sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

JUVENTUDE IN FOCO-PROJETO ORIENTADOR DAS ESCOLAS DE FORMAÇÃO DA PASTORAL DA JUVENTUDE DIOCESE DE CHAPECO

PROJETO ORIENTADOR DAS ESCOLAS DE FORMAÇÃO DA PASTORAL DA JUVENTUDE
DIOCESE DE CHAPECO
INTRODUÇÃO
“E Jesus crescia em sabedoria, em estatura e graça,
diante de Deus e dos homens” (Lucas 2, 5).
A Pastoral da Juventude da Diocese de Chapecó realizou sua 4ª Assembléia Diocesana em
dezembro de 2006. Entre as prioridades escolhidas pela assembléia está o fortalecimento e a ampliação
dos espaços formativos para a Juventude.
Este projeto é uma das ações para orientar a organização e dinamização das Escolas de Formação
da PJ. Um espaço que, junto com os Encontros, se configura como um meio privilegiado para a formação
de militantes juvenis, conscientes de seu papel na construção da Civilização do Amor
1
.
Destacamos também a importância do projeto considerar a formação para a juventude de forma
processual e contínua, respeitando as etapas de crescimento e amadurecimento do jovem na Pastoral, bem
como, todas as dimensões do processo de formação integral. Segundo o Documento 85 da CNBB –
“Evangelização da juventude: desafios e perspectivas pastorais” – a formação da juventude deve ser
integral. Isto é, ela deve contemplar as cinco dimensões da pessoa do/a jovem: psicoafetiva, psicossocial,
mística, político-ecológica e capacitação. Não pode ser reduzida a uma “proposta psicologizante,
espiritualista ou politizante”
2
.
Partindo destas necessidades e dos indicativos da 4ª Assembléia Diocesana da PJ elaboramos o
“Projeto Orientador das Escolas de Formação da PJ na Diocese de Chapecó”, que apresenta o
objetivo da formação para a juventude na diocese, os indicativos metodológicos para a realização das
escolas e os temas a serem abordados, seguindo 6 etapas: Juventude, identidade e Desenvolvimento;
Juventude e Sociedade; Juventude e Espiritualidade; Juventude e Igreja; Juventude Política e Cidadania;
Juventude e Protagonismo. Indica-se também bibliografias para pesquisa e leitura, que contribuirão para o
conhecimento/aprofundamento da realidade da juventude e demais aspectos importantes para o processo
de evangelização.
Este subsídio deve ser cuidadosamente refletido e adaptado às realidades específicas das paróquias
e RPs. Sua finalidade é orientar e contribuir com a formação da juventude, prioridade do Plano de
Pastoral da Diocese de Chapecó.
1
“A civilização do amor é ‘aquele conjunto de condições morais, civis e econômicas que permite ã vida humana uma condição
melhor de existência, uma racionalidade plena e um feliz destino eterno’(Paulo VI, discurso de encerramento do Ano Santo, 25
de dezembro de 1975.): dignidade, libertação, pleno desenvolvimento de toda pessoa e da pessoa toda, nova cultura da vida e
da solidariedade, verdade, justiça e liberdade plenificadas pelo amor.” (CELAM, Civilização do amor – tarefa e esperança, p.
148.)
2
CNBB. Evangelização da juventude: desafios e perspectivas pastorais, n° 96.
1JUSTIFICATIVA
A juventude traz a marca do dinamismo, da força, da energia, do vigor e da criatividade.
Características estas que a Igreja necessita para realizar a sua missão evangelizadora. A Conferência de
Aparecida no parágrafo 443 cita o/a jovem como representante de um grande potencial para o presente e
futuro da Igreja, desempenhando assim a função de ser discípulo e missionário do Senhor Jesus.
Para realizar esta missão os/as jovens encontram dificuldades. Podemos citar, entre outras, a
disparidade de acesso à renda, à educação de qualidade, ao mercado de trabalho, com o desemprego, o
mundo das drogas, a violência no campo e na cidade, o êxodo rural, o limitado acesso às atividades
esportivas, lúdicas e culturais.
Em meio a esta realidade alguns setores da sociedade se preocupam com a emancipação do/a
jovem. Outros, de forma mais aguerrida, desejam manter a juventude alienada, considerando-a como
público consumidor e mão-de-obra para exploração.
São poucas as ações voltadas para a juventude em suas realidades e necessidades específicas, seja
no espaço das cidades, com suas periferias, ou no meio rural, com o sério problema do êxodo juvenil.
