PROJETO ORIENTADOR DAS ESCOLAS DE FORMAÇÃO DA PASTORAL DA JUVENTUDE
DIOCESE DE CHAPECO
INTRODUÇÃO
“E Jesus crescia em sabedoria, em estatura e graça,
diante de Deus e dos homens” (Lucas 2, 5).
A Pastoral da Juventude da Diocese de Chapecó realizou sua 4ª Assembléia Diocesana em
dezembro de 2006. Entre as prioridades escolhidas pela assembléia está o fortalecimento e a ampliação
dos espaços formativos para a Juventude.
Este projeto é uma das ações para orientar a organização e dinamização das Escolas de Formação
da PJ. Um espaço que, junto com os Encontros, se configura como um meio privilegiado para a formação
de militantes juvenis, conscientes de seu papel na construção da Civilização do Amor
1
.
Destacamos também a importância do projeto considerar a formação para a juventude de forma
processual e contínua, respeitando as etapas de crescimento e amadurecimento do jovem na Pastoral, bem
como, todas as dimensões do processo de formação integral. Segundo o Documento 85 da CNBB –
“Evangelização da juventude: desafios e perspectivas pastorais” – a formação da juventude deve ser
integral. Isto é, ela deve contemplar as cinco dimensões da pessoa do/a jovem: psicoafetiva, psicossocial,
mística, político-ecológica e capacitação. Não pode ser reduzida a uma “proposta psicologizante,
espiritualista ou politizante”
2
.
Partindo destas necessidades e dos indicativos da 4ª Assembléia Diocesana da PJ elaboramos o
“Projeto Orientador das Escolas de Formação da PJ na Diocese de Chapecó”, que apresenta o
objetivo da formação para a juventude na diocese, os indicativos metodológicos para a realização das
escolas e os temas a serem abordados, seguindo 6 etapas: Juventude, identidade e Desenvolvimento;
Juventude e Sociedade; Juventude e Espiritualidade; Juventude e Igreja; Juventude Política e Cidadania;
Juventude e Protagonismo. Indica-se também bibliografias para pesquisa e leitura, que contribuirão para o
conhecimento/aprofundamento da realidade da juventude e demais aspectos importantes para o processo
de evangelização.
Este subsídio deve ser cuidadosamente refletido e adaptado às realidades específicas das paróquias
e RPs. Sua finalidade é orientar e contribuir com a formação da juventude, prioridade do Plano de
Pastoral da Diocese de Chapecó.
1
“A civilização do amor é ‘aquele conjunto de condições morais, civis e econômicas que permite ã vida humana uma condição
melhor de existência, uma racionalidade plena e um feliz destino eterno’(Paulo VI, discurso de encerramento do Ano Santo, 25
de dezembro de 1975.): dignidade, libertação, pleno desenvolvimento de toda pessoa e da pessoa toda, nova cultura da vida e
da solidariedade, verdade, justiça e liberdade plenificadas pelo amor.” (CELAM, Civilização do amor – tarefa e esperança, p.
148.)
2
CNBB. Evangelização da juventude: desafios e perspectivas pastorais, n° 96.
1JUSTIFICATIVA
A juventude traz a marca do dinamismo, da força, da energia, do vigor e da criatividade.
Características estas que a Igreja necessita para realizar a sua missão evangelizadora. A Conferência de
Aparecida no parágrafo 443 cita o/a jovem como representante de um grande potencial para o presente e
futuro da Igreja, desempenhando assim a função de ser discípulo e missionário do Senhor Jesus.
Para realizar esta missão os/as jovens encontram dificuldades. Podemos citar, entre outras, a
disparidade de acesso à renda, à educação de qualidade, ao mercado de trabalho, com o desemprego, o
mundo das drogas, a violência no campo e na cidade, o êxodo rural, o limitado acesso às atividades
esportivas, lúdicas e culturais.
Em meio a esta realidade alguns setores da sociedade se preocupam com a emancipação do/a
jovem. Outros, de forma mais aguerrida, desejam manter a juventude alienada, considerando-a como
público consumidor e mão-de-obra para exploração.
São poucas as ações voltadas para a juventude em suas realidades e necessidades específicas, seja
no espaço das cidades, com suas periferias, ou no meio rural, com o sério problema do êxodo juvenil.
