ Seja a Pastoral Juvenil uma pastoral da alegria e da esperança, que transmita a mensagem alegre da salvação a um mundo muitas vezes triste, oprimido e desesperado, em busca da sua libertação”.
A descoberta de um Deus próximo e amigo, na pessoa de Jesus, faz o jovem sentir-se irmão e motivar-se para uma profunda fé , vivendo um processo de amadurecimento que parte de sua própria fé de criança e vai até uma relação mais adulta com este Deus. Um Deus que é “Emanuel”, que é amigo e confidente. Um Deus que é Pai e Mãe.
Todo ser humano tem inspirações e motivações para sua vida. As múltiplas experiências religiosas que existem formam parte dos variados caminhos pelos quais a humanidade busca incessantemente chegar ao encontro com Deus . Optar pelo seguimento de Jesus Cristo é viver conforme o espírito das bem - aventuranças (Mt 5, 1ss).
No chamado a sair fora das fronteiras de seus grupos, de suas comunidades, de suas paróquias ou dioceses, inclusive de seus países, a Igreja reconhece um sinal da confiança de Deus na capacidade dos jovens de se entregaram a serviço do Evangelho. A partir de suas experiências de missão, os jovens vão descobrindo e testemunhando que “é transmitindo a fé, que esta se fortalece!”. A enorme quantidade de jovens que não conhecem Jesus e aos quais não chegou, ainda, o anúncio libertador do Evangelho, é um desafio que exige um renovado entusiasmo e a busca de formas criativas para uma Pastoral da Juventude missionária que torne possível o anúncio do Evangelho às grandes massas juvenis. O sair de si é a grande novidade que o jovem vai aprendendo a viver porque, na sua raiz, Deus não o quer fechado em seu mundo.
E é nestas experiências missionárias, vivificadas no seu dia-a-dia , com sua família, com seus amigos e mesmo com pessoas estranhas que necessitam de sua ajuda, o jovem vai transmitindo e reafirmando que a vivência do amor de todos é o maior de todos os mandamentos de Deus, assim como disse Jesus: “Amai-vos uns aos outros como eu vos tenho amado” (Jo 15,12).
Assim o jovem cultiva sua ligação profunda com o mistério de Deus em Cristo, pela fé vivida no quotidiano de suas tarefas humanas; alimenta essa fé na celebração da Palavra e dos sacramentos; e se fortalece desta forma, para o serviço ao mundo, articulando dons, carismas e ministérios.


4) Vivência do Ecumenismo
Para a PJ do Brasil a Palavra de Deus, a Celebração e a vivência do amor e da alegria só serão plenas se houver ecumenismo e diálogo.
A solicitude na busca da união vale para toda a Igreja, para os fiéis e para os pastores. Afeta a cada um em particular, de acordo com sua capacidade, quer na vida cristã quotidiana, quer nas investigações teológicas e históricas. Então não poderíamos falar em uma verdadeira espiritualidade, sem mencionar a questão do ecumenismo, como princípio básico da vivência da fraternidade e do amor entre os cristãos.
Não há verdadeiro ecumenismo sem conversão interna. Pois os anseios de unidade nascem e amadurecem da renovação da mente (cf. Ef 4,24), da abnegação de si mesmo e da libérrima efusão da caridade. Por isso devemos implorar do Espírito divino a graça da sincera abnegação, humildade e mansidão no servir, e uma atitude de fraterna generosidade para com os outros. “Portanto - diz o Apóstolo das gentes - eu, prisioneiro do Senhor, vos rogo que andeis digno da vocação à qual fostes chamados, com toda a humildade e mansidão, com paciência, suportando-vos uns aos outros em caridade, e esforçando-vos solicitamente por conservar a unidade do Espírito no vínculo da paz (Ef 4, 1-3).
O ecumenismo e o diálogo com o diferente e novo é elemento constitutivo do Marco Celebrativo da PJ do Brasil.

Para pensar:
Que espaço eu e meu grupo de jovens damos à Palavra de Deus, à Celebração, à vivência do amor e ao ecumenismo?




CONCLUSÃO

Os Marcos Situacional, Doutrinal, Histórico, Operativo e Celebrativo da PJ do Brasil, trazem elementos importantes para a caminhada dos grupos de jovens de nosso país.
O Marco Referencial foi elaborado com muito trabalho, tempo, dedicação e empenho de muita gente que ama a causa da juventude.
Este material precisa ser constantemente renovado, atualizado e adaptado a cada realidade deste país.
Cabe à você esta tarefa.