Segundo a Organização Internacional da Juventude jovem é aquele ou aquela que possui idade
entre 14 e 24 anos. No Brasil há 34.081.330 milhões, sendo que 17.939.815 milhões de 15 a 19 anos e
16.141.515 milhões de 20 a 24 anos
3
De acordo com estes dados a juventude representa 20% da .
sociedade brasileira. Se considerássemos jovens as pessoas com idade até 29 anos, teríamos 47 milhões
de jovens no Brasil, sendo que 80% destes vivem nas cidades e 20% no campo.
Na região de abrangência da Diocese de Chapecó os indicadores da população jovem e dos
problemas da juventude refletem os dados a nível nacional. A juventude, aqui, também sofre com a falta
de trabalho e com as dificuldades na agricultura familiar. Muitos/as migram para as cidades aumentando
o êxodo rural e agravando a questão social nas cidades maiores que não possuem condições adequadas
para acolhê-los. Gradativamente, vemos aumentar os índices de violência, pobreza, analfabetismo e
inadequada condição de acesso ao ensino superior.
No campo religioso o perfil do/a jovem não é diferente dos adultos. Segundo dados do Censo de
2000, entre os jovens de 15 e 24 anos de idade, 73,6% são católicos. Há uma expressiva presença de
jovens em diversos serviços pastorais e eclesiais, em especial nos grupos de jovens, espaço de
discernimento, partilha de sonhos, projetos, angústias e talentos.
A atuação da Pastoral da Juventude na Diocese de Chapecó se dá a partir desta realidade com o objetivo
de “dinamizar a evangelização da juventude [...] em suas diferentes realidades, tendo presente o
protagonismo juvenil, a diversidade cultural e a formação integral, contribuindo assim para a formação da
nova pessoa, da Igreja e da sociedade, em vista do Reino de Deus”
4
.
3
Dados do Censo - http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2000/tabelabrasil111.shtm
4
Diocese de Chapecó. Plano Diocesano de Pastoral, p.15.
2A formação é fundamental para se fazer um trabalho efetivo que leve à mudança de uma
realidade, à organização das comunidades e grupos e ao engajamento nos espaços de participação na
sociedade.
Conforme o Plano Diocesano de Pastoral (2006-2009) a formação de lideranças, escolhida como
uma das prioridades diocesanas, deve “comprometer-se com a formação inicial e permanente das
lideranças em todos os níveis, [...] capacitando-as no exercício de seu ministério, para serem sujeitos de
transformação”
5
.
O Documento de Aparecida vem reforçar a necessidade da formação do/a jovem. No parágrafo
446 menciona que “a pastoral da Juventude ajudará os jovens a se formar de maneira gradual para a ação
social e política e a mudança de estruturas conforme a Doutrina Social da Igreja fazendo própria a opção
preferencial evangélica pelos pobres e necessitados”.
Essa formação deve ser contínua, planejada e refletida com a juventude, público específico da
formação, observando as fases de amadurecimento da juventude. Portanto, ela deve ser popular e
participativa.
A partir da importância e da necessidade de um processo formativo para a Juventude elaboramos
este projeto com o objetivo de orientar as Escolas de Formação da PJ na sua organização e dinamização -
sejam elas paroquiais ou regionais.
Este projeto é um instrumento para desafiar as equipes paroquiais, as coordenações da PJ e demais
pessoas que trabalham com a juventude a planejar as Escolas de Formação como um espaço gerador do
protagonismo jovem na construção do Reino de Deus.
OBJETIVO GERAL
Proporcionar à juventude um espaço de aprofundamento da fé cristã, visando um processo de
formação integral, ajudando-a a realizar de forma mais clara e comprometida sua opção, em vista da
construção da Civilização do Amor.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
• Compreender melhor a pessoa do/a jovem, em suas dimensões e anseios, na busca da construção
de sua identidade, bem como o contexto em que ela vive;
• Perceber e aprofundar a espiritualidade cristã na juventude;
• Provocar a juventude para uma consciência eclesial e sócio-política mais lúcida e proféticolibertadora;
• Ajudar a juventude na formação de uma personalidade engajada e protagonista;
5
Diocese de Chapecó. Plano Diocesano de Pastoral, p.16.
3• Despertar e orientar o/a jovem no sentido da opção por um projeto pessoal de vida, a partir dos
valores humanos e cristãos.
1- PRINCÍPIOS METODOLÓGICOS
6
Entendemos por metodologia a mística da ação. Em outras palavras, é a espiritualidade das escolas.