Segundo a Organização Internacional da Juventude jovem é aquele ou aquela que possui idade
entre 14 e 24 anos. No Brasil há 34.081.330 milhões, sendo que 17.939.815 milhões de 15 a 19 anos e
16.141.515 milhões de 20 a 24 anos
3
De acordo com estes dados a juventude representa 20% da .
sociedade brasileira. Se considerássemos jovens as pessoas com idade até 29 anos, teríamos 47 milhões
de jovens no Brasil, sendo que 80% destes vivem nas cidades e 20% no campo.
Na região de abrangência da Diocese de Chapecó os indicadores da população jovem e dos
problemas da juventude refletem os dados a nível nacional. A juventude, aqui, também sofre com a falta
de trabalho e com as dificuldades na agricultura familiar. Muitos/as migram para as cidades aumentando
o êxodo rural e agravando a questão social nas cidades maiores que não possuem condições adequadas
para acolhê-los. Gradativamente, vemos aumentar os índices de violência, pobreza, analfabetismo e
inadequada condição de acesso ao ensino superior.
No campo religioso o perfil do/a jovem não é diferente dos adultos. Segundo dados do Censo de
2000, entre os jovens de 15 e 24 anos de idade, 73,6% são católicos. Há uma expressiva presença de
jovens em diversos serviços pastorais e eclesiais, em especial nos grupos de jovens, espaço de
discernimento, partilha de sonhos, projetos, angústias e talentos.
A atuação da Pastoral da Juventude na Diocese de Chapecó se dá a partir desta realidade com o objetivo
de “dinamizar a evangelização da juventude [...] em suas diferentes realidades, tendo presente o
protagonismo juvenil, a diversidade cultural e a formação integral, contribuindo assim para a formação da
nova pessoa, da Igreja e da sociedade, em vista do Reino de Deus”
4
.
3
Dados do Censo - http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2000/tabelabrasil111.shtm
4
Diocese de Chapecó. Plano Diocesano de Pastoral, p.15.
2A formação é fundamental para se fazer um trabalho efetivo que leve à mudança de uma
realidade, à organização das comunidades e grupos e ao engajamento nos espaços de participação na
sociedade.
Conforme o Plano Diocesano de Pastoral (2006-2009) a formação de lideranças, escolhida como
uma das prioridades diocesanas, deve “comprometer-se com a formação inicial e permanente das
lideranças em todos os níveis, [...] capacitando-as no exercício de seu ministério, para serem sujeitos de
transformação”
5
.
O Documento de Aparecida vem reforçar a necessidade da formação do/a jovem. No parágrafo
446 menciona que “a pastoral da Juventude ajudará os jovens a se formar de maneira gradual para a ação
social e política e a mudança de estruturas conforme a Doutrina Social da Igreja fazendo própria a opção
preferencial evangélica pelos pobres e necessitados”.
Essa formação deve ser contínua, planejada e refletida com a juventude, público específico da
formação, observando as fases de amadurecimento da juventude. Portanto, ela deve ser popular e
participativa.
A partir da importância e da necessidade de um processo formativo para a Juventude elaboramos
este projeto com o objetivo de orientar as Escolas de Formação da PJ na sua organização e dinamização -
sejam elas paroquiais ou regionais.
Este projeto é um instrumento para desafiar as equipes paroquiais, as coordenações da PJ e demais
pessoas que trabalham com a juventude a planejar as Escolas de Formação como um espaço gerador do
protagonismo jovem na construção do Reino de Deus.
OBJETIVO GERAL
Proporcionar à juventude um espaço de aprofundamento da fé cristã, visando um processo de
formação integral, ajudando-a a realizar de forma mais clara e comprometida sua opção, em vista da
construção da Civilização do Amor.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
• Compreender melhor a pessoa do/a jovem, em suas dimensões e anseios, na busca da construção
de sua identidade, bem como o contexto em que ela vive;
• Perceber e aprofundar a espiritualidade cristã na juventude;
• Provocar a juventude para uma consciência eclesial e sócio-política mais lúcida e proféticolibertadora;
• Ajudar a juventude na formação de uma personalidade engajada e protagonista;
5
Diocese de Chapecó. Plano Diocesano de Pastoral, p.16.
3• Despertar e orientar o/a jovem no sentido da opção por um projeto pessoal de vida, a partir dos
valores humanos e cristãos.
1- PRINCÍPIOS METODOLÓGICOS
6
Entendemos por metodologia a mística da ação. Em outras palavras, é a espiritualidade das escolas.