Apontamos a seguir alguns princípios metodológicos para orientar a ação evangelizadora da juventude.
a) O ser humano como ser em construção
O ser humano é um ser inconcluso. Ele não está acabado, mas em construção. Isto fundamenta a
busca pela formação permanente. Sempre há algo novo para aprender ou para ser reconstruído. As
Escolas de Formação são um dos meios de construção do processo de capacitação dos/as participantes da
Pastoral da Juventude.
b) Opção
Opção “é entendida como sendo o ato de fazer uma escolha livre ou conceder preferência a alguém”
7
.
Optar significa conceder primado a alguém ou para algo. Para isso, renuncia-se em vista do escolhido, que está a
frente, pois passou a ser o principal objeto de busca. O/a jovem precisa optar pela Escola de Formação. Querer
fazer parte e, consequentemente, ser responsável pela caminhada que será trilhada.
c) Participação
Participar é fazer ou sentir-se responsável por uma ação. Isto não absolutiza o/a jovem como único ser
participante da ação, mas implica na abertura deste em aceitar que outras partes também participem. É
possibilitar a construção de um processo onde todos sejam sujeitos da ação.
O/a jovem que participa entra na ação, isto é, compromete-se com ela. Ele/a, como sujeito, deve se
sentir responsável, juntamente com as outras partes, pela concretização dos objetivos da ação. A
participação é requisito para a construção da responsabilidade. Desta forma, percebe-se que “os resultados
de uma ação pertencem a todas as partes em ação. Por isso, a grandeza ou o fracasso de uma ação é a
grandeza ou o fracasso de suas partes”
8
.
A Escola de Formação, portanto, quer ser um espaço onde jovem, coordenação, assessoria,
paróquias, regiões pastorais... todos/as sejam participantes e co-responsáveis pelo processo.
d) Caminhar com...
6
A construção dos princípios metodológicos se utilizou da Metodologia Histórico Evangelizadora (MHE) trabalhada pelo
Instituto de Teologia de Passo Fundo (Itepa) na disciplina de Metodologia e Prática Pastoral (MPP).
7
Volmir RALDI. Revista Caminhando com o Itepa. 1996, p. 39.
8
Elli BENINCÁ, Princípios pedagógicos (mimeo).
4O texto de Lc 24,13-35 – Os Discípulos de Emaús – revela a metodologia de Jesus no processo de
formação e animação de sua comunidade. Os passos metodológicos de Jesus, que também estão presentes
em outros textos bíblicos (Jo 4,1-42; 10,1-21), são fundamento para o exercício do ministério de
animadores/as e articuladores/as da Pastoral da Juventude.
No texto de Emaús destacam-se os seguintes passos metodológicos:
• Aproximar-se das pessoas e caminhar com elas;
• Interessar-se e ouvir com atenção as pessoas;
• Fazer memória histórica;
• Entrar na casa e conhecer a família – sentar-se à mesa;
• Provocar para a missão;
• Formar comunidade.
Portanto, as pessoas que participam das Escolas de Formação devem estar atentas, próximas e
sensíveis à realidade da juventude. Não basta ser jovem. É preciso querer caminhar com a juventude.
Comungar com seu jeito de ser, crer e viver.
e) Fazer processo de evangelização
A realidade atual coloca o/a jovem diante de uma dinâmica acelerada de mudanças. Esta mudança
acontece tanto na questão física-geográfica, como nos interesses e motivações. Fato que rompe com a
continuidade de experiências e as colocam na perspectiva da transitoriedade.
A Escola de Formação tem como princípio, mesmo diante dos desafios, provocar o/a jovem a
construir um processo de evangelização. Isto é, que o/a jovem participe ativamente do processo de
evangelização que é a Escola de Formação. Isto, porém, supõe a construção de estratégias motivacionais
por parte da coordenação e a opção e o compromisso do/a jovem.