Apontamos a seguir alguns princípios metodológicos para orientar a ação evangelizadora da juventude.
a) O ser humano como ser em construção
O ser humano é um ser inconcluso. Ele não está acabado, mas em construção. Isto fundamenta a
busca pela formação permanente. Sempre há algo novo para aprender ou para ser reconstruído. As
Escolas de Formação são um dos meios de construção do processo de capacitação dos/as participantes da
Pastoral da Juventude.
b) Opção
Opção “é entendida como sendo o ato de fazer uma escolha livre ou conceder preferência a alguém”
7
.
Optar significa conceder primado a alguém ou para algo. Para isso, renuncia-se em vista do escolhido, que está a
frente, pois passou a ser o principal objeto de busca. O/a jovem precisa optar pela Escola de Formação. Querer
fazer parte e, consequentemente, ser responsável pela caminhada que será trilhada.
c) Participação
Participar é fazer ou sentir-se responsável por uma ação. Isto não absolutiza o/a jovem como único ser
participante da ação, mas implica na abertura deste em aceitar que outras partes também participem. É
possibilitar a construção de um processo onde todos sejam sujeitos da ação.
O/a jovem que participa entra na ação, isto é, compromete-se com ela. Ele/a, como sujeito, deve se
sentir responsável, juntamente com as outras partes, pela concretização dos objetivos da ação. A
participação é requisito para a construção da responsabilidade. Desta forma, percebe-se que “os resultados
de uma ação pertencem a todas as partes em ação. Por isso, a grandeza ou o fracasso de uma ação é a
grandeza ou o fracasso de suas partes”
8
.
A Escola de Formação, portanto, quer ser um espaço onde jovem, coordenação, assessoria,
paróquias, regiões pastorais... todos/as sejam participantes e co-responsáveis pelo processo.
d) Caminhar com...
6
A construção dos princípios metodológicos se utilizou da Metodologia Histórico Evangelizadora (MHE) trabalhada pelo
Instituto de Teologia de Passo Fundo (Itepa) na disciplina de Metodologia e Prática Pastoral (MPP).
7
Volmir RALDI. Revista Caminhando com o Itepa. 1996, p. 39.
8
Elli BENINCÁ, Princípios pedagógicos (mimeo).
4O texto de Lc 24,13-35 – Os Discípulos de Emaús – revela a metodologia de Jesus no processo de
formação e animação de sua comunidade. Os passos metodológicos de Jesus, que também estão presentes
em outros textos bíblicos (Jo 4,1-42; 10,1-21), são fundamento para o exercício do ministério de
animadores/as e articuladores/as da Pastoral da Juventude.
No texto de Emaús destacam-se os seguintes passos metodológicos:
• Aproximar-se das pessoas e caminhar com elas;
• Interessar-se e ouvir com atenção as pessoas;
• Fazer memória histórica;
• Entrar na casa e conhecer a família – sentar-se à mesa;
• Provocar para a missão;
• Formar comunidade.
Portanto, as pessoas que participam das Escolas de Formação devem estar atentas, próximas e
sensíveis à realidade da juventude. Não basta ser jovem. É preciso querer caminhar com a juventude.
Comungar com seu jeito de ser, crer e viver.
e) Fazer processo de evangelização
A realidade atual coloca o/a jovem diante de uma dinâmica acelerada de mudanças. Esta mudança
acontece tanto na questão física-geográfica, como nos interesses e motivações. Fato que rompe com a
continuidade de experiências e as colocam na perspectiva da transitoriedade.
A Escola de Formação tem como princípio, mesmo diante dos desafios, provocar o/a jovem a
construir um processo de evangelização. Isto é, que o/a jovem participe ativamente do processo de
evangelização que é a Escola de Formação. Isto, porém, supõe a construção de estratégias motivacionais
por parte da coordenação e a opção e o compromisso do/a jovem.
PROGRAMA DAS ETAPAS DE FORMAÇÃO
1ª ETAPA – Juventude, Identidade e Desenvolvimento
• O jovem e o chamado de Deus
• A arte de conhecer-se e amar-se como pessoa
• Compreendendo o ser humano e as etapas de desenvolvimento
• A construção da identidade
• Afetividade e sexualidade
• Relações interpessoais: seus desafios e contribuições na construção da identidade juvenil
• Amizade/Namoro: um debate sobre concepções e valores
2ª ETAPA – Juventude e Sociedade
• Chamados a viver em comunidade
• Falando sobre o perfil do jovem na atualidade
• Desafios da comunidade global
5• A juventude e suas relações com a arte e a cultura
• Mídia e cultura juvenil
3ª ETAPA – Juventude e Espiritualidade
• Uma vida segundo o Espírito, no seguimento de Jesus
• Características da espiritualidade juvenil
• O divino no jovem
• A celebração da vida e da fé
• Introdução à Bíblia e leitura orante da Bíblia
• Oração/Maneiras de oração
• Como o jovem pode rezar hoje
4ª ETAPA – Juventude e Igreja
• Conhecendo a nossa fé
• O jovem e a Igreja
• Vocação na Igreja
• Documentos da Igreja
5ª ETAPA – Juventude, Política e Cidadania
• Cidadania e direitos
• Movimentos sociais
• Demandas e políticas sociais
• Espaços de poder e decisão
6ª ETAPA – Juventude e Protagonismo
• O exercício da liderança
• A Pastoral da Juventude e o Grupo
• Opções e metodologia da Pastoral da Juventude
• Métodos de trabalho com a juventude
• Dinâmicas de grupo
• Planejamento participativo pastoral
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
- BALBINOT, Rodinei. Pedagogia do caminho: uma leitura da prática de Jesus. In. Revista
Caminhando com o Itepa, n° 80, março de 2006.
- BENINCÁ, Elli. Pedagogia pastoral: metodologia histórico-evangelizadora. In. Itepa: história e
perspectivas. Passo Fundo, 2005.
- BORAN, Jorge. Juventude O Grande Desafio.Editora: Paulinas
- BORAN, Jorge. Os desafios pastorais de uma nova era. Estratégias para fortalecer uma fé
comprometida. São Paulo: Paulinas.
- CELAM. Civilização do amor: tarefa e esperança. Ed Paulinas, 1997.
- CELAM. Espiritualidade de missão da pastoral da juventude. Ed CCJ, 1996.
- CELAN: CNBB. Projeto de Vida: Caminho vocacional da juventude latino americana. Ed CCJ, 2003.
- CELAM. Civilização do Amor: tarefa e esperança: orientações para a pastoral da juventude LatinoAmericana. São Paulo: Paulinas, 1997.
- CNBB. Temas da doutrina Social da Igreja. Vol. I, II e III. São Paulo, ed Paulinas, 2006.
6- CNBB. Evangelização da juventude: desafios e perspectivas pastorais. São Paulo, ed. Paulinas,
2007.
- DICK, Hilário. Cartas a Neotéfilo: Conversas Sobre Assessoria para Grupos de Jovens. Loyola
- DICK, Hilário. Gritos Silenciados, Mas Evidentes. Loyola
- DICK, Hilário. O caminho se faz caminhando: história da pstoral da juventude do Brasil. Ed IPJ,
1999.
- DICK, Hilário. O divino no jovem: elementos teologais para a evangelização da cultura juvenil. Ed
IPJ, 2006.
- DIMENSTEIN, Gilberto. Aprendiz do futuro: cidadania hoje e amanhã. São Paulo: Ed. Ática, 1998.
- Estatuto da criança e do adolescente, 1990 (Lei n° 8069, de 13 de julho de 1990): convenção sobre os
direitos da criança. Departamento da Criança e do Adolescente Secretaria de Estado dos Direitos
Humanos, Fundo das Nações Unidas para a Infância. Brasília: Ministério da Justiça, 2002.
- GROPPO. Luís Antônio. Juventude: Ensaios Sobre Sociologia e História das Juventudes Modernas.
- Introdução Geral a Bíblia (apostila).
- LIBÂNIO. João Batista. Jovens em tempo de pós-modernidade considerações socioculturais e
pastorais. Edições Loyola.
- MESTERS, Carlos. Curso bíblico. Vol. I e II. Ed CCJ, 1999.
- POCHMANN, Marcio. A batalha pelo primeiro emprego. São Paulo: Publisher, 2000.
- TEIXEIRA, Carmem Lúcia (org.). Marcando história: elementos para construir um projeto de vida.
Ed CCJ/CAJU, 2005.
- TEIXEIRA, Carmem Lúcia (org.). Passos na travessia da fé: metodologia e mística na formação
integral da juventude. Ed CCJ/CAJU, 2005.
- TEIXEIRA, Carmem Lúcia. Como dinamizar um grupo de jovens. Col. Na trila do grupo de jovens.
Ed. CCJ, 2007.
- UNESCO. Políticas públicas de/para/com juventudes. Brasília: UNESCO, 2004.
- VENTURI, Gustavo e ABRAMO, Helena. Juventude, política e cultura. Teoria e Debate. São Paulo:
Fundação Perseu Abramo
- Texto base do Curso de Verão do CESEP 2008 “Juventude na Construção do Outro Mundo Possível”
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