PROGRAMA DAS ETAPAS DE FORMAÇÃO
1ª ETAPA – Juventude, Identidade e Desenvolvimento
• O jovem e o chamado de Deus
• A arte de conhecer-se e amar-se como pessoa
• Compreendendo o ser humano e as etapas de desenvolvimento
• A construção da identidade
• Afetividade e sexualidade
• Relações interpessoais: seus desafios e contribuições na construção da identidade juvenil
• Amizade/Namoro: um debate sobre concepções e valores
2ª ETAPA – Juventude e Sociedade
• Chamados a viver em comunidade
• Falando sobre o perfil do jovem na atualidade
• Desafios da comunidade global
5• A juventude e suas relações com a arte e a cultura
• Mídia e cultura juvenil
3ª ETAPA – Juventude e Espiritualidade
• Uma vida segundo o Espírito, no seguimento de Jesus
• Características da espiritualidade juvenil
• O divino no jovem
• A celebração da vida e da fé
• Introdução à Bíblia e leitura orante da Bíblia
• Oração/Maneiras de oração
• Como o jovem pode rezar hoje
4ª ETAPA – Juventude e Igreja
• Conhecendo a nossa fé
• O jovem e a Igreja
• Vocação na Igreja
• Documentos da Igreja
5ª ETAPA – Juventude, Política e Cidadania
• Cidadania e direitos
• Movimentos sociais
• Demandas e políticas sociais
• Espaços de poder e decisão
6ª ETAPA – Juventude e Protagonismo
• O exercício da liderança
• A Pastoral da Juventude e o Grupo
• Opções e metodologia da Pastoral da Juventude
• Métodos de trabalho com a juventude
• Dinâmicas de grupo
• Planejamento participativo pastoral
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
- BALBINOT, Rodinei. Pedagogia do caminho: uma leitura da prática de Jesus. In. Revista
Caminhando com o Itepa, n° 80, março de 2006.
- BENINCÁ, Elli. Pedagogia pastoral: metodologia histórico-evangelizadora. In. Itepa: história e
perspectivas. Passo Fundo, 2005.
- BORAN, Jorge. Juventude O Grande Desafio.Editora: Paulinas
- BORAN, Jorge. Os desafios pastorais de uma nova era. Estratégias para fortalecer uma fé
comprometida. São Paulo: Paulinas.
- CELAM. Civilização do amor: tarefa e esperança. Ed Paulinas, 1997.
- CELAM. Espiritualidade de missão da pastoral da juventude. Ed CCJ, 1996.
- CELAN: CNBB. Projeto de Vida: Caminho vocacional da juventude latino americana. Ed CCJ, 2003.
- CELAM. Civilização do Amor: tarefa e esperança: orientações para a pastoral da juventude LatinoAmericana. São Paulo: Paulinas, 1997.
- CNBB. Temas da doutrina Social da Igreja. Vol. I, II e III. São Paulo, ed Paulinas, 2006.
6- CNBB. Evangelização da juventude: desafios e perspectivas pastorais. São Paulo, ed. Paulinas,
2007.
- DICK, Hilário. Cartas a Neotéfilo: Conversas Sobre Assessoria para Grupos de Jovens. Loyola
- DICK, Hilário. Gritos Silenciados, Mas Evidentes. Loyola
- DICK, Hilário. O caminho se faz caminhando: história da pstoral da juventude do Brasil. Ed IPJ,
1999.
- DICK, Hilário. O divino no jovem: elementos teologais para a evangelização da cultura juvenil. Ed
IPJ, 2006.
- DIMENSTEIN, Gilberto. Aprendiz do futuro: cidadania hoje e amanhã. São Paulo: Ed. Ática, 1998.
- Estatuto da criança e do adolescente, 1990 (Lei n° 8069, de 13 de julho de 1990): convenção sobre os
direitos da criança. Departamento da Criança e do Adolescente Secretaria de Estado dos Direitos
Humanos, Fundo das Nações Unidas para a Infância. Brasília: Ministério da Justiça, 2002.
- GROPPO. Luís Antônio. Juventude: Ensaios Sobre Sociologia e História das Juventudes Modernas.
- Introdução Geral a Bíblia (apostila).
- LIBÂNIO. João Batista. Jovens em tempo de pós-modernidade considerações socioculturais e
pastorais. Edições Loyola.
- MESTERS, Carlos. Curso bíblico. Vol. I e II. Ed CCJ, 1999.
- POCHMANN, Marcio. A batalha pelo primeiro emprego. São Paulo: Publisher, 2000.
- TEIXEIRA, Carmem Lúcia (org.). Marcando história: elementos para construir um projeto de vida.
Ed CCJ/CAJU, 2005.
- TEIXEIRA, Carmem Lúcia (org.). Passos na travessia da fé: metodologia e mística na formação
integral da juventude. Ed CCJ/CAJU, 2005.
- TEIXEIRA, Carmem Lúcia. Como dinamizar um grupo de jovens. Col. Na trila do grupo de jovens.
Ed. CCJ, 2007.
- UNESCO. Políticas públicas de/para/com juventudes. Brasília: UNESCO, 2004.
- VENTURI, Gustavo e ABRAMO, Helena. Juventude, política e cultura. Teoria e Debate. São Paulo:
Fundação Perseu Abramo
- Texto base do Curso de Verão do CESEP 2008 “Juventude na Construção do Outro Mundo Possível”
7

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